Nas redes sociais, dois tipos de pessoas têm se encontrado: quem deseja e quem vende fotos e vídeos eróticos personalizados. g1 publica reportagens sobre novidades do conteúdo adulto. ‘Pack do pezinho’: entenda fetiche por pés
De cosplay de anime a uniforme de faxineira, o visual de Psy Lunar é, nas palavras dela, como um camaleão. Enquanto o réptil muda a cor da pele, a performer varia a aparência conforme o gosto de sua clientela. E o cardápio à venda também é diverso.
Como encomenda, é possível negociar pacotes de foto e vídeo de sexo oral, anal, dupla penetração, podolatria, masturbação guiada, posições de BDSM (sigla para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão e Sadomasoquismo) e até fetiches personalizados.
Nesta semana, o g1 publica uma série de reportagens para explicar as novidades da produção de conteúdo pornô. Vídeos inspirados no TikTok, influenciadoras que fazem “avaliação de pau”, o lucrativo mercado da “venda de packs” e casas de conteúdo estão entre tendências.
Psy é a protagonista das cenas. Eróticas, as imagens estão à venda no OnlyFans, Privacy, SuicideGirls, Telegram, Twitter e Instagram. Com assinaturas pagas e estímulo das plataformas à prática, os três primeiros sites são as principais fontes de dinheiro da performer e as únicas voltadas, de fato, à pornografia.
O restante das redes, explica Psy, é onde as compras acontecem via chat, que, em geral, levam a links externos para acesso aos conteúdos. Nessas páginas, em vez de assinaturas, o lucro vem por encomendas de pack — “pacote”, em inglês.
Os packs, que nada mais são do que pastas de fotos e/ou vídeos, são divididos por tema. O que mais atrai o público da Psy é, segundo ela, masturbação guiada, sexo anal e podolatria — o fetiche por pés.
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Pés valiosos
O preço dos packs varia conforme a quantidade, o tipo e as especificidades do conteúdo. Fica entre 80 reais e 200 dólares, afirma ela.
Se o cliente é brasileiro, o que ela diz ser a grande maioria do seu público de packs, então, o valor é cobrado em real. Se for gringo, em dólar.
Na vitrine de Psy, o pack de fotos engloba entre 5 e 20 imagens dela, com o corpo pelado, seminu ou até vestido — em peças como de estudante colegial, faxineira, bruxa, personagem de terror, ou cosplay de anime. Ela também tem peruca colorida, platinada e discreta.
Mas para seduzir os fãs de pé, um simples zoom, ou só o foco nos membros, já pode ser suficiente.
Luz, câmera e ação
No momento da encomenda, cada detalhe é importante. Se o cliente quer se deliciar com a podolatria, é preciso tipificar o fetiche: as unhas da modelo estarão pintadas? Se sim, de qual cor? É para ela mostrar a perna? Usar meia arrastão? Passar óleos corporais? Fazer quais poses? Tudo importa.
Isso vale para os vídeos, que podem ser uma sequência de filmagem de sexo lésbico, hetero, ménage à trois ou o que mais a imaginação da pessoa alcançar — e Psy topar pôr em ação.
Ela explica que packs de transa são mais caros do que os de foto de pé porque, no seu caso, são mais trabalhosos.
Entre os pacotes de valor mais alto de Psy, estão os conjuntos de vídeos em que ela é penetrada por dois homens, ou faz sexo com mais de uma pessoa, podendo chegar a US$200 (ou R$1000).
Um estúdio em casa
A atriz diz que, no mês passado, lucrou cerca de R$500 com a venda de seus packs. Avaliado por ela como “baixo”, o valor tem a ver com o foco que Psy tem dado a seu trabalho nos últimos tempos, nos quais privilegia o conteúdo voltado a assinantes de plataformas, que lhe rende cerca de R$5.500 por mês.
Mesmo assim, afirma Psy, a venda de packs não é um nicho que ela pretende abandonar.
“Têm pessoas que só querem comprar packs”, afirma. “Eles não querem vincular seus nomes a plataformas como OnlyFans para assinar [a esse tipo de site]. Por isso, vão lá nas redes [como Twitter e Instagram] para procurar alguém que esteja sempre criando pacotes.”
Não que não exista a procura por packs em sites de assinatura. Muitos assinantes fazem questão de desembolsar uma grana a mais só para ter prazer com cenas mais, digamos, personalizadas.
Com mais de 300 seguidores no OnlyFans, Micaela Molina conta que é comum receber pedidos de seus assinantes. Há quem lhe chame no chat para pedir nudes e quem queira vídeos de ela fazendo “facefuck”, um tipo de oral intenso e agressivo.
Micaela, que também trabalha como prostituta de luxo, afirma que cobra por foto entre US$ 5 e US$ 30, a depender do nível de exigências do cliente. Quanto aos vídeos, o preço fica ainda a mercê da minutagem.
Ela conta que, no passado, trabalhou com produtoras de pornografia, incluindo uma do próprio PornHub, um dos maiores sites do setor, mas largou as empresas e decidiu aderir ao soft porn, um pornô mais light.
A mudança na carreira também fez com que investisse mais em packs.
“Eu realmente não gostava de gravar com outros criadores e fazer conteúdos pesados. Até porque não gosto de vulgarizar a minha imagem”, afirma Micaela. “Agora, produzo sozinha. É muito mais rápido. Minha amiga que mora comigo tira minhas fotos e grava os vídeos.”
O poder da compra
Em meio a dezenas de sites de pornografia gratuitos, é possível que você se pergunte o porquê alguém gastaria dinheiro para receber um anexo com algumas fotos ou vídeos empacotados numa nuvem virtual, ou num link que expira rápido — conteúdos que, aliás, são proibidos de serem repassados, podendo render processos a quem descumprir a ordem.
Para Will Camello, que gerencia a produção e venda de conteúdo erótico de Bad Cole, sua namorada, a resposta tem a ver com a sensação de poder que o dinheiro dá, somada ao tesão.
Ele conta Bad Cole já recebeu pedidos que, a seu ver, estão mais relacionados a um fetiche pelo poder financeiro do que pela cena em si. Como exemplo, cita as vezes em que pediram — e pagaram cerca de US$ 20 — para ela gravar vídeos soltando gases, ou para não usar eufemismos, peidando.
“Pedem tudo que você imaginar. Tem gente que pede para ela escrever o nome da pessoa na bunda, barriga, peito. Outros pedem vídeo só do rosto”, diz ele. “A brisa do cara não é nem sexual. É ‘vou te dar dinheiro e você faz o que estou falando’.”
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