Lula expõe fraqueza quando fala da Rússia – 20/02/2024 – Mundo – EERBONUS
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Lula expõe fraqueza quando fala da Rússia – 20/02/2024 – Mundo

Em 2023, passei três semanas na América Latina em uma excursão organizada pela União Europeia. Junto com representantes dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz da RússiaDmitri Muratov, de 2021, editor do semanário “Novaia Gazeta”, e Memorial, de 2022, a mais antiga ONG de direitos humanos do país— compartilhamos com estudantes e autoridades, ativistas e acadêmicos, deputados e jornalistas nossa experiência de vida sob o regime de Vladimir Putin.

Em nenhum lugar foi tão difícil quanto com os políticos e burocratas do Brasil. No momento em que mencionamos os bombardeios de cidades ucranianas por Putin, ou os abusos da polícia secreta, por exemplo, o envenenamento de Alexei Navalni, os olhos se tornaram vazios, e acenos, polidos, mas indiferentes. Pareceu-nos que a maioria dos funcionários brasileiros não queria saber verdades desagradáveis sobre a Rússia de Putin.

Agora Alexei Navalni está morto. Ele foi trancado em uma colônia penal famosa pelo tratamento severo aos detentos, mesmo pelos padrões do universo prisional russo inspirado nos gulags. Ele foi enviado três dezenas de vezes para a cela de punição por pretextos falsos, como não arrumar a cama minuciosamente. A saúde de Navalni se deteriorou. Tudo aponta para uma campanha contínua do regime russo de eliminação física gradual de seu oponente mundialmente famoso.

Agora o regime está zombando da família de Navalni com versões bizarras de sua morte. No momento em que escrevo, as autoridades se recusam a agendar a autópsia, liberar o corpo para a família ou mesmo dizer onde ele está. A mãe e os advogados de Navalni foram expulsos da morgue onde os restos de Navalni supostamente estão guardados. Pensei que isso atingiria muitos no Brasil, como uma repetição dos piores excessos de sua própria ditadura, e produziria uma onda de solidariedade com a oposição democrática da Rússia.

Eu estava enganado, pelo menos em relação à liderança brasileira, que gosta de se apresentar como um exemplo global para os direitos humanos. Mas a resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à onda internacional de indignação pela morte de Navalni só acrescenta à zombaria do Kremlin com sua família e apoiadores.

Lula realmente acha que na Rússia moderna a morte de Alexei pode ser “investigada”, como sugeriu? Se sim, então ele é tão ignorante sobre as realidades em meu país natal que sua competência, ou a de seus assessores, para conduzir qualquer negócio com Moscou deve ser seriamente questionada. Se não, e Lula quer evitar criticar Putin, então a única conclusão é que ele, um ex-prisioneiro político que lutou contra a ditadura, se tornou cúmplice e facilitador de uma das ditaduras mais cínicas e perigosas do mundo.

Com a experiência política e astúcia de Lula, recuso-me a acreditar na primeira conclusão. Então, logicamente, chego à segunda. Se a razão de Lula é o ódio compartilhado pelos EUA, os proverbiais “fertilizantes russos”, ou a simpatia pessoal por Putin, como patriota e democrata russo, não me importo. As palavras de Lula me machucaram profundamente. O presidente parece viver em um mundo orwelliano de estilo soviético. Lá, o sofrimento é classificado de acordo com preferências ideológicas. Assim, o Hamas e Putin valem o generoso benefício da dúvida, enquanto suas vítimas são tratadas com suspeita e desdém.

Mas, como a própria história de vida de Lula provou, a política está cheia de surpresas e reviravoltas espetaculares. Um dia, os russos —sindicalistas e padres dissidentes, feministas e libertários, estudantes e encanadores— recuperarão seu país de Putin. Eles lembrarão com gratidão aqueles ao redor do mundo que apoiaram a verdade e a justiça para sua pátria. Infelizmente, Lula será lembrado como cúmplice da tirania de Putin.

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