Figuras do alto escalão do chavismo começaram a pedir em Caracas a prisão da líder opositora María Corina Machado e do candidato Edmundo González, enquanto o ditador Nicolás Maduro afirma que a dupla é responsável por “atos de vandalismo no país”.
“Dizemos a eles: na Venezuela há que ter Justiça”, afirmou Maduro nesta terça-feira (30) após se reunir no Palácio de Miraflores com todos os seus ministros. “Nesta madrugada detivemos um grupo criminoso que trabalha diretamente com María Corina”, acrescentou, sem apresentar provas.
O discurso chavista contra a dupla que lidera a coalizão opositora e que afirma ter saído vencedora nas eleições de domingo (28) cresce no país. Com alegados 80% dos votos apurados, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), majoritariamente chavista, deu vitória a Maduro com 51,2%.
Mais cedo, Jorge Rodríguez, que preside a Assembleia Nacional controlada pelo regime e coordenou a campanha de Maduro, havia pedido no Legislativo a prisão de María Corina e de González.
O também radical Diosdado Cabello, outro no alto escalão chavista, disse na mesma Assembleia em Caracas que os dois líderes opositores seriam “acusados perante as autoridades competentes pelo mais graves crimes” .
“Não vão nos deter nem nos provocar”, afirmou Cabello. “Los vamos a joder [vamos ferrá-los]. Dar a maior lição das lições, vamos os deter.”
A Costa Rica, país da América Central, ofereceu asilo a María Corina e a González. “Fomos informados de que existem ordens de captura contra os dois; anunciamos que estamos dispostos a dar asilo político e refúgio na Costa Rica a eles e a todos os demais perseguidos políticos na Venezuela”, disse em comunicado o chanceler Arnoldo Tinoco.
O convite foi estendido especialmente aos seis opositores que há meses estão asilados na embaixada da Argentina em Caracas, prédio que a ditadura de Maduro agora ameaça invadir e cujo acesso à eletricidade teria cortado nesta terça, segundo a chancelaria do governo de Javier Milei.
As prisões continuam em Caracas em meio ao clima de tensão. Segundo a campanha opositora compartilhou com a reportagem, apenas no decorrer desta terça foram presos Freddy Superlano, ex-deputado e líder opositor, e um técnico eleitoral.
Com apoio da alta cúpula militar, Nicolás Maduro tem dito que há uma tentativa de golpe de Estado em curso no país com o apoio dos EUA. Já proclamado presidente, ele não havia dado qualquer sinal de que o regime divulgaria as atas eleitorais para que se comprove se houve lisura no processo da eleição.
Em um ato para sua base de apoio convocado nos arredores do Palácio de Miraflores, a sede da Presidência, Maduro pediu que haja uma “patrulha conjunta militar e policial” em todas as cidades do país. “O povo precisa estar mobilizado nas ruas todos os dias”, afirmou.
Em outra parte de Caracas, os apoiadores da oposição se reuniram em um ato convocado para o meio-dia (11h locais). Com o barulho dos “motorizados”, os moradores e entregadores que caminham em suas motos e têm participado dos protestos da oposição se organizando pelas redes sociais, o ato durou cerca de quatro horas.
Com vuvuzelas e muitas bandeiras do país, a população foi às ruas afirmar que houve fraude eleitoral. Muitos disseram que era “agora ou nunca”, em referência a uma possível queda do regime de Maduro.
Eles se dividiram, porém, entre ter ou não medo da repressão policial, mas estavam nas ruas grupos de diferentes idades. Alguns caminhavam em meio ao protesto com seus cachorros em coleiras.
Muitos que vivem nos arredores de Caracas, mas trabalham na capital não têm conseguido chegar devido ao bloqueio das entradas por atos e policiais. Trabalhadores também começam a ser dispensados mais cedo de seus postos para que possam pegar o transporte público e chegar em casa ainda com a luz do dia. Muitos comércios estão fechados.
Até a noite desta terça, a oposição afirmava possuir 81% das atas das urnas eletrônicas da votação de domingo e que, com essa amostragem, Edmundo González marcava 67% dos votos, ante 30% para Nicolás Maduro. Os dados do CNE falam em 51,2% para o ditador, e 44,2% para o opositor.