Uma nova ofensiva contra aliados de María Corina Machado, líder da oposição da Venezuela, nesta quarta-feira (20) fez diminuir as já reduzidas expectativas do grupo quanto às eleições presidenciais, marcadas para 28 de julho.
Afinal, quem quer que concorra no lugar dela —a própria María Corina está inelegível por 15 anos— a princípio pode terminar na prisão.
É essa a perspectiva que 14 colaboradores da líder, nove dos quais foram acusados de “ações desestabilizadoras” pelo Ministério Público venezuelano na quarta, enfrentam —metade está detida, enquanto a outra metade é alvo de mandados de prisão.
Entre os perseguidos está Magalli Meda, braço direito da política inabilitada e um dos principais nomes cotados para substituí-la nas urnas.
“Sabem que estão derrotados, porque não há maneira de vencerem uma eleição contra nós”, disse María Corina sobre o novo avanço contra os seus aliados.
A dissidente com folga as primárias realizadas em outubro passado com a anuência do regime, num resultado suspenso pela Justiça logo em seguida. Alguns institutos apontam que ela derrotaria o ditador Nicolás Maduro com folga, tendo em média 70% das intenções de voto, contra entre 15% e 20% dele.
O período de registro de candidaturas para o pleito começa nesta quinta-feira (21) e termina na segunda (25). Saiba quais são os cenários eleitorais possíveis abaixo.
Oposição insiste na candidatura de María Corina
Esta é impossível. O registro dos candidatos é feito por um sistema automatizado em que o postulante cadastra o número de seu documento de identidade. E María Corina não pode exercer cargos públicos por 15 anos, tendo sido considerada culpada pelo Judiciário venezuelano —alinhado ao regime— por corrupção e incitação a invasão estrangeira. Ela nega as acusações.
Oposição apresenta um candidato de fachada
Só dois partidos podem concorrer nas eleições de acordo com Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano. São eles o PUD (Plataforma Unitária) e o UNT (Um Novo Tempo).
Isso a princípio se traduziria em duas candidaturas. O problema é que também estas podem ser rejeitadas pela autoridade eleitoral.
Ou seja: mesmo um candidato de fachada que herdasse as elevadas taxas de intenção de voto em María Corina corre o risco de acabar banido pelo chavismo.
Oposição opta por uma terceira via
Também está em debate a opção de María Corina endossar um candidato da oposição tradicional e mais palatável para o chavismo.
O primeiro nome que vem à mente nesse sentido é o de Gerardo Blyde, que chefia a delegação dissidente nas negociações com o regime, mediadas pela Noruega.
Ele não está inabilitado, não apoiou abertamente as sanções contra o regime, é próximo de María Corina e tem um canal de diálogo aberto com o chavismo graças às negociações.
Em entrevista recente, porém, Blyde afirmou que a Presidência da Venezuela não lhe interessa.
Outra opção é Manuel Rosales que enfrentou Hugo Chávez nas eleições presidenciais de 2006 e em seguida se exilou no Peru. Embora ele tenha se reunido com María Corina na terça (19), segundo relatos da imprensa, a opositora não é próxima dele.
De todo modo, qualquer candidatura de oposição que não tenha o apoio de María Corina e sua base eleitoral parece ser politicamente inviável, aponta Guillermo Tell Aveledo, cientista político e professor da Universidade Metropolitana (Unimet), em Caracas.
Candidatos colaboracionistas concorrem contra Maduro
A palavra “alacrán” (escorpião, em português) é usada na Venezuela para descrever políticos que se dizem antichavistas, mas que são acusados de colaborar com o chavismo.
É nessa categoria que José Brito e Luis Ratti, que já anunciaram suas respectivas candidaturas, encaixam-se. Ambos confrontam María Corina e a PUD diretamente, a ponto de tentarem afastá-los da disputa por via judicial.
Outro potencial candidato com esse perfil é o humorista Benjamín Rauseo.