A descoberta mais recente do Telescópio Espacial James Webb (JWST) surpreendeu a todos, e reformulou a compreensão que tínhamos até hoje sobre a formação de sistemas planetários. No entanto, os insights vieram não de coisas observadas, mas sim do que o observatório não viu, no caso uma densa nuvem de poeira em torno da estrela Beta Pictoris, a 63 anos-luz da Terra.
“Queridinha” dos astrônomos planetários, a estrela localizada na constelação de Pictor tem sido muito estudada não só pela sua proximidade com o nosso planeta, mas também por ser uma muito jovem. Com 20 milhões de anos, Beta Pictoris é conhecida por seu imenso disco circunstelar de gás e poeira, a partir do qual seu sistema de planetas está se formando.
Apresentadas recentemente no 244º Encontro da Sociedade Astronômica Americana em Madison, nos EUA, as observações, feitas da comparação entre os registros do observatório infravermelho Spitzer há 20 anos com imagens atuais do JWST, sugerem um impacto de asteroide pelo menos 100 mil vezes maior do que aquele que matou os dinossauros na Terra.
Como os astrônomos descobriram a colisão de asteroides?
Comparação da nuvem de poeira de Beta Pictoris em 2004-2005 e agora.Fonte: NASA/Lynette Cook
Há 20 anos, quando o observatório infravermelho Spitizer observava o sistema Beta Pictoris, pesquisando o calor normalmente emitido por minerais de silicato cristalino presentes em estrelas e corpos celestes em formação, encontrou quantidades significativas de poeira, detectada nos comprimentos de onda de 17 e 24 mícrons, aquecida pelo calor da estrela.
Agora, usando o JWST, uma equipe internacional de astrônomos estudou a radiação das mesmas partículas de poeira em volta de Beta Pictoris, comparando-a com as descobertas do Spitzer. O resultado foi uma redução considerável na radiação nos mesmos comprimentos de onda de 20 anos atrás.
Segundo a líder da pesquisa, Christine Chen, da Universidade John Hopkins, “Com os novos dados do Webb, a explicação que temos é que, na verdade, testemunhamos o rescaldo de um evento cataclísmico infrequente entre grandes corpos do tamanho de asteroides, marcando uma mudança completa em nossa compreensão desse sistema estelar”.
Relevância da descoberta na compreensão da formação de planetas
A hipótese científica era que a nuvem de poeira ao redor da estrela era reposta continuamente.Fonte: Getty Images
Ao analisar os dados do Spitzer há 20 anos, os cientistas concluíram que corpos menores, como asteroides e cometas, colidiam e eram “moídos” dentro do disco protoplanetário. A premissa era de que a nuvem de poeira e gás em torno da jovem estrela era reposta continuamente ao longo do tempo.
Mas quando a realidade do JWST se impôs, e eles perceberam que aquela poeira toda desapareceu e não foi substituída, a questão passou a ser outra.
Será que esse processo de formação de planetas terrestres e gigantes é comum ou raro? — perguntou o coautor Kadin Worthen, também da Johns Hopkins. Nesse contexto, “estamos basicamente tentando entender o quão estranhos ou medianos nós somos”, concluiu o astrofísico.
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