A disseminação de teorias da conspiração sobre supostas fraudes eleitorais teve crescimento vertiginoso nos Estados Unidos na reta final da eleição presidencial, que será realizada em 5 de novembro.
Segundo levantamento da Newsguard, na semana passada foram detectados 15 novos temas falsos sobre roubo na eleição, que ganharam inúmeras versões e que são espalhados por meio de 963 sites e 793 contas em redes sociais.
Participam também na disseminação dessas denúncias inventadas ou não comprovadas 1.283 sites hiperpartidários que “fingem” ser noticiosos, com nomes parecidos com veículos tradicionais. O número de “mentiras novas” é mais do que o dobro da média semanal em agosto e setembro, que foi de seis.
Entre os principais impulsionadores de desinformação sobre fraude eleitoral estão a campanha de Donald Trump e Elon Musk, o dono do X (ex-Twitter) e um dos maiores apoiadores do republicano.
Somente nesta quarta-feira (30) a campanha de Trump divulgou duas supostas denúncias de tentativa de supressão de votos no estado da Pensilvânia, já desmentidas.
Na terça (29), Trump postou no X: “Uau! O condado de York, na Pensilvânia, recebeu milhares de formulários de registro de eleitores potencialmente fraudulentos”. A publicação teve mais de 1 milhão de visualizações em algumas horas.
As autoridades locais haviam afirmado que tinham detectado inconsistências em alguns formulários e estão examinando, como fazem com todos os documentos. Mas Trump não esperou o resultado e afirmou que há milhares deles fraudados.
Em 2020, só no estado da Pensilvânia, Trump e sua campanha entraram com 43 ações denunciando supostas fraudes eleitorais –eles perderam todas.
Também na terça, Trump ganhou um reforço importante na disseminação de suspeitas infundadas sobre a integridade eleitoral nos EUA. Steve Bannon, ex- assessor do republicano, saiu da prisão e já voltou a fazer seu podcast The War Room, classificado em estudo da Brookings Institution como um dos principais veiculadores de desinformação eleitoral. Bannon cumpriu pena de quatro meses de reclusão.
“Todos os dias após 5 de novembro serão um novo Stalingrado [famosa batalha da Segunda Guerra Mundial]”, disse Bannon em sua reestreia. “Se eles não conseguirem tirar a vitória de Trump, eles vão tentar anular a eleição e fazer algo para deslegitimar sua vitória.”
Analistas acreditam que apoiadores de Trump estejam preparando o terreno para contestar o resultado da eleição, caso o republicano não vença. Em 2020, a contestação da eleição presidencial levou apoiadores de Trump a atacarem o Capitólio na tentativa de evitar que o resultado fosse certificado.
Os hispânicos, que são 19% da população americana, estão entre os maiores alvos da desinformação.
Segundo Laura Zommer, fundadora do FactChequeado, agência de checagem de conteúdo em espanhol nos EUA, entre os principais temas da desinformação eleitoral em língua espanhola estão falsas narrativas sobre imigrantes indocumentados chegando do México e se registrando de forma ilegal para votar na eleição.
Outra narrativa que tem se disseminado nas comunidades hispânicas é dizer que a candidata democrata, Kamala Harris, é comunista e vai implantar o comunismo nos EUA –usando como suposta prova disso o fato de que o pai dela, Donald Harris, era um professor de economia na Universidade da Califórnia em Berkeley que estudava o marxismo.
“Trata-se de desinformação que reverbera em certas comunidades por causa das ditaduras de esquerda latino-americanas, como Venezuela e Nicarágua”, disse Zommer à Folha. Segundo levantamento do FactChequeado, o America PAC, fundo de campanha pró-Trump bancado por Elon Musk, gastou ao menos US$ 73 mil para difundir conteúdo com desinformação eleitoral nos estados-pêndulo de Geórgia e Nevada.
O America PAC também disseminou imagens manipuladas em que a candidata democrata aparece com um uniforme de comandante soviética e é chamada de “camarada Kamala”. Musk postou inúmeras vezes em sua conta no X, que tem 200 milhões de seguidores, que imigrantes em situação ilegal iriam votar.
Segundo a média das pesquisas, o eleitorado latino continua a ser majoritariamente democrata, mas Trump vem ganhando apoio entre eleitores hispânicos.
Um dos vídeos que viralizaram nos últimos dias mostrava um homem destruindo cédulas com votos em Trump na Pensilvânia e xingando o líder republicano. O material, que foi desmentido por autoridades do condado e do próprio Partido Republicano, foi impulsionado por agentes russos, segundo autoridades do governo.
Outro tema que tem viralizado —e que foi disseminado pela campanha de Trump e por Musk— aponta para números maiores de eleitores registrados em relação a pessoas habilitadas a votar no Michigan. Autoridades já informaram que as listas são filtradas antes da votação.