Um apagão na madrugada desta sexta-feira (30) deixou partes de todos os estados da Venezuela sem luz, além do próprio distrito onde fica a capital, Caracas, afirmou a imprensa local. Como de costume, o regime de Nicolás Maduro atribui o problema a uma suposta sabotagem, acusação que seus opositores frequentemente negam.
“Estamos informando que aproximadamente às 4h40 da madrugada (5h40 de Brasília) de sexta-feira, 30 de agosto, aconteceu na Venezuela uma sabotagem elétrica (…) que afetou quase todo o território nacional”, afirmou o ministro da Comunicação, Freddy Ñáñez, ao canal estatal VTV, sem apresentar evidências. “Os 24 estados estão reportando falta total ou parcial de fornecimento de energia elétrica.”
O incidente joga incerteza sobre a audiência da manhã desta sexta-feira (30) para a qual foi convocado Edmundo González, principal opositor do ditador Nicolás Maduro nas eleições do final de julho. É a terceira vez que o Ministério Público convoca o diplomata a prestar depoimento —ele pode ser alvo de um mandado de prisão se, como nas duas vezes anteriores, decidir não comparecer.
O procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, não respondeu imediatamente à agência de notícias Reuters sobre a manutenção da audiência.
De acordo com declarações à televisão estatal do ministro do Interior, Diosdado Cabello, a energia começará a retornar em breve, começando pela capital. “Começará a chegar aos poucos nacionalmente, com protocolos de segurança”, disse ele pela manhã.
Já o ministro dos Transportes, Ramón Velásquez, afirmou que os serviços no metrô da cidade foram interrompidos e substituídos por mais de 250 ônibus.
Mesmo assim, parte dos trabalhadores foram afetados pelo incidente. Em Caracas, por exemplo, trabalhadores se reuniram do lado de fora de prédios de escritórios na Plaza Venezuela.
“Não sabemos quanto tempo isso vai durar”, disse o faxineiro Bartolo Polanco, que havia chegado de ônibus da cidade onde mora, Guarenas. “Estamos esperando a instrução do nosso chefe para ir para casa se não pudermos trabalhar.”
O trabalhador de padaria Alejandro Rondón, 25, disse que a máquina de pagamento com cartão ainda estava funcionando e ele estava vendendo o que podia. “Não podemos fazer nada hoje porque os fornos não estão funcionando. Meu medo é pelo fermento, que precisa estar frio”, disse ele.
O apagão também afetou algumas operações da empresa estatal de petróleo PDVSA (Petróleos de Venezuela), incluindo sua menor refinaria, El Palito, e a sede da empresa em Caracas, disseram fontes próximas às operações. O maior complexo de refino da PDVSA, Paraguaná, não foi afetado, no entanto.
Apagões são frequentes na Venezuela na última década. O pior deles ocorreu em março de 2019, deixando o país às escuras por vários dias. Mais recentemente, regiões do oeste do país como Táchira e Zulia, estado importante para o setor petrolífero, têm sofrido cortes diários de energia.
“Vivemos isso em 2019, sabemos o que nos custou em 2019, sabemos o que nos custou recuperar o sistema elétrico nacional desde então e hoje estamos enfrentando isso”, afirmou Ñáñez.
Embora a ditadura normalmente atribua essas falhas a supostas conspirações orquestradas pelos Estados Unidos e pela oposição para derrubá-la, líderes da oposição e analistas independentes costumam responsabilizar o regime pela falta de investimento.