A formação da Terra aconteceu há mais de 4,5 bilhões de anos, em uma dança orbital com rochas espaciais responsáveis pelos blocos de construção dos planetas presentes no Sistema Solar. A partir disso, a Terra se desenvolveu com três principais camadas rochosas, são elas: crosta, manto e núcleo terrestre — o núcleo interno está localizado entre 5100 km e 6370 km abaixo da superfície.
Após passar por todo o processo de desenvolvimento primitivo, o objeto cósmico alcançou um diâmetro de 12.756 quilômetros. Não é à toa que os pesquisadores, engenheiros e geólogos têm dificuldades significativas em perfurar buracos extensos na superfície.
Por exemplo, atualmente, o poço super profundo de Kola, na Rússia, é considerado um dos buracos mais profundos já escavados na Terra. Após quase 20 anos de escavações, foram perfurados aproximadamente 12,2 quilômetros a partir da superfície terrestre.
“O que acontece na superfície da Terra está diretamente relacionado ao seu interior. Cerca de 4,6 bilhões de anos atrás, a Terra se formou a partir de uma nuvem quente de poeira orbitando um sol ardente. À medida que o planeta esfriava, elementos densos se concentraram no núcleo do planeta, enquanto elementos mais leves formaram o manto. Uma fina e rígida crosta se formou na superfície. Um ciclo constante de aquecimento e resfriamento no manto impulsiona o movimento das placas na superfície da Terra”, é descrito em uma publicação do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).
Apesar de a perfuração de 12,2 quilômetros ser considerada um trabalho árduo, não é nem metade do necessário para alcançar a primeira camada da Terra. Para atingir a camada inicial, os profissionais de escavação precisam fazer um buraco de até 100 quilômetros de profundidade. Apesar disso, tal operação ainda não é possível com as máquinas de escavação disponíveis atualmente.
Um experimento mental que muitos cientistas já imaginaram é: seria possível escavar um buraco de um ponto da Terra até o outro?
A questão não tem uma resposta simples, mas o TecMundo reuniu informações de especialistas da área para explicar um pouco mais sobre o tema. Confira.
Um buraco na Terra
Para perfurar a primeira camada, os profissionais precisariam escavar até 100 km, contudo, o maior problema seria a pressão. A cada três metros de escavação, a pressão atmosférica aumenta uma vez; ou seja, a pressão aumentaria significativamente quando há muitos quilômetros a serem escavados. Por exemplo, no fim do poço super profundo de Kola, a pressão pode ser até 4 mil vezes maior que a do nível do mar.
Além das três camadas principais, o interior da Terra também possui as seguintes camadas: astenosfera, litosfera, troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera. Fonte: Getty Images
Em uma situação hipotética dos cientistas conseguirem escavar a primeira camada, eles ainda precisariam perfurar muito mais para chegar até o manto terrestre, que possui aproximadamente 2,8 mil quilômetros de espessura. Então, se o poço super profundo de Kola demorou aproximadamente 20 anos para escavar 12,2 quilômetros, imagine o quão demorado seria escavar o manto.
Após escavar um buraco de quase 2,9 mil quilômetros de profundidade, os cientistas alcançariam o início do núcleo terrestre. Após quase 5 mil quilômetros, eles chegariam ao núcleo interno do planeta. A partir daí, eles continuariam perfurando as rochas para retornar ao manto e à primeira camada terrestre, contudo, do outro lado da Terra.
“Quanto mais você cai, mais fraca se torna a gravidade, porque cada vez mais da massa da Terra está acima de você, cancelando a gravidade proveniente do outro lado da Terra. Além disso, à medida que você cai, a pressão do ar aumenta, fazendo com que o ar exerça mais força contra o seu movimento. Com a gravidade enfraquecendo e a resistência do ar aumentando, sua velocidade diminui constantemente”, descreve uma publicação no site da West Texas A&M University, nos Estados Unidos.
Perfurando a Terra de uma ponta a outra
Além de todas as dificuldades de equipamentos para a escavação, os cientistas também passariam por dificuldades em relação à pressão e temperaturas extremas. O próprio núcleo externo possui uma liga quente de ferro fundido que pode chegar a temperaturas que variam entre 4 mil e 5 mil graus Celsius; então, seriam necessários equipamentos que não derretessem durante a perfuração.
Um buraco perfurado de um ponto ao outro da Terra, em média, alcançaria 12,7 mil quilômetros de distância. Fonte: Getty Images
No núcleo interno, a pressão é tão alta que mantém o níquel e ferro no estado sólido, mesmo com temperaturas extremamente elevadas — é tão alto que chega a até 350 milhões de vezes a pressão atmosférica. A partir de determinado ponto, a broca começaria a ser puxada em direção ao núcleo devido à gravidade da Terra. Ao ultrapassar o núcleo, a broca precisaria lutar contra a gravidade, pois estaria sendo puxada para ‘cima’, em direção à superfície.
Atualmente, não há equipamentos suficientemente poderosos para perfurar toda a Terra; alcançar o núcleo do planeta é impossível com a tecnologia atual. Contudo, imaginando que isso fosse possível e os cientistas criassem um túnel que atravessasse o planeta, uma viagem teórica em alta velocidade duraria apenas 42 minutos e 12 segundos para chegar ao outro lado.
Mesmo se os cientistas conseguissem alcançar o núcleo interno do planeta, eles passariam por grandes problemas para atingir o outro lado do planeta. É como se eles passassem pelos mesmos problemas duas vezes: primeiro, para chegar até o centro, depois para sair do centro e alcançar o lado oposto da escavação.
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