eleição na Argentina marca fim do kirchnerismo – EERBONUS
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eleição na Argentina marca fim do kirchnerismo

“Vamos acabar com o kirchnerismo e a casta política parasitária”, foi a promessa de Javier Milei no dia 14 de agosto, após sua surpreendente, avassaladora, vitória nas eleições prévias argentinas.

Três meses e cinco dias depois, o candidato da coalizão liberal La Liberdad Avanza cumpriu sua promessa. E se tornou presidente da Argentina com 55,91% dos votos válidos. Mais de 10 pontos na frente do candidato governista, o ministro da Economia Sergio Massa, que ficou apenas com 44,08% das preferências.

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A derrota foi tão acachapante que Massa, vencedor há um mês do primeiro turno eleitoral, acabou reconhecendo a derrota antes mesmo da divulgação dos resultados oficiais.

A história da Argentina vai enfrentar duas grandes mudanças. A primeira econômica, com uma possível reviravolta em direção de um modelo liberal, deixando para trás as décadas do peronismo.

A segunda, é o fim do kirchnerismo, a força que monopolizou o cenário político argentino desde a grande crise de 2001.

Argentina de novo potência econômica?

Milei ganhou as eleições pois os argentinos querem mudar o rumo de sua economia. Que já foi uma das maiores do mundo, superando até mesmo a maioria dos países europeus logo após a Segunda Guerra Mundial.

A partir da chegada ao poder de Juan Domingo Perón, a Argentina começou um progressivo declínio econômico. Chegando aos dias atuais com metade da população abaixo da linha de pobreza. Uma inflação chegando aos 300% ao ano. Um Produto Interno Bruto (PIB) que vai se contrair em 3%. Uma dívida interna e externa insustentável, se aproximando de mais um calote. Reservas em dólares inexistentes. Repressão cambial por parte do governo. Desabastecimento de produtos essenciais, como gasolina. E uma ordem pública caótica, com saques em lojas e assaltos nas ruas cada vez mais frequentes.

A Argentina é um país quebrado. Um caloteiro serial E Milei foi eleito prometendo inverter essa rota do declínio.

“Hoje começa a reconstrução da Argentina“, declarou o novo presidente em seu primeiro pronunciamento após a vitória.

O político liberal se elegeu criticando um modelo de forte intervenção estatal na economia. Com déficits públicos gigantescos e impressão desenfreada de papel moeda. Onde mais de 18 milhões de argentinos, em uma população total de 45 milhões, recebem algum tipo de benefício, bolsa, auxílio ou abono público. Onde mais de 4 milhões de pessoas são funcionários públicos. Uma das economias mais fechadas e protecionistas do mundo.

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“Chega de modelo empobrecedor”, declarou Milei em seu discurso, “A Argentina tem futuro, mas esse futuro existe só se for liberal”.

O novo presidente argentino propõe privatizar as empresas públicas, reduzir drasticamente o número de ministérios e resolver de vez o problema da inflação tirando a máquina de imprimir dinheiro das mãos da classe política: dolarizando a economia e fechando o Banco Central da Argentina.

“Não viemos para inventar nada, mas para fazer as coisas que a história mostrou que funcionam”, disse Milei em seu pronunciamento.

Entretanto, nem todas as propostas poderão ser concretizadas. Em primeiro lugar pelo fato de La Liberdad Avanza não ter uma maioria no Congresso argentino, necessitando do apoio dos partidos da direita “tradicional” do Juntos por el Cambio. Sem os quais teria sido impossível ganhar no segundo turno das presidenciais.

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A moderação, a negociação e o diálogo serão fundamentais para aprovar qualquer medida.

Por outro lado, caso o novo governo consiga abrir rapidamente a economia argentina para investimentos estrangeiros. Aumentar a produtividade interna com reformas microeconômicas. Garantir segurança jurídicas para empresários. E reconquistar a confiança dos protagonistas da economia internacional, os resultados positivos chegarão no curto prazo. Aumentando a força política de Milei e permitindo que ele possa avançar com reformas econômicas mais profundas.

