O porta-voz da agência da ONU para Refugiados, Acnur, destacou que após quase dois anos da invasão em larga escala na Ucrânia, cerca de 6,3 milhões de refugiados permanecem deslocados.
De acordo com Matthew Saltmarsh, 5,9 milhões de pessoas estão distribuídas pela Europa, enquanto aproximadamente 3,7 milhões permanecem deslocadas internamente. Esses números colocam a Ucrânia como um dos países com o maior número de refugiados, com cerca de um quarto de sua população deslocada.
Necessidades humanitárias
Para o Acnur, as necessidades humanitárias estão crescendo com o aumento dos bombardeios direcionados a civis e à infraestrutura civil, particularmente nas últimas semanas. Temperaturas congelantes e insegurança persistem, especialmente em regiões da linha de frente dos combates.
Segundo a agência, há uma crescente inquietação diante da ausência de assistência para numerosos refugiados. Embora a extensão da Proteção Temporária na União Europeia até março de 2025 seja positiva, é crucial manter o foco na inclusão plena e efetiva dos mais vulneráveis nos sistemas nacionais dos países receptores.
Em pesquisas, o Acnur tem avaliado os desafios enfrentados pelos refugiados ucranianos no exílio. Enquanto a maioria deseja retornar à Ucrânia, apenas 14% planejam fazê-lo em breve, devido a preocupações com segurança, acesso a serviços básicos, moradia e meios de subsistência.
Segundo Matthew Saltmarsh, aproximadamente 16,9 milhões de pessoas na Ucrânia precisam urgentemente de apoio humanitário. Ele afirma que o financiamento humanitário deve ser mantido para atender às necessidades urgentes nas regiões da linha de frente e apoiar as pessoas afetadas pela guerra.
Apoio às comunidades anfitriãs
O representante do Acnur enfatiza a importância de não forçar refugiados a retornar apenas por dificuldades no exílio. A maioria pretende permanecer nos países anfitriões, demandando apoio contínuo dos governos locais e da comunidade internacional para suas necessidades básicas, serviços essenciais e inclusão plena nas comunidades locais.
62% dos refugiados são mulheres e meninas, e 36% são crianças, o que, juntamente com o alto número de famílias monoparentais, aumenta o risco de violência de gênero.
Apenas metade das crianças e jovens refugiados da Ucrânia estavam matriculados nas escolas dos países anfitriões no início do ano letivo de 2023-2024. Isso indica um risco de muitos permanecerem fora da escola no próximo ano letivo, marcando o quarto ano consecutivo de interrupções na educação desde o início da guerra.
Entre 40 e 60% dos refugiados em idade ativa estão empregados. Acesso a trabalho digno continua sendo uma necessidade crucial, mas algumas barreiras existentes são treinamento intensivo de idiomas, reconhecimento de habilidades, cursos de aprimoramento e emprego condizente.
Cuidados de saúde
O acesso a cuidados de saúde também é uma preocupação, com 25% da população de refugiados necessitando de cuidados de saúde e enfrentando dificuldades para acessar o sistema nacional, devido a longas esperas, barreiras linguísticas e altos custos. Além disso, 30% dos lares relataram que pelo menos um membro enfrenta problemas de saúde mental ou psicossocial.
Pessoas com deficiência, aqueles com condições médicas graves e outros com necessidades específicas que fugiram da Ucrânia estão enfrentando desafios crescentes e dificuldades.
De acordo com o Acnur, as lacunas e barreiras à inclusão podem ser superadas com os investimentos corretos nos sistemas nacionais de proteção social, provisão de informações, acesso a serviços locais e abordagens inovadoras.
Acnur dentro da Ucrânia
Enquanto a guerra continua sem um fim à vista, muitos já estão trabalhando na reconstrução de suas casas e vidas em partes do país menos expostas a violências diretas.
O Acnur mantém a priorização da assistência humanitária em zonas de conflito e regiões recentemente recuperadas, visando salvar vidas e reduzir riscos de proteção para deslocados internos e retornados na Ucrânia.
Em 2023, mais de 2,54 milhões de pessoas foram alcançadas com proteção e assistência. Com a chegada do inverno, a resposta de inverno do Acnur visa atender 900 mil pessoas vulneráveis afetadas pela guerra entre setembro de 2023 e fevereiro de 2024.