Vaughan Gething se tornou na quinta-feira (21) a primeira pessoa negra a liderar um governo nacional na Europa, um dia depois de ser eleito o novo primeiro-ministro do País de Gales.
Em um discurso para o Senedd, o Parlamento galês, Gething, que nasceu na Zâmbia, destacou a natureza histórica de sua eleição em um lugar onde quase 94% da população de cerca de 3 milhões de pessoas é branca, de acordo com dados do governo.
“É uma questão de orgulho, eu acredito, para um País de Gales moderno, mas também uma responsabilidade assustadora para mim e que eu não levo de ânimo leve”, disse ele.
“Mas hoje também podemos esperar um padrão de abusos nas redes sociais, com tropas racistas disfarçadas com linguagem educada e pessoas questionando minhas motivações. E, sim, ainda questionarão ou negarão minha nacionalidade, enquanto outros questionarão por que estou jogando a carta da raça.”
A esses críticos, Gething disse: “É muito fácil não se importar com a identidade quando a sua nunca foi questionada ou o impediu de avançar. Eu acredito que o País de Gales de hoje e do futuro será de propriedade de todas aquelas pessoas decentes que reconhecem que nosso Parlamento e nosso governo devem se parecer com o nosso país.”
Gething, 50, foi eleito líder do Partido Trabalhista que governa o País de Gales nesta semana, e em seguida, foi eleito primeiro-ministro pelo Senedd. Ele também recebeu a aprovação do rei Charles 3º, um passo administrativo cerimonial. A ascensão deGething como primeiro-ministro de Gales significa que, pela primeira vez, nenhum dos quatro governos do Reino Unido será liderado por um homem branco.
O primeiro-ministro Rishi Sunak, da Grã-Bretanha, é de ascendência indiana. Humza Yousaf, o primeiro-ministro da Escócia, é de ascendência paquistanesa. Na Irlanda do Norte, Michelle O’Neill se tornou primeira-ministra no mês passado, a primeira católica a ocupar esse cargo.
O governo de Sunak supervisiona a operação do serviço civil e das agências governamentais e toma decisões para a Inglaterra, mas algumas responsabilidades são deixadas para os funcionários eleitos em Gales, Escócia e Irlanda do Norte —resultado de um processo de décadas chamado devolução.
Gething passou grande parte de sua vida na política. Ele se tornou ativo no Partido Trabalhista galês aos 17 anos, fazendo campanha sem sucesso nas eleições gerais de 1992. Tornou-se advogado sindical e sócio da empresa sindical Thompsons. Também foi a primeira pessoa negra e a mais jovem a ser presidente do Congresso Sindical do País de Gales, um consórcio de dezenas de sindicatos.
Em 2011, ele se tornou o primeiro homem negro a ser ministro no Reino Unido e, desde então, ocupou vários cargos no Parlamento galês, incluindo a chefia das pastas de Economia e e de Saúde, esta durante o auge da pandemia de coronavírus.
Gething enfrentou críticas por aceitar 200 mil libras (R$ 1,2 milhão) em doações para sua campanha de uma empresa de reciclagem administrada por um homem que havia sido considerado culpado de despejar ilegalmente resíduos em terras protegidas no sul de Gales.
Questionado sobre as doações em um debate da BBC, ele disse que elas foram “verificadas e arquivadas corretamente com a Comissão Eleitoral e declaradas ao Senedd”, informou o The Guardian.
Em seu discurso na quinta-feira (21), Gething disse que queria que o País de Gales “prosperasse na luz do sol que a esperança e a justiça social podem oferecer a todos nós, não importa qual seja nossa origem, como somos ou quem amamos.” Ele acrescentou —”podemos abraçar um novo otimismo e uma nova ambição por um País de Gales mais justo construído por todos nós.”