Um estranhamento no racismo: só o jogador rival é atacado – 29/05/2023 – O Mundo É uma Bola – EERBONUS
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Um estranhamento no racismo: só o jogador rival é atacado – 29/05/2023 – O Mundo É uma Bola

O racismo é crime e quem o comete deve ser punido, quando e onde aconteça. Ponto final.

Escrito isso, e na esteira do assunto mais comentado na esfera futebolística há vários dias, envolvendo o atacante Vinicius Junior na Espanha, existe algo intrigante no torcedor racista: ele só agride verbalmente, explicitamente (geralmente com gritos de “macaco” e fazendo a imitação do animal), jogador negro do outro time.

Considerando o episódio mais recente de ofensas raciais a Vini Jr., ocorrido no domingo retrasado em Valencia x Real Madrid, o que se nota?

O brasileiro, devido à cor de sua pele, esteve na mira dos fãs da equipe da casa, de forma obviamente condenável.

Só que desse mesmo jogo, defendendo o Valencia, participaram cinco jogadores negros: o português Thierry Correia, o holandês Justin Kluivert, o francês Dimitri Foulquier, o brasileiro Samuel Lino (ex-São Bernardo) e o norte-americano Yunus Musah.

E nenhum deles foi, pelo que se tem notícia, chamado de “macaco”, não foram em nenhum momento incomodados pelos torcedores que atacavam Vini Jr.

Não deixa de ser um comportamento estranho e incoerente, pois todos são igualmente negros, Vini Jr. e os demais. Pode-se inclusive abrir uma discussão para entender a razão.

Existe alguém que seja “meio racista”? No meu entender, não. Ou a pessoa é racista ou não é. E, sendo racista, o ódio dela engloba todos os que, na atual discussão, são negros.

Então por que os jogadores do Valencia são “preservados” por seus torcedores?

Porque eles vestem a camisa do time do coração, tiveram o aval da diretoria para vir. Insolitamente, tornam-se negros “diferentes”.

Assim, os fãs racistas (do Valencia, no caso, mas vale para os de qualquer outro time) os toleram. Para eles, melhor seria que não estivessem lá, mas, já que estão, não há muito o que se fazer.

Imagino um exemplo do pensamento do torcedor racista: “Macaco. Não deveria estar aqui, é vergonhoso. Mas, como joga direito às vezes, dá para suportar. Melhor não criar encrenca com ele. Só que quanto antes for embora, melhor”.

Lino, que começou jogando 32 vezes no atual Campeonato Espanhol, tem seis gols. Kluivert, filho do ótimo Patrick Kluivert (ex-Barcelona e participante da Copa do Mundo de 1998, na França), anotou outros seis.

Jogadores valiosos para um clube que nesta temporada flertou com o rebaixamento –ainda corre risco, faltando uma rodada.

O Valencia tem em seu plantel mais dois atletas negros: Moriba Kourouma e Mouctar Diakhaby, ambos da Guiné.

Eles, assim como os outros cinco (que jogaram mais ou menos vezes na Liga, mas no mínimo 24 partidas, o que mostra apoio da comissão técnica), não tenho dúvida, são desprezados, depreciados, detestados pelos torcedores racistas do Valencia –não são todos, frise-se, e quero crer que sejam a minoria.

Fãs esses que no íntimo, ou mesmo abertamente –se os à sua volta no estádio pensam da mesma forma–, mas sem estardalhaço, proferem impropérios a cada mínimo erro em campo desses jogadores.

Feita essa pensata, concluo que Vini Jr. é o alvo predileto dos torcedores racistas devido à enorme fama que tem: titular do Real Madrid e da seleção brasileira, rico, bem-sucedido, admirado, um dos melhores futebolistas do mundo. Craque.

Deve causar tremenda inveja aos preconceituosos de carteirinha. Azar o deles.


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