Às vésperas de missões planejadas para o espaço profundo ainda nesta década, o objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da exposição à microgravidade e à radiação cósmica galáctica (GCR) na saúde dos astronautas, em missões que poderão durar anos no espaço. O foco foram órgãos viscerais indispensáveis, como os rins, até agora pouco explorados.
Problemas à saúde dos astronautas em viagens espaciais já são de conhecimento dos cientistas desde a década de 1970, ou seja, anos depois que os humanos se aventuraram para além do campo magnético da Terra, com a Apollo 8 e, logo depois, no desembarque à Lua em 1969.
Além de perda de massa óssea, muitos astronautas mostraram enfraquecimento do coração e da visão, além do aumento generalizado de cálculos renais. Tanto na época como agora, a hipótese mais aceita é que esses problemas estariam ligados à exposição aos ventos solares e à GCR proveniente do espaço profundo.
Como foi feita a pesquisa sobre os astronautas que deixaram a Terra?
Astronautas da Apollo 8 foram os primeiros homens expostos à GCR. Fonte: Getty Images
Até hoje, apenas 24 seres humanos que viajaram para a Lua foram expostos à GCR, por períodos entre 6 a 12 dias. Como ninguém havia estudado que tipo de alterações podem ocorrer nos rins e em outros órgãos em consequência dessas missões, uma equipe de pesquisadores de mais de 40 instituições em cinco continentes conduziu uma série de experimentos com essa finalidade.
Segundo um release, foram analisados dados fisiológicos, anatômicos e biomoleculares de 20 coortes de estudo, inclusive de missões na órbita baixa da Terra (LEO) realizadas por humanos e roedores na Estação Espacial Internacional (ISS), além de 12 simulações envolvendo camundongos e ratos. Em sete delas, os animais emularam viagens espaciais profundas, com doses de GCR equivalentes a expedições a Marte durante 1,5 e 2,5 anos.
Conforme o líder do estudo, Keith Siew, embora já se soubesse o que aconteceu aos astronautas em missões espaciais curtas, “o que não sabemos é porque é que esses problemas ocorrem”.
Por que o estudo diz que uma viagem à Marte acabaria em hemodiálise?
Astronautas que forem a Marte, terão que se submeter à hemodiálise, diz estudo.Fonte: Getty Images
A conclusão da pesquisa foi que os rins dos astronautas, e também dos roedores, pareciam ter passado por um processo de “remodelação”. Antes mesmo de completar um mês no espaço, os túbulos renais, responsáveis pelo ajuste do equilíbrio de cálcio e sal (eletrólitos) no corpo, começam a encolher, o que os pesquisadores atribuíram à microgravidade e não à GCR.
O principal achado da equipe foi que a alteração no processamento dos sais nos rins, e não a perda óssea, causou o acúmulo de cálcio na urina dos astronautas. Para Siew, “se não desenvolvermos novas formas de proteger os rins, eu diria que, embora um astronauta possa chegar a Marte, poderá necessitar de diálise no regresso”, avaliou.
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