A Rússia forneceu dados de satélite que ajudaram os rebeldes houthis do Iêmen, grupo armado apoiado pelo Irã e classificado como terrorista pelos Estados Unidos, a atacar navios ocidentais no Mar Vermelho com mísseis e drones no início deste ano, segundo o Wall Street Journal.
De acordo com “uma pessoa familiarizada com o assunto” e dois funcionários de defesa europeus ouvidos pelo jornal americano, as informações dos satélites russos foram repassadas aos iemenitas por membros da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã. Os houthis começaram os ataques no mar Vermelho no fim de 2023, como protesto contra a invasão terrestre da Faixa de Gaza por Israel, atingindo mais de 100 embarcações desde novembro.
Segundo a reportagem do WSJ, o apoio de Moscou aos bombardeios —que atingiram o Canal de Suez, uma das rotas de navegação mais movimentadas e mais importantes para o comércio global— demonstra a disposição do presidente russo Vladimir Putin em desestabilizar a ordem econômica e política ocidental liderada pelos EUA.
Para os analistas ouvidos pelo jornal, o Kremlin busca fomentar a instabilidade no Oriente Médio para atingir os Estados Unidos, que buscava concentrar esforços na Rússia e na China antes dos conflitos provocados pela guerra Israel-Hamas, iniciada em 7 de outubro do ano passado.
“Para a Rússia, qualquer erupção em qualquer lugar é uma boa notícia, porque desvia ainda mais a atenção do mundo da Ucrânia, e os EUA precisam comprometer recursos —sistemas Patriot ou projéteis de artilharia. E com o Oriente Médio em jogo, é claro onde os EUA escolherão”, explica Alexander Gabuev, diretor do think tank Carnegie Russia Eurasia Center, ao jornal americano.
A ofensiva houthi forçou um desvio temporário dos navios comerciais para o sul, em torno do cabo da Boa Esperança, na África do Sul, em uma viagem mais longa e cara. Os Estados Unidos lançaram em dezembro uma força-tarefa para escoltar as embarcações no estreito de Bab al-Mandab (que separa o Mar Vermelho do Oceano Índico e é um dos principais caminhos dos barris de petróleo) e, em abril, gastaram cerca de US$ 1 bilhão em munições para derrubar drones e mísseis dos iemenitas.
Com escassez de mão de obra e materiais na guerra contra a Ucrânia, Moscou busca estreitar parcerias militares com o Irã e a Coreia do Norte, que forneceram munição, mísseis e drones. Segundo autoridades dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, cerca de 3.000 soldados norte-coreanos foram enviados para treinamento na Rússia nas últimas semanas.
O fortalecimento de laços do Kremlin com o Irã marca a mudança brusca da estratégia de Putin, que deixou de lado um longo relacionamento com Israel e o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, a quem o presidente russo hoje critica devido à guerra em Gaza.
Procurados pelo Wall Street Journal, os porta-vozes do governo russo e dos rebeldes houthis não comentaram as acusações.