O ano de 2024 é marcado por uma série de eleições na Europa. A Finlândia abre a temporada de votações com um pleito presidencial, em 28 de janeiro. Em março, é a vez dos russos irem às urnas, em uma votação praticamente definida pela permanência de Vladimir Putin no poder.
No mesmo mês, Portugal será palco de eleições legislativas após um escândalo de corrupção que resultou na demissão do primeiro-ministro António Costa e na dissolução do Parlamento. Bélgica, Áustria, Croácia e Lituânia também irão às urnas. Outras aguardadas eleições ocorrerão no Reino Unido, ainda sem data definida, provavelmente no fim do ano.
Já na Ucrânia, Volodimir Zelenski descartou recentemente a possibilidade de realizar a votação prevista para a escolha do próximo presidente, já que o país segue em guerra contra a Rússia.
De 6 a 9 de junho, ocorrerá o maior pleito transfronteiriço do mundo: as eleições para renovar o plenário do Parlamento Europeu, para as quais 400 milhões de eleitores estão inscritos. Com a ultradireita representando a segunda força política em mais de um terço dos países do bloco, a votação pode se transformar em um referendo a favor ou contra a União Europeia.
“Será que iremos construir uma Europa poderosa e uma ‘Europa-potência’, que nos dará importância no mundo diante de China, Índia e Estados Unidos? Para isso, precisamos nos unir e trabalhar juntos. Ou vamos implodir, fragmentar”, diz o eurodeputado francês Pascal Canfin, da bancada centrista e liberal Renew-Europa, um dos sete grupos políticos da atual legislatura no Parlamento Europeu.
Com a institucionalização de discursos ultranacionalistas, Canfin teme pelo futuro da União Europeia. “A realidade de uma extrema direita forte na Europa, a ponto de ganhar em grandes países como a França e a Alemanha, será o fim da União Europeia”, ressalta.
O eurodeputado Jordan Bardella, presidente do partido francês Reunião Nacional, de ultradireita, encabeça a campanha da legenda para as eleições europeias, focada no combate à imigração. Uma pesquisa realizada em novembro do ano passado pelo instituto OpinionWay mostrou que o partido lidera a preferência do eleitorado francês, com 28% das intenções de voto.
A Alemanha, país mais populoso do bloco, elege o maior número de deputados no Parlamento Europeu, 96 no total. Em 2019, o partido alemão de ultradireita AfD obteve 11% dos votos e ficou com nove cadeiras. Neste ano, a legenda espera dobrar o resultado.
O correspondente do portal de notícias France Info em Berlim, Sebastien Baer, lembra que a ultradireita é hoje a segunda força política na Alemanha e tem cerca de 20% de intenções de voto. “A AfD está atrás dos conservadores da coligação CDU/CSU, mas supera os três partidos da coalizão no poder [social-democratas, verdes e liberais] e registra uma forte popularidade”, ressalta.
A popularidade da ultradireita na Europa, porém, vai além das eleições. Na Áustria, que realiza um pleito legislativo em setembro, o ultraconservador FPO, Partido da Liberdade, acumula cerca de 30% das intenções de voto.
Em Portugal, onde a esquerda resiste, o partido de ultradireita Chega registra 17% das intenções de voto para as eleições legislativas de 10 de março —em terceiro lugar nas pesquisas e atrás do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, de centro-direita. A disputa está acirrada entre essas duas legendas, ambas com 27% de intenções de votos.
O pleito foi convocado pelo presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, após a demissão do primeiro-ministro socialista António Costa, envolvido em um escândalo de corrupção.
Alguns dias depois das eleições legislativas em Portugal, de 15 a 17 de março, a Rússia vai às urnas para uma votação que, ao que tudo indica, terá como resultado a permanência de Vladimir Putin no poder, para seu quinto mandato na Presidência do país.
A oposição russa é praticamente inexistente devido aos vários anos de repressão, que colocaram rivais de Putin atrás das grades ou os levaram ao exílio. Um dos poucos candidatos a conseguir a aprovação da Comissão Eleitoral russa é Nikolaï Kharitonov, 75, do Partido Comunista.
A legenda se declara oficialmente como opositora, mas na prática apoia o Kremlin. “O programa do Partido Comunista russo se concentra em dois eixos: a nacionalização da produção e uma política social reforçada para favorecer o desenvolvimento da ciência e um aumento da natalidade. São objetivos que se unem aos de Putin”, diz o correspondente da RFI em Moscou, Jean-Didier Revoin.
Segundo ele, essa é uma prova de que os comunistas permanecem sendo um dos fundamentos da oposição aceita pelo sistema, “ou seja, aquela que pode atuar no Parlamento com o aval do Kremlin”. Revoin destaca que as metas dos comunistas e do partido Rússia Unida, de Putin, são as mesmas: “encarnar as aspirações sociais da sociedade dentro de um jogo político particular, que caracteriza a Rússia”.
Em dezembro passado, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, anunciou que o Reino Unido terá eleições gerais, provavelmente no final deste ano. Os conservadores terão a dura missão de reconquistar o eleitorado após escândalos sexuais, polêmicas relacionadas às políticas adotadas durante a pandemia de Covid-19, além da crise econômica que não dá trégua no país, sacudido por greves durante todo o ano de 2023.
Segundo uma pesquisa do Instituto Ipsos divulgada no final de dezembro, o Partido Trabalhista, de esquerda, domina a preferência dos eleitores, com 41% das intenções de voto.