Conheça desertor que manda balões à Coreia do Norte – 27/06/2024 – Mundo – EERBONUS
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Conheça desertor que manda balões à Coreia do Norte – 27/06/2024 – Mundo

Quando começou a enviar balões com lixo, roupas usadas e até esterco para a Coreia do Sul, há um mês, Pyongyang se justificou dizendo que a medida, pouco usual até para os padrões de provocação na península, era uma resposta a ações semelhantes dos sul-coreanos.

De fato, diversos grupos da Coreia do Sul lançam mão dessa estratégia, que remonta à Guerra da Coreia, conflito que dividiu a região na década de 1950. Em vez de lixo, porém, é comum que os sul-coreanos amarrem aos infláveis sacos com dinheiro, remédios e panfletos anti-regime.

Um dos mais conhecidos ativistas dessa prática é Park Sang-hak, para quem os balões de propaganda que lança na direção de seu país natal são uma tradição da guerra psicológica entre as duas Coreias. Apesar da proporção que as provocações tomaram nas últimas semanas, ele promete continuar os envios até a queda do regime de Pyongyang.

Filho de um agente norte-coreano, Park fugiu do país em 1999. Há 20 anos, ele lança cartazes contra a ditadura, dólares americanos e pen drives com músicas do gênero k-pop. Sua missão, diz, é “instruir o público norte-coreano”, como aconteceu com ele, de acordo com seu relato.

Park sentiu na pele o poder dos balões. Há décadas, quando ainda morava no Norte, ele encontrou um panfleto com imagens de dois desertores no Sul. “Uma foto mostrava o desertor com lindas mulheres sul-coreanas em trajes de banho e um texto dizendo que ele recebeu 10 milhões de wons em ajuda do governo”, diz.

Para ele, a imagem mostrava que a deserção não era algo apenas para diplomatas ou militares, mas para qualquer um que ousasse atravessar o rio para a China. Por isso, alguns anos depois, ele, a mãe e dois irmãos cruzaram o rio fronteiriço.

Os panfletos vistos por Park, no entanto, foram produzidos pelo governo sul-coreano. Mais tarde, ele conheceu um dos desertores da foto e perguntou se a cena era real. “Ele me disse que o panfleto foi criado pelo Serviço Nacional de Inteligência em Seul“, revelou.

Park começaria sua própria campanha de balões em 2006. O começo foi precário, com balões comprados em uma loja de brinquedos —bem diferente dos atuais, que podem transportar até oito quilos.

Segundo o desertor, os infláveis carregam envelopes à prova d’água com notas de um dólar, fundamentais para o sucesso da campanha. Ele diz que os norte-coreanos aprendem que dinheiro cai do céu, o que os leva a abrir os pacotes e acabar lendo os panfletos.

Outro item que os norte-coreanos podem encontrar nos balões de Park é uma carta que detalha a morte de Kim Jong-nam, meio-irmão do ditador Kim Jong-un, assassinado na Malásia, em fevereiro de 2017, quando duas mulheres borrifaram uma substância neurotóxica em seu rosto. Suspeita-se que ele foi morto a mando do regime por supostamente colaborar com a CIA, a agência de espionagem americana.

Desde o final de maio, quando a Coreia do Norte começou sua campanha, centenas de balões foram com lixo chegaram ao Sul. O volume de infláveis no céu levou à suspensão de voos no aeroporto de Incheon, em Seul, por três horas na quarta-feira (26).

A mais grave consequência da crise foi a suspensão do pacto militar intercoreano estabelecido após as reuniões de 2018, quando a relação entre os dois países estava melhor. O acordo pretendia reduzir as tensões e evitar uma escalada militar entre as nações, em armistício desde o fim do conflito que dividiu a península, em 1953.

Segundo Park, a reação de Pyongyang mostra que os balões têm impacto sobre o público norte-coreano. “Recebi telefonemas de cerca de 800 desertores me agradecendo pela missão e contando que viram meus panfletos no Norte”, diz o ativista. A internet e a imprensa são controlados no país de 26 milhões de habitantes.

Com a interrupção do pacto de 2018, Seul voltou a transmitir propaganda política em alto-falantes perto da fronteira —estratégia que, assim como os balões, era usada mais frequentemente por ambos os países até 2003, quando a península passou por um momento de menos tensão.

Críticos do ativista afirmam que essas ações podem aumentar as hostilidades entre as duas Coreias. Park, no entanto, insiste que sua campanha é pacífica, enquanto o envio de lixo é uma subversão inaceitável. Ele afirma que nunca, em 20 anos da guerra dos balões, uma parte enviou lixo para o outro lado da fronteira.

“Kim Jong-un é a primeira pessoa a mandar balões de lixo”, disse, chamando a ação de “ato desprezível e cruel”.

O ativista afirma que seu objetivo é a queda do regime com mudanças internas, sem intervenção estrangeira. “Enquanto Kim lança mísseis sem parar, nossa mensagem é parar a violência”, diz ele. “Estes panfletos levarão a verdade ao povo norte-coreano, que a utilizará para se levantar contra o regime de Kim e destitui-lo.”

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