O chefe da diplomacia da China, o ministro Wang Yi, foi duro ao comentar o status de Taiwan durante entrevista coletiva no Cairo neste domingo (14) —o chanceler viajou ao Egito para uma bilateral com o ditador Abdel Fattah al-Sisi.
“Taiwan nunca foi um país. Não foi no passado e certamente não será no futuro”, afirmou, acrescentando que qualquer iniciativa a favor da independência “será duramente punida tanto pela história como pela lei”.
Ao reafirmar a posição de Pequim, para quem Taipé é uma província rebelde e parte inalienável de seu território, o chanceler em certa medida corresponde à demanda das mídias sociais chinesas, onde tem havido pressão por uma resposta mais forte do país à eleição para presidente de Lai Ching-te, contrário à reunificação de Taiwan com a China.
Uma delegação não oficial americana chegou a Taipé neste domingo, segundo a imprensa local, gerando expectativa de uma eventual reação de Pequim. “Assim como fizemos antes, o governo dos Estados Unidos pediu a ex-altos funcionários que viajassem em caráter privado, para transmitir as felicitações do povo americano pelas eleições e o nosso interesse na paz e estabilidade no estreito de Taiwan”, registrou em nota a representação de Washington na ilha.
Stephen Hadley, que foi assessor de Segurança Nacional dos EUA no governo de George W. Bush, ao chegar ao aeroporto da capital taiwanesa às 20h (horário de Taipé), evitou dar declarações. James Steinberg, que foi vice secretário de Estado na administração de Barack Obama, vindo de Singapura, chegaria mais tarde. Ambos têm reuniões marcadas para esta segunda-feira (15) com autoridades, possivelmente com Lai.
Lu Xiang, especialista em relações Pequim-Washington da Academia Chinesa de Ciências Sociais, afirmou ao South China Morning Post que a viagem é um “sinal negativo” e terá impacto “mais destrutivo” do que nas vezes anteriores, dado o contexto de maior preocupação da China com interferências externas na ilha.
Quando a informação da viagem vazou, dois dias antes da votação de sábado, a porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Hua Chunying, criticou em mídia social “algumas autoridades dos EUA” por essa “falha em honrar compromissos com o governo chinês” e por “distorcer o princípio de uma China”.
Hua questionou no domingo, após a eleição, a mensagem enviada a Taipé pelo Departamento de Estado americano, também de congratulação. “Os EUA precisam interromper as interações de natureza oficial com Taiwan”, afirmou.
Nas redes sociais, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, parabenizou não apenas Lai pela vitória nas urnas. “Felicitamos também o povo de Taiwan por participar em eleições livres e justas e por demonstrar a força do seu sistema democrático”, escreveu.
A exceção foi o porta-voz do Ministério da Defesa, Zhang Xiaogang, que na véspera da votação afirmou que “o Exército de Libertação do Povo Chinês permanece em alerta máximo e tomará todas as medidas necessárias para esmagar qualquer plano separatista“. Pós-eleição, o ministério ainda não se pronunciou.
Nas redes sociais do país, parte dos comentários sobre a eleição está sendo mais incisiva, com usuários defendendo rever a estratégia, diante da recusa crescente à reunificação. De maneira geral, houve contrariedade com o resultado, em que pese a votação dividida, que indica menos poder para o partido de Lai.
No WeChat, sob o enunciado “Ele agora está no poder, mas o que ele pode realmente fazer?”, o influente perfil chinês Youlieryoumian, voltado para geopolítica, escreveu: “Nós não podemos, nem iremos, confiar o futuro de Taiwan ao vencedor de uma única eleição“.
No Weibo, Hu Xijin, ex-editor-chefe e hoje colunista do Global Times, de Pequim, escreveu que “a reunificação militar é uma decisão de importância fundamental, e todos podemos falar nossas opiniões e dar ideias, mas essa questão não deve ser decidida no campo da opinião pública da internet, por meio da pressão”.
“Não apoio o uso imediato ou precoce da força, como se somente esse apoio fosse patriótico”, acrescentou, sobre a pressão online. “Apoiemos o Exército de Libertação Popular e seus preparativos para para uma luta militar no estreito de Taiwan, mantendo simultaneamente uma atitude coletiva firme e calma.”
Na plataforma americana Substack, Wang Xiangwei, ex-editor-chefe e hoje colunista do SCMP, buscou se contrapor aos “fogos de artifício retóricos”, projetando conflito, que já começaram e devem ir até a posse, em maio. “Na realidade, Pequim e Washington devem manter sua calma”, escreveu.
Ele afirma acreditar que no curto prazo a China vai continuar com ações de pressão sobre o governo da ilha, mas o que importa de fato é a postura dos EUA —e o único comentário expresso por Joe Biden sobre a eleição em Taiwan foi de que não apoia a independência, o que, segundo Wang, “é tranquilizador aos ouvidos das autoridades chinesas“.