O governo da Bolívia afirmou neste sábado (2) que ao menos 200 soldados estão detidos por apoiadores do ex-presidente Evo Morales. Os militares foram rendidos após o ataque na sexta-feira (1º) a três quartéis na região de Chapare, nos arredores de Cochabamba.
Segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores, os autores da ação “se apropriaram de armamento de guerra e munições”. Anteriormente, o governo havia informado que 20 soldados estavam retidos.
“Lembramos ainda que pegar em armas contra a pátria é considerado uma traição e um levante armado contra a segurança e a soberania do Estado”, prossegue o comunicado.
O pano de fundo da instabilidade na Bolívia é a disputa entre Evo e o presidente Luis Arce, antigos aliados e correligionários, pela indicação presidencial do MAS (Movimento ao Socialismo), partido de ambos, para as eleições do ano que vem. O desentendimento entre os dois causou um racha na sigla que se arrasta desde o ano passado.
Nos últimos 20 dias, manifestantes bloquearam diversas rodovias do país, causando prejuízo de ao menos US$ 1,7 bilhão (R$ 9,8 bilhões), segundo o governo —os protestos, iniciados após Evo desobedecer uma intimação do Ministério Público para depor, interromperam o fornecimento de alimentos e combustível em diversas partes do país.
O governo boliviano enviou as Forças Armadas para a região de Chapare para apoiar a polícia no desbloqueio das estradas bloqueadas.
Evo disse na sexta que iniciaria uma greve de fome para pressionar por uma negociação com o governo. “Para priorizar o diálogo, vou iniciar uma greve de fome até que o governo instale (…) mesas de diálogo.”
O ex-presidente está impedido de se candidatar desde dezembro do ano passado, quando o Tribunal Constitucional reverteu um entendimento anterior que liberava reeleições indefinidas no país —decisão que havia permitido ao ex-presidente vencer quatro eleições seguidas.
O temor dos manifestantes é que o antigo sindicalista, que governou de 2006 a 2019, seja alvo de um pedido de prisão. Evo é acusado de ter estuprado e engravidado uma adolescente em 2015, quando era presidente —um caso arquivado em 2020 e ressuscitado recentemente para impedi-lo de se candidatar, segundo sua defesa.