Vida após a morte é um assunto que transcende as expectativas terrenas de qualquer ser humano. Muitas correntes filosóficas e espirituais são consultadas quando o tema é citado, no entanto, uma nova pesquisa apresenta traços biológicos de uma semi-vida após a morte de um organismo.
Em aspectos biológicos, a morte é considerada a falha total de um organismo vivo, sem a capacidade de reversão do quadro. No entanto, sabe-se que existe um tempo hábil para que alguns órgãos e tecidos ainda sejam considerados viáveis para transplante, “sobrevivendo” ao processo de morte do doador.
No entanto, a pesquisa desenvolvida pelo grupo da Universidade do Alabama em Birmingham, parecem ter encontrado uma lacuna mortuária entre o óbito do hospedeiro e a resistência e comportamento celular de alguns grupos celulares, que conferem a essas células em “terceiro estado de existência”. Confira.
Alguns tecidos e órgão podem ser mantidos “vivos” enquanto aguardam o transplante no hospedeiro.Fonte: Getty Images
Com um pé no Rio Estige
Quando nosso corpo colapsa, uma cascata de eventos começa a ser desencadeada. Aos poucos, sem suprimento de oxigênio e energia, as células passam a se romper e o que antes era um corpo estruturado e funcional passa a experimentar os efeitos da morte.
Contudo, isso não é um processo instantâneo, longe disso. A prova é a possibilidade de transplante de tecidos e órgãos, que mesmo após a morte do corpo hospedeiro, podem ser mantidos viáveis para reposição em outros corpos, e apresentam uma continuidade de funcionamento bastante adequada em sua nova chance vida.
Após a morte as células começam a se romper e perdem estrutura.Fonte: Getty Images
No entanto, nem tudo no nosso organismo tem a mesma chance de recomeçar. Mas e se de algum modo, após a morte as células ainda fossem capazes de mutar e modificar seu comportamento em prol de mais alguns dias de vida?
Os pesquisadores analisaram o comportamento das células da pele de embriões mortos de sapos. A observação mostrou que mesmo diante da morte dos embriões, algumas células sobreviveram à catástrofe e passaram por mutações funcionais para continuar vivas. Por exemplo, os cílios que outrora possuíam função de limpeza passaram a ser utilizados para locomoção das células.
Essas células “sobreviventes” foram mantidas em placas de petri com o mínimo de suporte para se manterem funcionais, afinal, o objetivo dos pesquisadores era observar o comportamento de desgaste celular natural.
O grupo relatou que as células que sobreviveram se uniram em pequenos grupamentos celulares, aos quais eles conferiram o nome de xenobots. Além disso, as estruturas celulares passaram por modificações, capacitando-as para desenvolver outras funções, como movimentação no meio de cultura.
Mas essas células morta-vivas, não se comparam a outras linhagens celulares.Fonte: GettyImages
É importante destacar que os xenobots não se relacionam com outras linhagens celulares amplamente cultivadas, como as células HeLa e outros tipos de cânceres, afinal, as células em “terceiro estado de existência” não possuem a capacidade de se multiplicar e sobrevivem por tempo limitado.
Não apenas em sapos, agrupamentos celulares semi-vivos também foram observados em células pulmonares humanas. Neste caso, o nome conferido a esses pequenos grupos foi de androbots. Além de sobreviverem, as células pulmonares utilizadas em tecidos vivos de teste apresentaram uma função curativa.
Os androbots também apresentaram comportamento similar aos xenobots, tanto no comportamento mutacional, quanto no tempo de sobrevivência pós-evento mortal, que é de aproximadamente 4 a 6 semanas. Ainda que o tempo de sobrevida celular se prolongue por semanas após a morte do organismo originário, por fim, esse conjunto biológico acaba navegando pelo rio Estige.
Até este momento, não foi possível constatar os mecanismos exatos que fazem com que essas células se agrupem e mutem funcionalmente, no entanto, os estudos irão continuar.
Futuro da medicina
Essa observação pode mudar os rumos da medicina regenerativa e das declarações de óbito, assim narram os pesquisadores responsáveis pelo estudo. Segundo eles, a capacidade de mutação funcional dos xenobots e dos androbots poderiam ser utilizadas como estratégias no tratamento de doenças como a fibrose cística no combate a placas arterioscleróticas.
Os androbots poderiam ser “programados” para desfazer as placas sem representar risco à vida do paciente.Fonte: Getty Images
Segundo o grupo de pesquisa, técnicas seguras poderiam ser desenvolvidas para aplicações nesses tipos de casos, pois as células não possuem a capacidade de se multiplicar e morrem em um tempo programado, impedindo infecções e o desenvolvimento de outros agravos.
Este ainda é um campo bastante experimental e os mecanismos continuam sob investigação, sendo assim, a pesquisa pode ser um campo promissor para estudo, ou ainda, apenas uma curiosidade espetacular sobre como ainda há vida diante da morte.
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