O Prêmio Nobel de Medicina de 2024 foi concedido a dois pesquisadores que há pelos menos três, décadas, se debruçam na busca pela compreensão sobre como as células do nosso organismo se organizam, regulam e expressão seu material genético. Nesse trajeto de pesquisa, eles descobriram os microRNAs.
Essas curtas sequências, contendo entre 17 e 25 nucleotídeos de RNA (Ácido Ribonucleico), conferiram a Victor Ambros e Gary Ruvkun, o mais alto prêmio concedido a cientistas que promoveram descobertas revolucionárias, nos mais diversos campos. Que saber o que são microRNAs e o motivo para eles serem tão importantes a ponto de valerem um Prêmio Nobel? Continue a leitura.
Os pesquisadores foram laureados por descobrirem a função regulatória pós-transcricional dos microRNAS na célula.Fonte: Getty Images
O que são microRNAs?
Todos nós possuímos uma receita. Desde o dia em que os cromossomos herdados parentalmente formaram você, suas células vem replicando seu código genético, o DNA, substituindo células mortas, curando cicatrizes e mantendo seu corpo em funcionamento.
No entanto, apesar de ser um bom depositário de informações, a conformação em dupla hélice das moléculas de DNA, não são facilmente “quebradas” para serem copiadas em novas sequências.
Nossas células realizam uma série de processos para que as moléculas de DNA possam ser copiadas e reproduzidas. Nesse processo, encontramos o RNA e sua fita simples, que se acopla a uma das fitas do DNA e faz sua transcrição. O resultado desse processo é a formação de um RNA mensageiro (mRNA), que levará a informação captada no núcleo até o citoplasma da célula.
No citoplasma celular, essa fita de RNA encontra uma organela chamada de ribossomo, que sintetizará uma proteína, conforme a instrução genética trazida pelo mRNA. E é nessa dança produtiva que o microRNA entra.
Os microRNAs em sua formação primária, parecem grampos.Fonte: Getty Images
A “fabricação” dos microRNAs também começa no núcleo celular, em um processo tão complexo quando as transcrições de DNA. Sua forma madura é levada do núcleo ao citoplasma, onde ele irá cumprir com a sua função.
Os miRNAs, são cadeias curtas formadas por conjunções de 17 a 25 ribonucleotideos. Eles foram observados pela primeira vez na década de 1990, em vermes do tipo Caenorhabditis elegans, pelos pesquisadores ganhadores do Nobel. Ao todo, já foram identificados 18 mil tipos de miRNA em 168 espécies diferentes. Existem aproximadamente 2,5 mil tipos de miRNA identificados no corpo humano.
O estudo dos miRNAs demonstraram que eles cumprem um papel crucial na expressão gênica das nossas células. Essas pequenas moléculas se acoplam no RNA mensageiro, é tem a capacidade de ativar ou desativar o mRNA, impedindo que as proteínas sejam expressas.
Mas, em contrapartida, o miRNA nem sempre é tão eficaz em desativar RNAs com potencial danoso ao nosso organismo, desempenhando papel oposto, estimulando a reprodução proteica.
Descoberta para o Nobel
Esse papel desempenhado pelos miRNAs na regulação gênica é uma das possíveis respostas sobre o motivo pelo qual nossas células são capazes de se diferenciar, mesmo todas possuindo o mesmo código genético.
Em contrapartida, esse mecanismo regulatório também seria um dos responsáveis na regulação contra o desenvolvimento de células cancerígenas, agindo após a transcrição errônea do mRNA, impedindo que ele produza proteínas potencialmente carcinogênicas.
Mas o mesmo microRNA pode atuar de maneiras diferentes, a depender do código portado pelo mRNA.Fonte: Getty Images
Todavia a regulação do microRNA é dependente do código genético portado pelo mRNA, e pode se ligar a mais de um tipo de molécula mensageira. Nesses casos, ao invés de gerar uma inibição no processo reprodutivo da célula, ele pode gerar um estímulo positivo, fazendo com que os ribossomos produzam proteínas em altas quantidades.
Essa mudança de papel, segundo alguns dados, poderia estar ligado a fatores epigenéticos, que contribuíram para expressão de genes “defeituosos”, já abrigados em nosso código genético.
Segundo alguns pesquisadores, faz-se crer que exista uma contribuição dos miRNAs na maioria dos processos patológicos desenvolvidos no corpo humano. Por isso, ele pode ser um alvo em potencial para o desenvolvimento de tratamentos gênicos.
Regulando quem regula, podemos obter melhores resultados, seja na prevenção, ou no desenvolvimento de terapias alvo para suspensão de reprodução celular, em casos de malignidade.
Nesses casos, a regulação também pode contribuir para a perpetuação do defeito no código.Fonte: Getty Images
Fato é que, apesar haverem cerca de 2,5 mil microRNAs identificados no corpo humano, ainda não sabemos o exato mecanismo de regulação efetuado por eles individualmente, assim como não compreendemos quais fatores eles reconhece como positivos ou negativos, inibindo ou estimulando a replicação. A “falha” da regulação do miRNA já pode ser observada em alguns tipos de cânceres.
Portanto, ainda há muito o que ser estudado e investigado em relação ao papel regulatório dos miRNAs e seu potencial como alvo terapêutico no combate contra o câncer e outras comorbidades relativas a doenças autoimunes.
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