No dia seguinte à inédita ofensiva do Irã com centenas de drones e mísseis lançados contra o território israelense, o premiê Binyamin Netanyahu afirmou que conteve o ataque e prometeu vitória. O gabinete de Bibi, como é chamado, se reuniria na manhã deste domingo (14), pelo horário de Brasília, para discutir as próximas ações, mas Teerã já alertou Israel e os Estados Unidos sobre uma “resposta muito maior” se houver qualquer reação.
O país persa afirma ter notificado seus vizinhos sobre o ataque com antecedência. “Cerca de 72 horas antes de nossas operações, informamos aos nossos amigos e vizinhos na região que a resposta do Irã contra Israel era certa, legítima e irrevogável”, disse o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amirabdollahian, em entrevista coletiva, sem mencionar quais foram as nações alertadas.
Segundo um oficial da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse a Netanyahu que Washington não vai participar de qualquer contra-ofensiva israelense.
A ameaça de uma guerra aberta entre os arqui-inimigos do Oriente Médio e de envolver os Estados Unidos deixou a região em alerta, com Washington afirmando que o país não busca conflito com o Irã, mas não hesitará em proteger suas forças e Israel.
Teerã lançou o ataque em resposta ao bombardeio à embaixada iraniana em Damasco, na Síria, que matou membros da Guarda Revolucionária do Irã, em 1º de abril. O regime comandado pelo aiatolá Ali Khamenei atribuiu a autoria a Tel Aviv, que não confirmou envolvimento, mas continuou a ser responsabilizado.
O ataque com centenas de mísseis e drones, em sua maioria lançados do interior do Irã, causou apenas danos moderados em Israel, já que a maioria foi interceptada com a ajuda de aliados, incluindo os EUA, Reino Unido e Jordânia. “Interceptamos, repelimos, juntos venceremos”, disse Netanyahu nas redes sociais. As forças israelenses confirmaram que uma base aérea no sul do país foi atingida de forma leve e continou a operar. E uma criança de 7 anos ficou gravemente ferida por causa de estilhaços de um projétil abatido.
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que, apesar de frustrar o ataque, a campanha militar não acabou. Ele ressaltou a necessidade de o país estar preparado para todos os cenários.
O canal de TV israelense Channel 12 citou, durante a noite, um oficial israelense não identificado dizendo que haveria uma “resposta significativa” ao ataque.
Rússia, China, Egito, Emirados Árabes Unidos e Omã pediram moderação. A missão iraniana nas Nações Unidas disse que o ataque tinha como objetivo punir “crimes israelenses”, mas que agora “considerava o assunto encerrado”.
O chefe do Estado-Maior do Exército iraniano, major-general Mohammad Bagheri, alertou na televisão que “nossa resposta será muito maior do que a ação militar de hoje se Israel retaliar contra o Irã” e disse a Washington que suas bases também poderiam ser atacadas se ajudasse Israel a retaliar.
O Ministério das Relações Exteriores do Irã convocou os embaixadores do Reino Unido, França e Alemanha para questionar o que se referiu como sua “postura irresponsável” em relação aos ataques de Teerã a Israel, informou Iranian Labour News Agency, agência de notícias semioficial iraniana.
Segundo a mídia estatal persa, diversos aeroportos iranianos, incluindo o Aeroporto Internacional Imam Khomeini de Teerã, cancelaram voos até segunda-feira.
O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que convocaria uma reunião de líderes do G7 neste domingo para coordenar uma resposta diplomática ao que chamou de ataque descarado do Irã. O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que Washington não busca conflito com o regime persa, mas não hesitará em agir para proteger as forças americanas e apoiar a defesa de Israel.
O Conselho de Segurança da ONU estava programado para se reunir neste domingo, às 17h, pelo horário de Brasília, depois que Israel solicitou que condenasse o ataque do Irã e designasse a Guarda Revolucionária como organização terrorista.
No sábado, a Guarda iraniana apreendeu um navio de carga ligado a Israel no estreito de Hormuz, uma das rotas de transporte de energia mais importantes do mundo, destacando os riscos para a economia mundial de um conflito mais amplo.
A guerra em Gaza, que Israel invadiu após um ataque do Hamas apoiado pelo Irã em 7 de outubro, aumentou as tensões na região, se espalhando para frentes com grupos alinhados ao Irã no Líbano, Síria, Iêmen e Iraque.
O aliado mais poderoso do Irã na região, o grupo xiita libanês Hezbollah —em ofensivas com Israel desde o início da guerra em Gaza— disse no início de domingo que havia disparado foguetes contra uma base israelense.
Drones também foram lançados contra Israel pelo grupo Houthi do Iêmen, alinhado com o Irã, que atacou rotas de navegação no Mar Vermelho e arredores para mostrar solidariedade com o Hamas, disse a empresa de segurança marítima britânica Ambrey em comunicado.
A agência de notícias Fars do Irã citou uma fonte dizendo que Teerã estava observando de perto a Jordânia, que poderia se tornar o próximo alvo em caso de movimentos em apoio a Israel.
O ataque de 7 de outubro, no qual 1.200 israelenses foram mortos e 253 feitos reféns, juntamente com o descontentamento interno com o governo e a pressão internacional sobre a guerra em Gaza, formam o pano de fundo das decisões de Netanyahu sobre uma resposta.
Em Jerusalém, no domingo, os israelenses descreveram seu medo durante o ataque, quando as sirenes soaram e o céu noturno foi abalado por explosões, mas discordaram sobre como o país deveria responder. “Acho que nos deram licença para responder agora. Quer dizer, foi um grande ataque do Irã… Imagino que Israel responderá e pode ser rápido e voltar à vida normal”, disse Jeremy Smith.
No Irã, a televisão estatal mostrou pequenas reuniões em várias cidades celebrando o ataque, mas, em particular, alguns iranianos estavam preocupados com a resposta de Israel. “O Irã deu a Netanyahu uma oportunidade de ouro para atacar nosso país. Mas nós, o povo do Irã, suportaremos o peso deste conflito”, disse Shima, uma enfermeira de 29 anos, de Teerã.