O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, fez um apelo por reformas no Conselho de Segurança da ONU, destacando a falta de representatividade e a influência desproporcional dos Estados “mais poderosos”.
Nesta sexta-feira, o chefe de governo timorense discursou no debate geral da 79ª sessão da Assembleia Geral da ONU e afirmou que “as vozes das nações pequenas não devem ser ofuscadas pelos interesses dos mais fortes”. Gusmão defendeu que o principal órgão de paz e segurança seja ampliado para incluir a participação permanente de África, América Latina e Ásia.
Representatividade no sistema internacional
“Timor-Leste apoia uma reforma abrangente e a longo prazo do Conselho de Segurança, para o alargamento dos membros permanentes e não permanentes, pois só assim haverá uma arquitetura sólida e transparente para a paz global. Consideramos, também, que a própria Assembleia Geral tenha mais poder em questões de segurança para evitar que os Estados-membros paralisem em situações críticas.”
Segundo Gusmão, sem essas mudanças, o sistema internacional continuará a privilegiar o status quo, deixando de lado as aspirações e necessidades dos países em desenvolvimento. Além das críticas ao Conselho de Segurança, Xanana Gusmão ressaltou que a ONU deve ter um papel mais ativo na resolução de conflitos globais e na promoção da paz.
Sistema financeiro e clima
O primeiro-ministro timorense destacou que muitos dos instrumentos de direito internacional e diplomacia, embora existentes, não estão sendo aplicados de forma eficaz. Para ele, a dinâmica atual está presa a sistemas financeiros que nos colocam os países mais vulneráveis com dívidas em desvantagem e sobrecarrega, reforçando a necessidade de um sistema que ofereça apoio verdadeiro a quem mais precisa.
O líder timorense também se posicionou sobre o impacto das mudanças climáticas em pequenos estados insulares, como Timor-Leste. Gusmão afirmou que o “sofrimento desigual causado pelas alterações climáticas é uma das maiores injustiças deste mundo”, citando a necessidade urgente de financiamento para mitigar os danos e fortalecer a resiliência das nações mais afetadas.
O discurso enfatizou o recém-criado fundo de “perdas e danos”, aprovado na última Conferência do Clima da ONU, COP28, mas pediu que os países desenvolvidos honrem seus compromissos com contribuições significativas para ajudar os mais vulneráveis.
Trajetória do país
Durante o discurso, Gusmão relembrou a trajetória de Timor-Leste, um país que há 25 anos conquistou sua independência com o apoio da ONU após décadas de guerra e ocupação.
Após destacar o exemplo da “história de superação e resiliência” de seu povo, ele declarou que a paz e o desenvolvimento sustentável só são alcançáveis com diálogo e cooperação internacional.
Segundo o primeiro-ministro, “reconciliação e confiança são os instrumentos para a paz de que o mundo precisa”, fazendo um paralelo entre o passado timorense e a necessidade de reconciliação em regiões devastadas por conflitos, como Saara Ocidental e Palestina.
Solidariedade global
Ao abordar os desafios enfrentados por pequenos Estados insulares e países menos desenvolvidos, Gusmão reforçou a importância da solidariedade global e do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS.
Ele alertou que o mundo está longe de alcançar as metas estabelecidas para 2030 e que muitos países já “perderam a corrida antes mesmo de sair do ponto de partida”. Para Gusmão, sem financiamento e transferência de tecnologia, as nações mais frágeis continuarão presas em ciclos de pobreza e instabilidade.
O discurso terminou com um apelo por união e coragem para transformar o sistema internacional. Xanana Gusmão afirmou que mesmo com suas fragilidades, a ONU é o mecanismo mais promissor para enfrentar as dificuldades atuais.