Thulasendhrapuram, um pequeno vilarejo a cerca de 300 quilômetros da cidade de Chennai, no sul da Índia, —e a 14 mil quilômetros de Washington, nos Estados Unidos— é onde nasceram os avós maternos de Kamala Harris.
No centro do vilarejo, um pôster exibe orgulhosamente a política americana.
Orações estão sendo feitas aos deuses para que ela seja bem-sucedida. Os nomes de Kamala e de seu avô materno aparecem em uma lista de doadores ao templo local.
Os moradores estão observando de perto a eleição presidencial dos EUA, depois que Joe Biden se retirou da disputa e Kamala despontou como favorita para assumir a candidatura à Casa Branca.
“Não é uma tarefa fácil chegar aonde ela chegou no país mais poderoso do mundo”, diz Krishnamurthi, um morador local e bancário aposentado.
“Estamos realmente orgulhosos dela. Antigamente, os indianos eram governados por estrangeiros, agora os indianos estão liderando nações poderosas.”
Também existe uma sensação de orgulho no vilarejo, especialmente entre as mulheres. Elas veem Kamala como sendo uma delas —um símbolo do que é possível para mulheres em qualquer lugar.
“Todos a conhecem, até mesmo as crianças. ‘Minha irmã, minha mãe’ — é assim que se referem a ela”, diz Arulmozhi Sudhakar, uma integrante do conselho político local do vilarejo.
“Estamos felizes que ela não esqueceu suas raízes e expressamos a nossa felicidade.”
A alegria é parecida com o sentimento quando Kamala foi eleita vice-presidente.
Os moradores foram às ruas comemorar com fogos de artifício, pôsteres e calendários com a foto da política americana.
Houve uma festa comunitária com centenas de pessoas se deliciando com pratos típicos do sul da Índia, como sambar e idli— que, segundo um parente de Kamala, são algumas das comidas favoritas dela.
Raízes indianas
Kamala é filha de Shyamala Gopalan, uma pesquisadora de câncer de mama nascida no Estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, e que migrou para os EUA em 1958.
Os pais de Gopalan eram de Thulasendhrapuram.
“Minha mãe, Shyamala, veio para os EUA da Índia sozinha aos 19 anos. Ela era uma força — uma cientista, uma ativista de direitos civis e uma mãe que injetou um sentimento de orgulho nas suas duas filhas”, disse Kamala em uma publicação em rede social no ano passado.
Kamala visitou Chennai com sua irmã Maya depois da morte da mãe, e jogou as suas cinzas no mar, algo que é parte das tradições hindus, segundo o jornal The Hindu.
A vice-presidente dos EUA faz parte de uma família de pessoas ambiciosas. Seu tio por parte de mãe Gopalan Balachandran é acadêmico. Seu avô PV Gopalan se tornou um dos burocratas de elite da Índia e era especialista em realocação de refugiados.
Ele também foi assessor do primeiro presidente da Zâmbia nos anos 1960.
“Ela [Kamala] tem sido uma personalidade com notoriedade há algum tempo já. Não é uma surpresa muito grande. Algo como isso já era previsível há muitos anos”, diz R. Rajaraman, professor emérito de física teórica da universidade Jawaharlal Nehru, em Déli, e ex-colega da mãe de Kamala Harris.
Rajaraman diz que perdeu contato com Shyamala, mas a reencontrou nos anos 1970 quando viajou aos EUA e conversou com Gopalan em Berkeley, na Califórnia.
“Shyamala estava lá. Ela me deu uma xícara de chá. As duas crianças [Kamala e sua irmã Maya] estavam lá. Elas não deram a menor bola”, ele lembra. “Ambas eram muito empreendedoras. Havia positividade na sua mãe, algo que existe em Kamala também.”
Em Thulasenhrapuram, os moradores estão ansiosos para ver Kamala Harris ser oficializada como candidata.
“A chiti [irmã mais nova da mãe] de Kamala, Sarala, visita o templo com frequência. Em 2014, ela doou 5 mil rúpias [cerca de R$ 330] em nome de Kamala Harris”, diz Natarajan, o líder religioso do templo.
Natarajan está confiante que suas orações ajudarão Harris a ganhar a eleição.
Os moradores locais dizem que mesmo estando a milhares de quilômetros dos EUA eles sentem que estão ligados à jornada de Kamala Harris. Eles esperam que ela os visite algum dia ou que o vilarejo seja citado em algum de seus discursos.
Esse texto foi publicado originalmente aqui.