A primeira “fotografia” das manchas solares foi feita em 1607, por Johannes Kepler. Inicialmente, o matemático e astrônomo alemão acreditou que as pequenas marcas observadas na superfície da estrela, eram causadas pela passagem do planeta Mercúrio.
No entanto, ao invés ser uma documentação sobre o movimento dos planetas, trabalho pelo qual ficou conhecido, Kepler registrou, pela primeira vez, a atividade de um ciclo solar.
Mas como Kepler conseguiu observar essas manchas no Sol? Qual a relevância dessas observações para a astronomia atual e como esse ciclo solar pode interferir na vida da Terra? Vem que a gente te conta.
Não olhe para o Sol
Um pouco de história da ciência para contextualizar sobre como o Sol vem apontando seus canhões para a Terra há eras e, como Kepler conseguiu olhar para o Sol sem perder a visão. Kepler iniciou suas observações celestes em um período pré-invenção do telescópio, que só foi desenvolvido por Galileu Galilei, havendo controvérsias, em meados de 1609.
Já ouviu falar em câmara escura? As máquinas fotográficas analógicas funcionam por um princípio semelhante.Fonte: Getty Images
Para observar o Sol, sem que suas retinas fossem queimadas, Kepler utilizou uma técnica chamada de câmara escura, onde um pequeno orifício aberto deixa a luz solar passar, formando uma projeção perfeita da estrela.
Através dessa imagem, o astrônomo foi registrando seus achados, marcando pequenas manchas e acompanhando seus movimentos e evoluções ao longo dos dias. Esse é o primeiro registro histórico da atividade solar em um ciclo solar.
O que é um ciclo Solar?
A cada 11 anos o Sol experimenta uma inversão do seu campo magnético. Logo após esse evento, a estrela passa por estado chamado de mínimo solar, onde as manchas são mais escassas e não há tanta atividade na superfície da estrela. Aproximadamente na metade do ciclo, o Sol passa a sofrer com turbulências na sua fotosfera.
Esse crescente dinâmico de atividade solar começa a enfraquecer algumas regiões do campo magnético, que cedem a força gerada, gerando manchas mais frias na superfície solar. Para esse aumento de atividade, se diz que o Sol está chegando ao seu máximo.
Os pontos mais escuros são mais frios e são gerados a partir da atividade intensa de rupturas e explosões na corona solar.Fonte: Getty Images
As manchas solares são regiões mais frias, com temperaturas de 3500 Kelvin. Em comparação, as demais regiões da superfície solar variam e podem atingir 6000 Kelvin.
As regiões “marcadas” possuem campos magnéticos mais sensíveis. Assim, são pontos propícios para ejeções de massas coronais, com a liberação de partículas carregadas em direção ao espaço, causando turbulência eletromagnética no espaço.
Tempestades solares e a assolação terrestre
No geral, esse movimento de lançamento de ventos, partículas e caudas magnéticas para o espaço é algo natural e corriqueiro, no entanto, quando as manchas estão apontadas em direção a Terra, a história muda um pouco de contexto.
Com o campo magnético mais fraco nessas regiões, o produto das tempestades solares fica quase inteiramente livre para atingir nosso planeta, e ainda que tenhamos escudos protetores, algumas intercorrências incômodas podem acontecer.
As auroras são fruto da interação dos ventos solares reagindo com partículas de gás da nossa atmosfera.Fonte: Getty Images
Com uma carga extra no campo eletromagnético da Terra, interrupções na rede elétrica, apagões na internet, perda dos sinais de GPS, silenciamento de linhas telefônicas, e diversas outras “crises” podem ocorrer em períodos de máximo solar, quando os canhões do Sol estão apontados para nós.
Neste momento estamos passando por um período de máximo solar, onde temos experimentado, desde maio, alguns dos efeitos indesejados do humor do Sol. No passado, quando Kepler avistou as primeiras manchas, ele não tinha como prever o problema que isso se tornaria para nós, em um futuro com tecnologia baseada em metais, eletricidade e comunicação via satélite.
O passado irradiando o presente e futuro
Se você acha que os desenhos do Sol Kepleriano ficaram apenas como uma decoração de museu, está muito enganado. Graças a esses registros, pesquisadores tem buscado compreender uma ocorrência anômala no ciclo solar conhecida como Mínimo de Maunder.
Acredita-se que entre os anos de 1645 e 1715, o Sol se manteve em estado mínimo de atividade, período muito maior que os estimados 11 anos de intervalo entre eventos. Mas graças a revisitação aos registros de Kepler, algumas teorias podem ser melhor elaboradas sobre esse evento astronômico anômalo.
Assim, Kepler mais uma vez se mostrou muito útil ao campo da astronomia. Espera-se que esse período solar presente tenha seu pico em 2025, e depois, entraremos em mais um período de “calmaria”.
Mantenha-se atualizado com mais estudos sobre a atividade solar, aqui no TecMundo. Se desejar, entender se tempestades Solares podem ser a causa dos terremotos na Terra. Até a próxima!