As Nações Unidas afirmam que cerca de dois terços do território de Mianmar continuam assolados por conflitos, três anos depois da tomada do poder pela junta militar em fevereiro de 2021.
Nesta terça-feira, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse que a comunidade rohingya foi duramente atingida pelos confrontos armados envolvendo a junta militar no governo e os grupos de oposição.
Civis mortos
O chefe de direitos humanos declarou que o estado de Rakhine foi particularmente assolado desde que os combates recomeçaram em novembro passado. Mais de 554 pessoas morreram na região a partir de outubro.
A nota destaca de uma forma geral, o ano de 2023 marca um aumento do total de civis mortos pelos militares para mais de 1,6 mil. A alta foi de cerca de 300 vítimas em relação ao ano anterior.
O chefe de direitos humanos revelou ainda que das 26 mil pessoas presas por motivos políticos, 19.973 permanecem na situação. Somente nos últimos três anos, cerca de 1.576 pessoas morreram quando se encontravam detidas pelos militares.
Turk assinala que muitas comunidades, especialmente os rohingya, já estavam a sofrer com os impactos do ciclone Mocha e a limitação de meses de acesso humanitário e de prestação de assistência imposta pelos militares.
Comunicações e internet
Os serviços de comunicações e internet em cerca de 74 municípios são desligados de forma parcial, intermitente ou total, incluindo na maioria dos 17 municípios do estado de Rakhine.
Fora de Mianmar, os refugiados rohingya vivem “abarrotados em condições humanitárias terríveis em campos no Bangladesh e sem perspectivas seguras de regresso”.
A minoria birmanesa arrisca-se novamente a fazer viagens marítimas perigosas, numa realidade em que “poucos portos ou comunidades na região se mostram dispostos a aceitá-los ou acolhê-los”.
Ataques indiscriminados
Em nota separada, o relator da ONU sobre os direitos humanos* em Mianmar disse que Estados-membros da organização devem reavaliar as condições no país. Tom Andrews pediu ação urgente para salvar os mais vulneráveis do que chamou “ataques indiscriminados por parte de uma junta militar enfraquecida”.
O especialista destaca que os militares sofreram perdas significativas nos últimos três meses em ofensivas coordenadas pelas forças de resistência. A resposta da junta militar é “atacando civis com bombardeamentos aéreos e de artilharia contra cidades e aldeias capturadas pelas forças da oposição.”
O perito aponta crimes da junta com o uso “robusto de armas sofisticadas provenientes de fontes fora de Mianmar” numa situação que cria “uma oportunidade e uma obrigação para a comunidade internacional agir”.
*Os relatores de direitos humanos não são funcionários das Nações Unidas. Eles atuam de forma independente e não recebem salário pelo trabalho realizado.