Depois de uma eleição em que podcasts e influenciadores desempenharam um papel extraordinário, os conservadores foram rápidos em dizer que a mídia tradicional estava morta. Acontece que grande parte dela está apenas se mudando para a Casa Branca.
O presidente eleito, Donald Trump, cuja ascensão foi impulsionada pelo estrelato dos reality shows, está mais uma vez recorrendo à televisão para recrutar os principais membros do elenco de seu novo governo.
O mais recente foi o Dr. Mehmet Oz, ex-apresentador de TV sindicalizado que foi escolhido por Trump, na terça-feira (19), para supervisionar o Medicare (programa de seguro saúde para pessoas com mais de 65 anos) e o Medicaid (programa de saúde destinado a indivíduos e famílias de baixa renda).
Oz segue Pete Hegseth, que poderá deixar de ser co-apresentador da edição de fim de semana do programa “Fox & Friends” para supervisionar 1,3 milhão de soldados na ativa como secretário de Defesa, e Sean Duffy, apresentador da Fox Business e ex-estrela do programa “The Real World”, da MTV, que agora está pronto para dirigir o Departamento de Transportes —sua esposa, Rachel Campos-Duffy, é a antiga co-apresentadora do programa “Fox & Friends”, de Hegseth.
Mike Huckabee, escolhido por Trump para o cargo de embaixador em Israel, foi apresentador de um programa ao vivo da Fox News por sete anos. Tulsi Gabbard, que deverá ser nomeada para o cargo de diretora de inteligência nacional, foi colaboradora remunerada da Fox News até agosto. Tom Homan, escolhido para ser o “czar de fronteira” do líder republicano, foi colaborador da rede até a semana passada.
Nesse ritmo, a segunda temporada do governo Trump pode acabar com mais estrelas da televisão do que a primeira.
“Trump quer um governo que comece com ele, mas que sua equipe seja formada por comunicadores eficazes e que possam manter o país atualizado sobre o que estão fazendo em nome do povo americano”, disse Kellyanne Conway, conselheira da Casa Branca durante o primeiro mandato do líder republicano.
Uma diferença desta vez é o tamanho e a responsabilidade dos cargos nos quais Trump está preenchendo com figuras que são mais conhecidas por suas opiniões do que por suas habilidades gerenciais.
Hegseth serviu nas Forças Armadas, mas não tem experiência em supervisionar uma burocracia em expansão: o Departamento de Defesa é a maior agência do governo federal. Até 2022, Oz apresentava um talk show diurno; a partir do ano que vem, ele deverá ser o responsável por fornecer cobertura de saúde para mais de 150 milhões de americanos.
Conway —ela própria colaboradora da Fox News— disse em entrevista que Trump valorizava uma equipe “voltada para o público”, que pudesse transmitir uma mensagem clara.
Trump, apesar de todas as suas aparições em veículos de mídia de nicho durante a campanha, continua sendo um observador cuidadoso dos principais noticiários.
Na última vez em que ocupou o cargo, ele escolheu Larry Kudlow, estrela da CNBC, como seu principal assessor econômico, e Heather Nauert, âncora da “Fox & Friends”, como porta-voz do Departamento de Estado.
John Bolton, ex-embaixador nas Nações Unidas que se tornou um dos destaques da Fox News, foi seu assessor de segurança nacional. Nos últimos dias, Bolton criticou a escolha por Gabbard e se referiu à de Matt Gaetz, para chefiar o Departamento de Justiça, como “a pior indicação para um cargo no gabinete na história americana”.
Omarosa Manigault Newman, um rosto conhecido dos dias de Trump no programa “O Aprendiz”, também ocupou brevemente um cargo na Casa Branca. Isso terminou em ressentimento. Mais tarde, ela entrou para o “Celebrity Big Brother” e descreveu a administração do republicano como ruim.
O excesso de personalidades ligadas à Fox News prontas para fazer parte do novo governo é um contraste interessante com a suposta raiva de Trump contra a emissora, com a qual ele tem mantido um relacionamento turbulento.
Durante um período de cinco meses, no final de 2022 e início de 2023, Trump não apareceu na Fox News. E, recentemente, no fim de semana anterior ao dia da eleição, ele descreveu a rede como “não amiga” e reclamou da veiculação de anúncios pró-democratas.
Nada disso impediu Trump de usar o canal como uma espécie de empresa de recrutamento.
Laura Ingraham, apresentadora de longa data da Fox News, estava no ar quando a indicação de Hegseth foi anunciada na semana passada.
“Nossa, isso é muito legal”, disse Ingraham, parecendo surpresa. “Puxa, vamos sentir falta dele na Fox. Mas isso é um ganho para o país.”