Vinte anos após a morte de Sergio Vieira de Mello, a família aposta em manter viva sua memória alargando os meios, as abordagens e ressaltando como sua atuação pode se adaptar aos novos tempos.
O sobrinho e afilhado André Simões faz parte da Fundação Sergio Vieira de Mello e revela facetas do funcionário de carreira da ONU que ainda inspiram. Ele perdeu a vida na explosão no complexo da ONU com um grupo de colegas em Bagdá, no Iraque.
Legado do Sérgio ficou através de filmes e livros
Em entrevista ao Podcast ONU News, em Nova Iorque, André Simões destacou que Sergio não atuou nem morreu sozinho. Ele ressalta que toda a preservação de sua memória deve recordar os feitos sem perder o sentido coletivo.
“É muito importante lembrar dos 22 colegas, entre eles o Sergio. Não foi só o Sergio, foi uma equipe da ONU, a família de vocês. O legado do Sergio ficou através de filmes e de livros. Você pode aprender assistindo os filmes, lendo os livros e tendo ideias como a que eu tive na pandemia. Eu estava fazendo o projeto “Sem Fome”. Começou na pandemia, no Rio de Janeiro, no centro da cidade, onde estava deserto. Tudo estava fechado e os moradores de rua estavam lá sem ter o que comer, porque os restaurantes estavam fechados e ninguém tinha comida para dar.”
Para André, novos meios surgem e os acontecimentos que marcam os últimos anos não deixam de inspirar a dar ajuda como defendia o Sergio.
Parentes e amigos ainda atuam descobrindo, financiando e facilitando a preservação do legado do destacado funcionário humanitário brasileiro.
Projeto ‘Sem Fome’
“Eu identifiquei aquilo como um campo de refugiados. Eu cresci vendo o Sérgio nos campos de refugiados pelo mundo. Então, eu falei ‘bom é a chance de fazer alguma coisa’ e passar minha filha o que ele ensinou. Começamos o projeto “Sem Fome” distribuindo 200 refeições e 200 águas, todos os dias, pelas ruas do centro do Rio. Era muito interessante que as filas eram grandes, com 70 ou 80 pessoas, e numa praça. De repente, uma pessoa chegava e olhava para você falava assim: ‘só quero água’. E aí você olhava ‘guarda para de noite, porque você vai ter fome.”
André Simões disse que segue incentivando o apoio às necessidades dos mais carentes, arrecadando alimentos e oferecendo assistência em crises ou situações extraordinárias, como as humanitárias.
Ele defende, no entanto, que um mundo confrontado com crises deve atuar em conjunto e retribuir o papel dos que levam auxílio a comunidades e pessoas que sofrem.
“São pessoas iluminadas e que vêm para ajudar e para arriscar sua vida. A situação tem crescido e melhorado sim, mas mais do que crescer a ajuda humanitária a gente tem que diminuir a dependência da ajuda humanitária. Tem que evitar que aconteça para não ter trabalhar na ajuda humanitária. A gente tem que buscar essa ideia, não sei se é pela inteligência artificial ou não sei se é porque o ser humano tem esse defeito.”
Conforto pessoal
Simões disse que a lição para a humanidade é aprender com os conflitos, com foco em evitar este tipo de crise. Ele concluiu com uma homenagem para quem sacrifica o conforto pessoal pagando com a vida, em favor de ajudar os necessitados.
“É um defeito ter que reagir, ter de contra-atacar. Uma atrocidade não pode acontecer. Então, temos que evitar que aconteçam novos genocídios e novos tempos difíceis. (E como promover novos ‘Sergios’?). Ele está em todos nós, todos vocês. Então, Sergio é o lado bom das pessoas.”