Familiares de presidiários na Venezuela realizaram nesta quarta-feira (12), em Caracas, atos em apoio à greve de fome promovida por internos de diversos centros de detenção do território.
Iniciado no domingo (9), o movimento dos presidiários foi motivado por denúncias de uma série de irregularidades no sistema carcerário venezuelano, incluindo corrupção, atrasos processuais e acesso limitado a alimentos.
Ativistas de direitos humanos acusam o regime de superlotar os centros de detenção das delegacias e de manter os cidadãos nesses locais por anos inteiros, quando a lei diz que eles só podem passar alguns dias neles.
“Eles têm seus direitos violados, passam fome”, afirmou Sandy Rondón, 43, que protestava nos arredores do Palácio de Justiça, no centro de Caracas, ao lado de outras cem pessoas, aproximadamente.
Ela contou que seu filho, preso há quatro anos, nunca chegou a ir a julgamento. Ao seu lado, os demais manifestantes clamavam por justiça e gritavam “queremos respostas”.
A ONG Observatório Venezuelano de Prisões calcula que a greve tenha se espalhado por 19 presídios e 30 centros de detenção em delegacias. Segundo o governo, há no país 44 presídios e cerca de outros 400 estabelecimentos carcerários de outros tipos.
O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, nomeou na terça-feira (11) um novo chefe para a pasta de Serviços Penitenciários, declarando, sem mencionar a greve, que a indicação buscava “acabar com a corrupção”.
O novo ministro é o deputado Julio García Zerpa. Ele substitui Celsa Bautista, no cargo desde fevereiro de 2023.
Alguns dos presídios em que há registros de greve são os mesmos que, no ano passado, receberam detentos de outros centros prisionais —no total, cerca de 9.000 presos foram transferidos de sete estabelecimentos após uma intervenção do regime.
Em muitos casos, esses presos foram levados para instalações carcerárias localizadas a centenas de quilômetros dos tribunais onde seus processos tramitam.
Embora prevista pela Constituição do país, a liberdade de reunião dos venezuelanos é na prática bastante restrita, e confrontos violentos entre manifestantes e forças de segurança são frequentes.
O Observatório Venezuelano de Conflito Social (OVCS) registrou 1.243 protestos no território no primeiro trimestre deste ano. O número —que equivale, em média, a 14 atos por dia—, é 56% menor que o do mesmo período do ano passado.