A quantidade de pessoas que passam fome no Sudão equivale a três vezes a população total de Nova Iorque, com 26 milhões de pessoas na fase aguda, famílias desesperadas e crianças desnutridas.
Foi assim que a diretora de Operações e Advocacia do Escritório da ONU de Assistência Humanitária, Ocha, apresentou ao Conselho de Segurança a situação que considera de “catástrofe absoluta” no país africano.
Colapso em todos os setores
Em discurso realizado nesta terça-feira, Edem Wosornu afirmou que Cartum, a capital do Sudão, “que já foi o coração pulsante do país, está em ruínas”. Além disso, ela lembrou que uma geração inteira de crianças está sem acesso à educação pelo segundo ano consecutivo.
A representante do Ocha ressaltou que mais de 10 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas devido à violência, à fome e privação. Isto inclui 726 mil pessoas deslocadas dentro e do estado de Sennar, sudeste do país, desde 25 de junho, após o avanço das Forças de Apoio Rápido no estado.
Segundo Wosornu, o sistema de saúde do Sudão entrou em colapso e cerca de “dois terços da população não podem ir a um hospital ou consultar um médico”.
Fortes chuvas inundaram bairros residenciais e locais de deslocamento nas últimas semanas, incluindo em Kassala e no Norte de Darfur, aumentando o risco de cólera e doenças transmitidas pela água.
Crise provocada pelo homem
Na semana passada, o Comitê de Revisão da Fome concluiu que essas condições estão presentes no campo de Zamzam, perto de El Fasher, capital do Norte de Darfur.
A diretora do Ocha disse aos membros do Conselho que este anúncio deveria deixar todos “chocados”, pois quando a fome acontece, “significa que já é tarde demais, que não fizemos o suficiente”.
Ela acrescentou que a comunidade internacional “falhou” e que esta é uma “crise inteiramente provocada pelos humanos, uma mancha vergonhosa na nossa consciência coletiva”.
O diretor executivo assistente do Programa Mundial de Alimentos, PMA, também se dirigiu ao Conselho de Segurança, dizendo que a agência tem alertado há meses sobre um colapso generalizado no setor de alimentos em todo o país.
Avisos ignorados
Stephen Omollo afirmou que os avisos do PMA “não foram ouvidos”. Ele ressaltou que a confirmação da fome na semana passada deve servir como um alerta para a comunidade internacional e para os membros do Conselho de Segurança.
O especialista lembrou que esta é a primeira vez em sete anos que o Comitê confirma um quadro de fome e apenas a terceira vez desde que esse sistema de monitoramento global foi lançado há 20 anos.
Omollo disse ainda que o parecer do Comitê também alerta que outras áreas, em Darfur e em outros lugares, correm alto risco de fome se não forem tomadas medidas urgentes para fornecer assistência na escala necessária.
Ele pediu por um “esforço diplomático coordenado” para resolver desafios operacionais generalizados e impedimentos que as agências de ajuda enfrentam.
Aumento da presença operacional da ONU
O representante do PMA disse que “nenhuma das partes neste conflito está cumprindo obrigações e compromissos ao abrigo do direito humanitário internacional” e que o espaço humanitário está encolhendo a todo momento.
Omollo destacou a importância do acesso expandido e novas linhas de abastecimento através das fronteiras e através das frentes de combate.
Edem Wosornu mencionou também “sérias preocupações com os crimes de guerra cometidos durante este conflito”. Ela citou “níveis horríveis de violência sexual” visando meninas de apenas nove anos de idade.
A representante do Ocha disse que a agência está expandindo a presença operacional em áreas onde a insegurança alimentar é mais grave e trabalhando com parceiros locais, que considera “os heróis desta resposta”, especialmente organizações e comunidades lideradas por mulheres.
Wosornu disse que estão sendo explorados “todos os caminhos possíveis para chegar às comunidades afetadas”, inclusive através de transporte aéreo. Como primeiro passo, ela indicou serem necessárias permissões para avaliar as pistas de pouso relevantes.