Não será fácil, e ele sabe disso. Mas também não seria fácil no qualificatório, e ele teve êxito.
O brasileiro Sylvio Mendes Campos Júnior, o Sylvinho, 50, é o treinador da modesta Albânia na Eurocopa, o Campeonato Europeu de seleções, que neste ano acontece na Alemanha.
O ex-lateral esquerdo de Corinthians, Arsenal, Barcelona, Manchester City e seleção brasileira não pode ser considerado um treinador de larga experiência, estando somente em seu terceiro emprego.
Membro da comissão técnica de Tite na caminhada do Brasil até a Copa de 2018, ele comandou o Lyon (França), por quase cinco meses em 2019, e o Corinthians, por pouco mais de oito meses em 2021/2022.
Fracassou em ambos, porém sua experiência de ter trabalhado sob a tutela de treinadores como Arsène Wenger (no Arsenal) e Pep Guardiola (no Barcelona), além de ter sido auxiliar de Roberto Mancini (na Inter de Milão), renderam-lhe uma oportunidade no Leste Europeu.
Sylvinho assumiu a seleção albanesa no começo de 2023, e seu desafio era levar à Eurocopa o pequeno país que faz fronteira com Grécia, Macedônia do Norte, Montenegro e Kosovo e é banhado pelo mar Adriático.
Em um grupo com Polônia e República Tcheca, era a terceira força, à frente de Ilhas Faröe e Moldova, e a classificação era considerada improvável.
Pois a Albânia não só se classificou como terminou a chave em primeiro lugar, com 15 pontos (4 vitórias, 3 empates, 1 derrota), campanha igual à dos tchecos, superando-os no saldo de gols, e superior à dos poloneses (11 pontos) do artilheiro Robert Lewandowski.
No geral, com Sylvinho (que tem como auxiliares o brasileiro Doriva e o argentino Pablo Zabaleta, também ex-jogadores de sucesso), os albaneses atuaram 14 vezes, com 7 vitórias, 3 empates e 3 derrotas.
Há algum segredo para a fazer uma equipe repleta de jogadores com pouco ou nenhum renome dar certo?
Além de muito treinamento, para que os jogadores se entrosem, Sylvinho dá grande ênfase à disciplina tática, utilizando o esquema 4-3-3, que varia para o 4-2-3-1 e para o 4-4-2.
Seus comandados sabem exatamente como se posicionar em campo nessas formações, que são modificadas constantemente, durante cada partida, em poucos movimentos.
“As peças se movem”, declarou, em espanhol fluente, em uma apresentação no canal “The Coaches’ Voice” (A Voz dos Treinadores) no YouTube.
Sylvinho também valoriza na Albânia atletas que corram muito, possuam capacidade de exercer mais de um papel em campo e que tenham fundamentos técnicos apurados.
Em sua exposição no espaço dedicado aos técnicos de futebol, Sylvinho enfatizou sua predileção por aqueles com “pernas muito rápidas” e que “executem duas ou três funções” (curingas), com “muita qualidade técnica”.
“Acredito no futebol moderno. Este que joga aqui, e que possa jogar aqui, e que tenha facilidade para jogar aqui”, disse ao mostrar as posições em um campo com botões, “é um jogador que pode te oferecer muito.”
“Pode pressionar, pode jogar entre as linhas, pode jogar aberto. Estou convencido de que esse jogador te dá muito, tanto quando a tática”, prosseguiu Sylvinho sobre os curingas. “Se tiver pernas para isso, muito melhor para o time e para seu treinador.”
O quanto os jogadores vão correr e darão de retorno a Sylvinho na Eurocopa, o interessado poderá ver a partir deste sábado (15), quando a Albânia estreia na competição diante da Itália, a atual campeã. SporTV e Globoplay transmitem, às 16h (de Brasília).
O grupo dos albaneses é o chamado “da morte”, devido à composição com três seleções de ponta: Espanha (8ª colocada no ranking da Fifa), Itália (9ª) e Croácia (10ª). A Albânia, 66ª na lista, é completo azarão.
Nada que assuste ou incomode o técnico brasileiro, que espera surpreender com um futebol rápido, tático, voluntarioso e também bonito.
“Os albaneses gostam de praticar bom futebol e apreciam a técnica em detrimento da força, e isso vai ao encontro das minhas ideias”, disse Sylvinho ao site da Uefa, entidade que organiza a Eurocopa.
Esta é a segunda participação da Albânia, que nunca esteve em uma Copa do Mundo, na Eurocopa, que está em sua 17ª edição. Em 2016, na França, caiu na primeira fase (uma vitória e duas derrotas).