A Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe, Cepal, apresentou seu relatório anual sobre as perspectivas do comércio internacional na região.
De acordo com documento, em um contexto de comércio mundial muito frágil, o valor das exportações de bens da América Latina e do Caribe cairá 2% em 2023.
Preços x volume
Segundo o relatório, a região aumentará o volume de exportações em 3%, mas isso não será suficiente para compensar a queda de 5% nos preços de seus produtos de exportação.
Por outro lado, o valor das importações de bens de consumo cairá 6%. Segundo a última projeção divulgada pela comissão em setembro, esse número reflete a fraqueza da atividade econômica regional, com projeção de crescimento do PIB de apenas 1,7% até 2023.
As exportações da América do Sul e do Caribe devem apresentar as maiores quedas em termos de valor. Por outro lado, espera-se que as remessas da América Central e do México cresçam 2%, devido à sua menor dependência de matérias-primas e ao seu vínculo mais forte com o mercado dos Estados Unidos.
Os países que registram as maiores quedas nas exportações são, em sua maioria, exportadores de hidrocarbonetos ou produtos agrícolas. Doze países da região aumentariam o valor de suas exportações em 2023, enquanto apenas sete países aumentariam suas importações.
Turismo aumenta exportações regionais de serviços
As exportações regionais de serviços devem crescer novamente em 2023, com um aumento projetado de 12% no valor, impulsionado principalmente pelo turismo e pelos chamados “serviços modernos”, que incluem uma ampla gama de serviços prestados digitalmente, como serviços de tecnologia da informação, financeiros e comerciais.
Apesar de completar seu terceiro ano consecutivo de crescimento, as exportações de serviços regionais diminuirão em 2023, à medida que o turismo se aproxima de seus níveis pré-pandêmicos.
O apelo da Cepal é para que os países implementem políticas de desenvolvimento produtivo para diversificar e sofisticar sua cesta de exportações, incluindo atrair investimento estrangeiro direto em setores estratégicos.
O secretário executivo da agência, José Manuel Salazar-Xirinachs, afirma que “o desafio continua sendo diversificar e sofisticar a cesta de exportações a fim de reduzir a dependência excessiva de matérias-primas, especialmente na América do Sul”.
Segundo ele, para isso, é fundamental implementar políticas de desenvolvimento produtivo com uma abordagem de cluster em setores estratégicos.
Importância da integração na região
De acordo com as recomendações fornecidas na publicação, em um contexto de crescente regionalização do comércio mundial, é fundamental aprofundar a integração regional, pois isso reduziria a vulnerabilidade a um ambiente de comércio global mais incerto e geraria escalas de produção eficientes para os setores da região.
Conforme informações do relatório, a fraqueza do comércio mundial é resultado da desaceleração da economia global, em um cenário de altas taxas de juros nos Estados Unidos e na Europa, uma crise imobiliária na China e o aumento das tensões geopolíticas.
As projeções mais recentes da Organização Mundial do Comércio, OMC, indicam que o volume do comércio mundial de bens de consumo cresceria apenas 0,8% em 2023. Até 2024, a OMC projeta uma expansão de 3,3%, que, se concretizada, deverá impulsionar as exportações da região.
Aproximação com a China
Sobre a relação comercial entre a América Latina e o Caribe e a China, o estudo afirma que, no período de 2000 a 2022, o comércio de bens entre a região e a China aumentou 35 vezes, enquanto o comércio total da região com o mundo aumentou apenas 4 vezes.
O comércio bilateral, que no ano 2000 mal ultrapassava US$ 14 bilhões, aproximou-se de US$ 500 bilhões em 2022. Assim, em 2010, a China desbancou a União Europeia como o segundo maior parceiro comercial da região e se tornou o maior parceiro comercial da América do Sul.
Para a Cepal, o setor de alimentos é o que oferece as melhores perspectivas de diversificação e sofisticação das exportações para a China no curto prazo. Para isso, a recomendação é abordagem das barreiras não tarifárias existentes e o fortalecimento da inteligência de mercado para melhor satisfazer as necessidades e os gostos dos consumidores chineses.
Facilitação do comércio
O relatório anual da comissão regional da ONU também oferece uma visão geral do progresso e dos desafios enfrentados pelos países da América Latina e do Caribe na facilitação do comércio, uma questão que ganhou relevância crescente em todo o mundo nos últimos anos.
Segundo uma pesquisa feita pela Cepal, os 26 países da região alcançaram uma taxa média de implementação de 71% para as principais medidas de facilitação do comércio. No entanto, a região ainda tem muito espaço para melhorar seu desempenho na digitalização de procedimentos e documentos comerciais.
O documento enfatiza que o progresso na facilitação do comércio é crucial, pois promove a internacionalização das Pequenas e Médias Empresas, que são desproporcionalmente afetadas por procedimentos comerciais complicados, atrai novos investimentos na estrutura de processos de offshoring próximos; promove a integração econômica regional e melhora a eficiência do Estado e combate a corrupção.
O relatório também destaca a necessidade de fechar gradualmente a lacuna da infraestrutura regional de transporte e logística. Para isso, e considerando o contexto atual de espaço fiscal limitado, é essencial explorar opções de financiamento inovadoras, como fundos de infraestrutura verde e investidores institucionais.
Por fim, o relatório recomenda que se avance em direção à multimodalidade, reduzindo a atual dependência excessiva do transporte rodoviário e dando mais espaço para ferrovias e hidrovias.
*Com reportagem da Cepal