30 anos do tetra: memórias de um jornalista da Copa 1994 – 18/07/2024 – O Mundo É uma Bola – EERBONUS
TESTE DO NOVO ANUNCIO

30 anos do tetra: memórias de um jornalista da Copa 1994 – 18/07/2024 – O Mundo É uma Bola

Quando criança, e principalmente quando adolescente e no início da idade adulta, eu era absolutamente fanático por futebol. Gostava também de outros esportes, mas não como do futebol.

Via tudo que estava disponível na TV, desde o Desafio ao Galo, jogos entre times amadores (na Record), e torneios de futebol infantil (na Gazeta) aos campeonatos Paulista e Brasileiro (na Globo) e o Italiano, que passou a ser exibido (pela Band) na segunda metade dos anos 1980.

As partidas do futebol nacional que não passavam na televisão, escutava-as na rádio Jovem Pan, nas vozes de José Silvério ou Edemar Annuseck, com comentários de Orlando Duarte ou Claudio Carsughi.

Assistia ao Globo Esporte no começo da tarde, via os Gols do Fantástico nas noites de domingo (impressionava-me como os atacantes Beijoca, do Bahia, e Nardella, do Joinville, faziam tantos gols).

Também devorava a então excelente e saborosa revista Placar (dirigida por Juca Kfouri) e lia diariamente o conteúdo que a seção de Esporte desta Folha publicava.

Assisti a quase todos os jogos exibidos em três Copas do Mundo (Espanha-1982, México-1986 e Itália-1990) e aos programas de debate que passavam à noite. Sofri com as eliminações do Brasil de Telê, principalmente no Mundial espanhol, nem tanto com a queda do Brasil de Lazaroni.

Aí veio a faculdade de jornalismo, veio a entrada no mercado de trabalho. O tempo escasseou.

A Copa de 1994, nos EUA, acompanhei pouco, como pude. Eram os estudos (último ano da graduação) pela manhã, em São Bernardo do Campo, era o trabalho (jornalístico, mas não na área esportiva) à tarde/noite, na avenida Paulista.

Os horários da maioria dos jogos não estavam disponíveis para mim e, da campanha do Brasil de Romário, Bebeto, Dunga, Taffarel e companhia até a decisão, só acompanhei dois confrontos.

O duelo com a Holanda, em um sábado, um emocionante 3 a 2 nas quartas de final, decidido por um petardo do lateral esquerdo Branco em cobrança de falta.

A final contra a Itália, em um domingo em que eu não estava de plantão, também pude ver. Não inteira, mas vi.

No primeiro tempo, estive com uma turma (vários jornalistas entre eles) no condomínio em que vivia o repórter Sylvestre Serrano, então colega de Jovem Pan, na região do Campo Belo (zona sul de São Paulo).

Havia uma TV no salão de festas, reservado para um churrasco, e ali umas três dezenas de pessoas se aglomeraram para torcer pelo Brasil.

Meu plano, cumprido, era sair à francesa no intervalo para ver a segunda etapa na casa de uma grande paixão da época de faculdade, que morava com a família no Ipiranga.

Não era muito longe, mas, mesmo acelerando o que eu podia no Corsa branco 1.0 pelas ruas secas e desertas da capital paulista (incrível aquele silêncio no percurso, os paulistanos reclusos, fixados em seus televisores), perdi uns dez minutos de bola rolando.

Não foi uma perda lamentada, não saiu gol. Que não sairia no restante do segundo tempo nem na prorrogação de 30 minutos, apesar da torcida para que Viola, que tinha entrado e dado nova movimentação ao ataque brasileiro, fizesse o gol da conquista da Taça Fifa.

O duelo Romário x Roberto Baggio, o segundo entre supercraques que eu via em uma decisão de Copa (o primeiro tinha sido em 1986, o argentino Maradona versus o alemão Rummenige), só seria definido na decisão por pênaltis.

Quando Baggio chutou por cima e Galvão Bueno gritou o eterno “é tetra, é tetra!”, rojões estouraram no bairro, mas não houve comemoração efusiva na casa de três andares.

Externamente, eu não tinha intimidade para abraçar os pais da moça, nem as irmãs, nem os namorados das irmãs (talvez um deles já fosse marido). Além disso, ninguém ali além de mim era aficionado por futebol.

Internamente, havia um freio no extravaso. Apesar da felicidade natural por ser brasileiro, o inconsciente lembrava o futebol pragmático, de magia escassa, do Brasil de Parreira, de antes e de durante o Mundial: “Que seleção mais sem sal foi essa. Saudade da de 1982”. (Que perdeu lindamente.)

Sobre a Copa de 1994, sei escalar aquele Brasil (Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho; Bebeto e Romário), sei que o adolescente Ronaldo Fenômeno era reserva, sei que Zagallo era assistente do Parreira.

Sei que Romário e Baggio jogaram muito –o italiano foi vital para que a Squadra Azzurra chegasse à final, mais até que o Baixinho.

Sei que me encantei com um canhoto, habilidosíssimo, que não era Maradona (que sei que foi pego no antidoping, um dos flagelos em sua carreira) e sim o romeno Hagi.

Sei que um dos lances que mais prontamente vêm à minha cabeça é uma bela cabeçada do carequinha Lechkov, autor do gol da eliminação da Alemanha, campeã na Copa anterior, nas quartas de final diante da zebra búlgara.

E sei que, definitivamente, essa não foi a Copa das minhas memórias mais marcantes.

Não a vi nem vivi intensamente como as três anteriores, então minha afeição por ela não se formou. O cérebro preferiu ter seu espaço ocupado por outras lembranças, de Copas prévias (principalmente) ou posteriores.

Vão-se 30 anos da partida final, jogada em Pasadena no dia 17 de julho de 1994. Restou, para mim, essa história para contar. Você também deve ter a sua.

FONTE

Deixe um comentário