Xi Jinping caminha em campo minado para encontro com Biden – 10/11/2023 – Igor Patrick – EERBONUS
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Xi Jinping caminha em campo minado para encontro com Biden – 10/11/2023 – Igor Patrick

Agora é oficial. Depois de semanas de silêncio, Xi Jinping confirmou que estará nos Estados Unidos na semana que vem para a cúpula de membros da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês) e deve se encontrar com Joe Biden para a primeira reunião bilateral dos dois em solo americano desde que o democrata chegou à Presidência.

A Apec pode ser pouco conhecida no Brasil, mas tem importância central na agenda político-econômica de seus 21 membros. Juntos, os países que integram o fórum representam 40% de toda a população mundial e cerca de 50% de todo o PIB global. O encontro de líderes, realizado anualmente, é o momento de destravar acordos, promover o comércio e atrair investimentos.

Nada disso importará tanto em 2023, claro. Tanto Pequim quanto Washington reconhecem que chegaram próximo do fundo do poço nas suas relações diplomáticas. Há pouquíssimas coisas em que EUA e China concordam hoje em dia, e mesmo o que deveria ser óbvio, como a promoção do comércio ou o combate às mudanças climáticas, perdeu-se em uma miríade de crises, declarações truncadas e retórica belicista que impedem quaisquer tentativas de aproximação.

A Apec deste ano virou apenas um plano de fundo bonito para a reunião que realmente importa, entre Biden e Xi. Para o líder chinês, a decisão de visitar “território inimigo” pela primeira vez em oito anos carrega significativo risco político, e ele precisa se certificar de obter concessões do homólogo americano a fim de justificar sua presença para a audiência doméstica cada vez mais nacionalista.

Xi caminha por um campo minado. A deterioração dos laços chegou a um nível tão delicado que agora parece haver consenso sobre a necessidade de “estabilizar a relação”. Esta talvez seja a última oportunidade de fazê-lo no primeiro mandato de Biden, já que a retórica anti-China vai aumentar com a campanha eleitoral americana em 2024 e as eleições presidenciais em Taiwan marcadas para janeiro.

Os dois lados precisarão encontrar salvaguardas e consensos para evitar que desentendimentos coloquem suas forças militares em rota de colisão. Oficiais seniores envolvidos na preparação da visita me disseram que o mundo pode esperar acordos para impedir o uso de inteligência artificial para fins militares (como gestão de armas nucleares ou condução de drones), a restauração dos canais de comunicação entre as Forças Armadas, políticas para pesquisas conjuntas em saúde, combate às mudanças climáticas e o aumento de voos diários entre os dois países —que nunca voltaram ao nível pré-pandemia.

Ainda há pontos a serem finalizados acerca da linguagem em torno dos conflitos de Israel e Ucrânia, e Pequim também se mostrou interessada em cooperar no desenho de políticas públicas de proteção aos trabalhadores, iniciativa criada por Lula e Biden às margens da Assembleia-Geral da ONU neste ano.

Além dos compromissos diplomáticos, Xi também janta na quarta (15) com empresários americanos, em uma tentativa de reverter a má impressão de empresários sobre a trajetória econômica chinesa. A despeito da queda recorde no volume de investimento estrangeiro direto na China nos últimos meses e os sinais de forte desaceleração na agenda de reformas, o evento atraiu alta procura até aqui.

Os ingressos, vendidos apenas a convidados por valores entre US$ 2.000 e US$ 40 mil, esgotaram-se rapidamente —teve magnata em Wall Street que não conseguiu cadeira. Organizadores dizem que Xi fará “um grande e importante discurso” na ocasião, e quem pagou tão caro espera ouvir renovado apoio à esquecida agenda de reformas.

Mantenhamos o pragmatismo, contudo. A relação entre Estados Unidos e China dificilmente voltará aos níveis de cooperação vistos no início do século, mas para o bem de ambos os países e do planeta, seria bom que os respectivos líderes voltassem a conversar como adultos e prevenissem uma catástrofe.


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