Xi Jinping está de passagem marcada para a sua Eurotour. Na próxima semana, o líder chinês viaja ao Velho Continente pela primeira vez em cinco anos, na esperança de atenuar os ânimos de investidores e o sentimento de que a relação sino-europeia representa um risco estratégico para Bruxelas.
Quando desembarcar, Xi encontrará uma Europa significativamente distinta da que viu em março de 2019. Àquela época, a despeito da política linha-dura adotada pelos Estados Unidos de Donald Trump, os europeus viam o trato com Pequim com relativo otimismo.
Os chineses ainda não tinham atraído a antipatia dos britânicos pela forma como responderam a protestos em Hong Kong, a Rússia não tinha feito movimento para anexar mais partes da Ucrânia além da Crimeia e a Itália anunciava sua entrada para a Iniciativa de Cinturão e Rota —movimento que assombrou Washington à época e tinha sido interpretado como primeiro passo da estratégia de infraestrutura chinesa no Ocidente industrializado.
O clima era tão ameno que, ao lado de Emmanuel Macron e Angela Merkel, Xi disse que pretendia trabalhar com os europeus na defesa do multilateralismo e desenvolvimento sustentável. “Ambos os lados devem assumir a liderança e erguer bem alto a bandeira da paz, do desenvolvimento e da cooperação vantajosa para todos”, disse durante a cerimônia de encerramento do Fórum de Governança Global China–França.
O que se seguiu depois disso é história. No meio do caminho tivemos uma invasão russa no território ucraniano, com a qual os chineses lucram ativamente e fazem pouco (ou nada) para mediar. A pandemia também azedou a percepção popular em relação à China, e a desconfiança foi aprofundada pelos sucessivos casos de espionagem ou atuação ilegal de forças de segurança chinesas que estamparam as páginas policiais em países como França, Irlanda, Alemanha e Reino Unido.
Europeus agora falam em investigar subsídios irregulares do regime chinês a produtos de exportação essenciais à estratégia continental de resiliência climática e transição verde, como carros elétricos e painéis solares. Nos últimos meses também têm se juntado ao coro americano e reforçado os temores quanto ao excesso de capacidade chinês, fenômeno que já enfrentaram no início dos anos 2000 e que ameaça a indústria local. Acima de tudo, a penosa experiência com a Rússia em 2022 trouxe a alguns líderes o senso de que é preciso reduzir a todo custo o risco de negócios com potências que possam eventualmente se tornar hostis.
São barreiras significativas demais para se resolver apenas com uma viagem, motivo pelo qual a análise de sucesso ou fracasso precisará ser mais modesta. Xi passará por França, Sérvia e Hungria ao longo da visita. Nos dois últimos, talvez anuncie investimentos em infraestrutura sob a égide da Iniciativa de Cinturão e Rota. Em Paris, deve se ater a temas de segurança.
Não espere, por exemplo, declarações explícitas de apoio às demandas europeias quanto ao conflito russo-ucraniano. A China substituiu várias empresas ocidentais forçadas a deixar a Rússia após sanções e vem lucrando alto com a dependência de Moscou de seus produtos e serviços. Não há incentivos claros para Xi agir no momento.
Para ele, bastará a percepção de que segue conversando com o Norte Global a despeito da beligerância americana. Se conseguir arrancar de outros líderes locais, como foi o caso quando Macron visitou a China em 2022, uma declaração de que não pretendem correr ao auxílio dos americanos em uma campanha militar de defesa a Taiwan, tanto melhor.
O pagamento deve vir com o fim de vantagens fiscais a alguns poucos setores chineses que incomodam os industriais europeus e promessas de solidariedade e cooperação. Talvez funcione com o menos desenvolvido Leste Europeu, mas resta saber como ressoará em Paris e Berlim.
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