O fim do kirchnerismo

O kirchnerismo é o grande derrotado dessa eleição. Não apenas em um pleito, como foi em 2015, quando Maurício Macri chegou na Casa Rosada. Mas em perspectiva histórica. Com a possibilidade concreta de sair definitivamente da cena política argentina.

Perder uma eleição contra a direita tradicional é algo aceitável na lógica kirchnerista. Faz parte do jogo político e não muda excessivamente as dinâmicas do sistema político. Afinal, “somos todos peronistas”. As diferenças nos programas eleitorais eram mínimas.

Perder contra um candidato liberal como Milei é uma humilhação ideológica. É a demonstração que a receita econômica kirchnerista fracassou. E a maioria dos argentinos percebeu. Até do ponto de vista simbólico, já que Massa é o ministro da Economia do governo que entregou indicadores escandalosamente ruins. Independentemente do desfecho do futuro governo Milei, o país não voltará para trás.

Após a queda do Muro de Berlim e o fim do comunismo muitos governos de diferente visões ideológicas se sucederam nos países do leste europeu. Mas os partidos comunistas ou socialistas radicais foram relegados na “lixeira da história” e nunca mais voltaram ao poder. O mesmo deverá ocorrer com a Argentina.

Os kirchneristas sabiam desse risco, e também por isso os casos de corrupção se intensificaram nos últimos meses. Uma tentativa de roubar o máximo que fosse possível, pois seria a última ocasião.

Milei foi eleito chamando os líderes políticos kirchneristas de “delinquentes” e prometendo que a vice-presidente Cristina Kirchner iria pagar pelos seus crimes caso ele ganhasse as eleições.

“Sabemos que tem gente que vai resistir, que quer manter privilégios. Para eles eu digo: tudo dentro da lei, fora dela, nada”, deixou claro o presidente eleito em seu discurso de agradecimento.

Dificilmente o kirchnerismo vai resistir por muito tempo longe das fontes de recursos espúrios e dos benesses de estado.

Movimentos, sindicatos e organizações sociais, como La Cámpora, grupo extremista liderado pelo filho de Cristina, Máximo Kirchner, os centros da Unidade básica, ou até mesmo as Avós da Praça de Maio, que de associação contra a ditadura militar se transformou em uma agremiação kirchnerista radical, precisam de muito dinheiro para funcionar. Com Milei as torneiras dos recursos estatais se fecharão imediatamente. Desidratando toda a inchada máquina partidária kirchnerista.

Além disso, os peronistas não aceitam derrotados. Sergio Massa, assim como todo seu grupo, que tentou passar uma imagem de moderação, serão escanteados. Ou até mesmo expurgados do partido.

Dentro do kirchnerismo prevê-se uma Noite das Longas Facas. Ninguém se esqueceu quando Massa pediu em público a prisão de Cristina Kirchner. Ou quando criticou as políticas econômicas do governo de Alberto Fernández. Tanto que recusou a presença do presidente e de sua vice durante a campanha eleitoral.

Mas além da asfixia econômica e da guerra intestina, o que marcará simbolicamente e politicamente o fim do kirchnerismo será a prisão da própria Cristina.

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A vice-presidente da Argentina foi condenada em dezembro de 2022 a seis anos de prisão acusada de fazer parte de um esquema de fraude entre 2007 e 2015, quando governava o país vizinho.

Além disso, Cristina é acusada de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha por meio de imobiliária familiar e a sociedade gestora dos seus hotéis na Patagônia. Em outro processo, é acusada de encobrir o envolvimento do Irã no ataque ao fundo mútuo israelense em Buenos Aires (AMIA), que deixou 84 mortos em 1994.

As imagens de Cristina entrando na cadeia poderiam ser divulgadas nos mesmos dias da entrada de Milei na Casa Rosada. Não seria apenas um terremoto político, mas uma mudança histórica para a Argentina.

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