Frase racista pode mudar destino dos EUA e de Porto Rico – 02/11/2024 – Sylvia Colombo – EERBONUS
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Frase racista pode mudar destino dos EUA e de Porto Rico – 02/11/2024 – Sylvia Colombo

“Está acontecendo muita coisa. Eu não sei se você sabe, mas literalmente há uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano agora. Acho que se chama Porto Rico“, disse o comediante Tony Hinchcliffe, entre outras piadas racistas, no comício de campanha de Donald Trump no Madison Square Garden, no último domingo (27).

Talvez não seja possível mensurar, a poucos dias da votação, o efeito da frase racista entre os eleitores de origem latina nos EUA. O fato de que o assunto da independência da ilha, de sua soberania e de seus direitos políticos voltaram a ser um tema, porém, pode levar a novos desdobramentos que mudem, em algum momento, o status do território —hoje é estado livre associado, mas seus cidadãos não podem votar para presidente nem ter representantes com voz no Congresso. Há anos existe um movimento separatista na ilha.

Celebridades, intelectuais e artistas de origem latina saíram a defender os habitantes de Porto Rico, como a cantora Jennifer Lopez, americana de pais porto-riquenhos. “Puerto Rico esta en mi, carajo”, disse em ato em apoio a Kamala Harris. Ricky Martin foi mais direto: “Sempre pensaram assim de nós”.

À coluna, de seu exílio em Paris, o escritor porto-riquenho Hector Feliciano, que é a favor da independência total do território, afirma que a reação à truculência da piada do comediante pode ser um ponto de virada. Tanto para os eleitores latinos em geral, que podem acordar para o fato de que é assim que os norte-americanos se referem a eles, quanto para os porto-riquenhos.

“Somos cidadãos de segunda categoria, não votamos para presidente, não temos voz, e estão há mais de 120 anos apagando nossa cultura local, nosso idioma, nossa identidade. Eu sempre estive ao lado da independência e não me conformo em abrir mão só para ter um documento que me dá direitos distintos dos demais americanos”, diz Feliciano.

Uma das razões que entusiasma independentistas como Feliciano é o fato de que estão praticamente empatados os candidatos a governador do estado associado. Um deles é pró-independência, o outro é contra.

Porto Rico pertenceu à Coroa Espanhola desde a chegada de Cristóvão Colombo às Américas, em 1492. Foram quase quatro séculos de influência do idioma espanhol, das artes, da religião e das metrópoles. Em 1917, o Congresso dos EUA aprovou a Lei Jones, transformando o território em um estado da União, de Constituição própria, mas sujeito às decisões do Executivo e do Congresso em Washington.

Hoje, a diáspora porto-riquenha dentro dos EUA é maior que a da população das próprias ilhas. E estes, nascidos e estabelecidos no continente, têm sim o direito a voto. Portanto, sim, há a possibilidade de que o tiro do comediante Hinchcliffe possa ter saído pela culatra, causando real perda de votos para Donald Trump.

Existem 36 milhões de eleitores latinos nos EUA, segundo o Pew Research Center. Em Estados como Flórida, Carolina do Norte, Geórgia e Pensilvânia, os porto-riquenhos são o segundo subgrupo latino com mais importância para influenciar o resultado das urnas.

Independentistas como Feliciano veem não só a possibilidade de ajudar a derrotar a candidatura de Trump, como a de reabrir negociações e plebiscitos que, segundo ele, ocorreram de modo irregular para manter Porto Rico como parte dos EUA.


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