Membro da Comissão de Inquérito das Nações Unidas afirma que o país está “desmoronando” e que grupos que pareciam derrotados estão voltando; para o especialista, o envolvimento de grandes potências prolongou o conflito e tornou a Síria um palco para teste de armas.
Quando um grupo ligado à organização terrorista Isil assumiu a responsabilidade pelo ataque mortal a uma sala de concertos de Moscou, em 22 de março, um dos pretextos alegados foi o envolvimento da Rússia na guerra civil síria.
O conflito, que se prolonga por mais de 13 anos, se transformou em uma “guerra por procuração” envolvendo várias potências estrangeiras e apesar de raramente chegar às manchetes, continua tendo um efeito terrível sobre a população civil.
O retorno do Isil
No início de março, a Comissão de Inquérito das Nações Unidas sobre a Síria divulgou um relatório que detalha uma escalada nos combates, ataques a civis e infraestruturas que poderiam constituir crimes de guerra.
O vice-diretor e membro sênior do Centro de Cooperação Internacional da Universidade de Nova Iorque, Hanny Megally, é membro da Comissão desde 2017. Ele disse à ONU News que, embora já tenham se passado cinco anos desde a última vez que o Isil ocupou territórios na Síria, o grupo continua ganhando força.
Segundo ele, o país está “desmoronando” e alguns grupos que pareciam derrotados estão voltando, sem que nenhuma das “causas profundas” do conflito tenham sido tratadas. A Comissão aponta que o Isil vem aumentando sua força na Síria e, só este ano, já cometeu mais de 35 ataques.
O papel das grandes potências
O especialista explicou que a Rússia e o Irã apoiam o governo sírio, enquanto a coalizão liderada pelos Estados Unidos “reforça a autoridade curda autônoma” no Nordeste. Ao mesmo tempo, no Noroeste, a Turquia apoia grupos armados de oposição e Israel tem como alvo o que considera serem forças pró-iranianas no terreno. Por fim a Jordânia “persegue traficantes de drogas no sul”.
Megally afirmou que é “triste” constatar que “o envolvimento destes Estados prolongou o conflito”. Para ele, a Síria se tornou um lugar onde essas potências podem “testar armas, usar armas antigas que já não precisam e atacar uns aos outros” de forma indireta.
O membro da comissão relatou uma grande escalada nos últimos seis meses. Segundo ele, a Turquia está perseguindo os combatentes curdos e está atingindo infraestruturas como centrais elétricas e estações de tratamento de água que são essenciais para a sobrevivência da população civil.
Além disso, metade dos hospitais foram destruídos e houve um êxodo de pessoal médico.