Em Viagem ao Centro da Terra, Júlio Verne plantou uma sementinha exploratória em nossas imaginações. Qual criança não tentou cavoucar no quintal tentado alcançar o coração da Terra?
Essas crianças cresceram e algumas se tornaram exploradores profissionais, mas conseguiram fazer escavações com no máximo 12,2 km de profundidade. O poço superprofundo de Kola, mal arranhou a crosta.
Infelizmente, ao contrário da aventura fantástica de Verne, a exploração real não é tão simples. Para se chegar ao núcleo teríamos que ser capazes de cavar além dos 6 mil metros de profundidade, para então descobrir um Sol dentro do nosso planeta, atravessando ao menos duas, das três camadas da Terra.
Nenhuma mãe ficava feliz com os buracos no jardim, mas as crianças se divertiam.Fonte: Getty Images
Mas quer saber como temos tanta certeza sobre camadas, profundidades e materiais existentes em cada uma dessas estratificações terrestres? Continue acompanhando que a gente conta para você.
Como sabem o que existe abaixo dos nossos pés?
Estudar nosso planeta reúne uma série de diferentes campos da ciência. Física, geologia, engenharias, geografia, química dentre tantas outras áreas se debruçam sobre como nosso planeta foi criado e está se desenvolvendo.
Sim, se desenvolvendo, pois a cada dia há mudanças na forma como as camadas internas interagem, causando mudanças na paisagem e até mesmo proporcionando uma desaceleração nuclear, que pode extinguir o campo magnético terrestre em alguns milhões de anos.
As camadas da Terra, são similares a uma cebola, só que com menos camadas.Fonte: Getty Images
Acredita-se que nos eventos iniciais da criação do nosso sistema planetário, um aglomerado de rochas e metais incandescente e rodopiante foi gradualmente resfriando, dando forma ao nosso planeta. Ainda guardamos no centro da Terra, resquícios dessa criação, sendo que o núcleo terrestre possui calor.
Com o resfriamento, nosso planeta foi sendo estratificado em camadas, que ao contrário do que se possa pensar, não são bem definidas. Suas fronteiras são difusas. Porém, é possível identificar seus limites através dos materiais, sejam rochosos ou metais, encontrados em cada uma dessas camadas. De fora para dentro, a Terra vem sendo resfriada ao longo dos milênios.
Como não temos tecnologia suficiente para abrir caminhos até o núcleo terrestre, as medidas que temos são feitas indiretamente, a partir de estudos de sismologia, observação de vulcões, entre outros métodos de estudo.
As sondas espaciais pousadas em outros planetas utilizam dos mesmos métodos para estudar a composição planetária.Fonte: Getty Images
Para medidas sismológicas, por exemplo, provocamos pequenos abalos sísmicos, mini terremotos, e verificamos quais sinais podem ser obtidos naquela região. Cada material, sejam rochas mineralizadas ou cristalizadas, metais, líquidos ou outros elementos, apresentam um tipo de vibração diferente, que pode ser identificado nas leituras sismológicas, auxiliando no diagnóstico do solo.
Com os dados em mãos, se pode teorizar e construir modelos que expliquem como a Terra tem se moldado ao longo dos últimos 4 bilhões de anos.
Do núcleo incandescente à crosta terrestre
Nosso planeta é divido em três principais camadas, sendo: núcleo, manto e crosta. Cada uma dessas camadas pode ser subdivida, tendo nomes específicos dependendo de sua localização e profundidade. Vamos começar nossa exploração de dentro do coração terrestre.
Núcleo
O núcleo é quase um Sol interno. Com uma temperatura estimada em aproximadamente 5,2 mil graus celsius, o coração da Terra é formado pelos metais ferro e níquel, em estado “semi- sólido”. A temperatura é suficiente para que os metais estejam em estado líquido, no entanto, a pressão interna faz com que eles se comportem como sólido.
É no núcleo que a maioria do campo magnético da Terra é criado. Estima-se que quando o núcleo se resfriar completamente, nossos “escudos” eletromagnéticos serão extintos, deixando a Terra a mercê do mau-humor solar e suas rajadas mortais de ventos. Ele pode ser divido em interno e externo.
Acredita-se que o núcleo tenha um uma espessura de mais de 3 mil quilômetros, unindo sua parte interna e externa.Fonte: Getty Images
Manto
O manto corresponde a maior camada da Terra e pode ser dividida em astenosfera e litosfera. A astenosfera faz fronteira com o núcleo externo, enquanto a litosfera é a parte superior do manto, fazendo divisa com a crosta.
Os principais elementos encontrados no manto são: magnésio, silício e oxigênio. É do manto que se origina o magma expelido pelas chaminés vulcânicas. Estima-se que essa camada possua 2,9 mil quilômetros de espessura.
Os vulcões são uma comunicação entre a crosta terrestre e o manto.Fonte: Getty Images
Crosta
Chegamos de volta à superfície. Estima-se que a crosta terrestre possua ao menos 40 km de espessura. Ela pode ser dividida em crosta oceânica e crosta continental. A crosta oceânica é formada em sua maioria por basalto e a continental é formada por rochas, sedimentos, entre outros elementos do solo.
O conhecido movimento de placas tectônicas se origina no deslizamento de uma camada da crosta oceânica por baixo de uma camada continental, formando não apenas terremos, mas aumentando relevos, como no monte Everest, que cresce conforme as placas indianas da eurásia interagem.
O movimento é constante, sendo assim, a Terra está sempre se moldando e remodelando.Fonte: Getty Images
A jornada da Terra
Todas as camadas da Terra estão em constante interação, moldando, remodelando, criando e mantendo condições para que a vida tenha suporte neste planeta. As divisões são, antes de tudo, modelos teóricos para o estudo mais detalhado do nosso lar.
Algum dia poderemos ser apenas mais um mundo gelado no espaço.Fonte: Getty Images
Todo conhecimento produzido aqui é transposto na forma como estudamos outros mundos rochosos, suas formações, prevendo inclusive eventos futuros, como, por exemplo, o que acontecerá quando o núcleo da Terra esfriar?
Até lá, ainda há muito a escavar e descobrir. Talvez algum dia, uma criança crescida, exploradora profissional, poderá tornar a aventura verniana possível.
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