O republicano Donald Trump foi o candidato à Presidência dos Estados Unidos mais votado na Carolina do Norte e na Geórgia, os primeiros estados-pêndulo cujos resultados foram projetados, na madrugada desta quarta-feira (6), pela agência de notícias Associated Press.
Em pesquisas de intenção de voto, o republicano já aparecia numericamente à frente da democrata Kamala Harris nos dois estados, embora eles estivessem tecnicamente empatados. A votação confirmou disputas apertadas: com mais de 95% das urnas apuradas, Trump tinha angariado 51% dos votos, contra 48% de sua adversária, tanto na Carolina do Norte quanto na Geórgia.
A Carolina do Norte contabiliza 16 delegados para o Colégio Eleitoral, e a Geórgia, 9. Os outros estados-pêndulo na disputa atual são Arizona (11 delegados), Pensilvânia (19), Michigan (15), Nevada (6) e Wisconsin (10), todos onde Kamala e Trump também apareciam tecnicamente empatados nas pesquisas.
A derrota de Kamala na Carolina do Norte evidencia a dificuldade que a campanha democrata teve para conquistar o apoio de eleitores negros. Por lá, esse grupo constitui 20% da população.
Pesquisas indicam que, na disputa atual, homens negros foram menos propensos a votar no Partido Democrata, que tradicionalmente conta com esse apoio. Não à toa a campanha democrata enviou o ex-presidente Barack Obama à Carolina do Norte, no mês passado, para um comício no qual ele atacou os republicanos importantes do estado.
Trump, por sua vez, passou a acenar ao eleitorado conservador não branco com um apelo masculino que tenta ecoar independentemente da raça. Apesar de ter tido uma minoria dos votos latinos (38%) e negros (apenas 8%) em 2020, diferentes levantamentos mostram que ele teve avanços entre homens nesses setores.
Há duas hipóteses centrais para isso: primeiro, expectativas por mudanças na polícia e na Justiça após o assassinato de George Floyd que não foram correspondidas. Depois, uma preocupação com a situação da economia e empregos em geral (embora as vagas estejam crescendo) e consequentemente com o aumento da imigração.
Em setembro, a poucos dias para o pleito, um escândalo envolvendo o candidato republicano a governador da Carolina do Norte gerou preocupação para a campanha de Trump. Na ocasião, a CNN revelou publicações esdrúxulas feitas por Mark Robinson em sites pornográficos, incluindo comentários em que ele disse ser “um nazista negro” e defendeu reinstituir a escravidão.
Conhecido por falas homofóbicas e transfóbicas, o republicano negou ter sido o autor das publicações. A investigação da emissora americana incluiu uma análise das publicações do usuário de Robinson no site pornográfico, que era o mesmo de outras contas públicas utilizadas pelo político.
Trump tentou se afastar de Robinson, mas o candidato a governador não renunciou à corrida e esteve na cédula nesta terça —ele perdeu para o democrata Josh Stein. A rejeição de eleitores a Robinson, porém, não foi suficiente para convencê-los a votar em Kamala.
Já a eleição na Geórgia é uma das mais emblemáticas da corrida à Casa Branca. Trump é alvo de um processo criminal no qual é acusado de tentar reverter sua derrota no estado em 2020. Não há data para julgamento.
A vitória ali é considerada indispensável pela campanha republicana na corrida à Casa Branca: não à toa, quando perdeu o estado há quatro anos, Trump pressionou políticos de seu partido a fraudar a eleição, pedindo que eles encontrassem votos que garantissem sua vitória.
Quando esses republicanos se recusaram a cooperar, Trump se voltou contra eles publicamente —um dos alvos foi o governador Brian Kemp, a quem o então presidente chamou de traidor.
Na Geórgia, o terceiro estado mais negro dos EUA (mais de 30% da população é afro-americana), o debate do aborto dominou a corrida eleitoral —com o governador Kemp e um Legislativo controlado pelo partido de Trump, o estado tem atualmente uma das leis contra a interrupção da gravidez mais rígidas dos EUA.
Em um discurso em Atlanta, capital do estado, no último dia 20, Kamala relembrou casos de mulheres que foram afetadas pela proibição, incluindo uma que morreu depois de esperar 20 horas por tratamento após complicações causadas por um remédio abortivo. A vice-presidente chamou Trump de cruel, dizendo que ele “se recusa a aceitar a responsabilidade pela dor e sofrimento que causou”.
Em 2020, autoridades da Geórgia demoraram mais de duas semanas para declarar a vitória de Joe Biden no estado devido à corrida acirrada, que exigiu uma auditoria manual das cédulas. Ali, candidatos podem solicitar recontagem se a margem final for igual ou inferior a 0,5 ponto percentual, mas não há critério estabelecido