O dublador Wendel Bezerra registrou ontem (29) um boletim de ocorrência em uma delegacia de São Paulo por causa de uma inteligência artificial (IA). Mais especificamente, ele denunciou um serviço que está se apropriando indevidamente da sua própria voz.
De acordo com o relato de Bezerra no Instagram, ele prestou queixa contra um homem dono de uma espécie de loja digital que, mediante contratação, fornecia as vozes geradas por IA dele e de outros dubladores.
“Ele usa a inteligência artificial para que a nossa voz seja usada para qualquer coisa. O cara tem a loja de colchão do seu Zezinho, aí ele vai, compra a minha voz desse cara e aí sai uma locução com a minha voz”, explica.
Como o próprio Wendel aponta, essa é uma atividade que pode ser enquadrada como apropriação indébita e estelionato, em especial porque o material envolve produtos comercializados e um falso endosso. O caso é diferente de propagandas em que ele mesmo autoriza o uso de trechos ou faz uma gravação do zero.
“Eu não autorizei o uso da minha voz. (…) Quem usa as nossas vozes indevidamente está cometendo um crime“, reforça. Wendel é o responsável pelas vozes brasileiras de personagens icônicos como Goku, Bob Esponja, Cake Boss e Jackie Chan em um desenho animado, entre muitos outros. Ele também é diretor de dublagem e fundador do estúdio Unidub.
Ainda segundo o post, outros dubladores também estão acionando a polícia para casos parecidos.
Dubladores e a IA
Ao final do recado no Instagram, Wendel volta a falar de um tema recorrente na categoria: a importância de uma legislação que regulamente o uso de IA no Brasil e também a relação dela com a dublagem — tanto para o estabelecimento de contratos comerciais quanto para combater e punir casos de “deepfake de voz“, muito usados em fraudes ou comércio irregular.
“É importante pensar que hoje nós estamos falando de dubladores, mas amanhã pode ser qualquer pessoa. Podem estar usando a sua voz, a sua imagem para comercializar indevidamente”, conclui Bezerra.
Wendel Bezerra. (Imagem: Instagram Wendel Bezerra/Reprodução)Fonte: Instagram
Ele diz que não costuma prestar queixas contra vários conteúdos em tom de humor ou homenagem com as suas dublagens — mas nem todos os profissionais da área podem ter a mesma reação.
No começo deste ano, profissionais da voz no Brasil criaram uma campanha para apontar esses riscos, conseguir apoio popular e tentar a regulamentação em forma de lei.