Fora do principal interclubes continental. Sequência sem vitórias jamais vista. Futebol de nível deplorável. Terceiro treinador em menos de três meses. Revolta de torcedores. Última colocação no campeonato nacional.
O cenário apresentado não seria totalmente surpreendente para uma equipe comum, para um time pequeno e inexpressivo, seja no Brasil, seja em qualquer lugar do mundo.
Porém quem o encara é o afamado Ajax, clube de maior nome na Holanda e um dos mais respeitados da Europa, 36 vezes campeão nacional (recorde no país), 20 vezes campeão da Copa da Holanda (idem), quatro troféus da Champions League (idem), duas taças da Copa Intercontinental (idem).
A fábrica de talentos que revelou Rinus Michels, Cruyff (seu maior expoente), Kluivert, Frank de Boer, Seedorf, Bergkamp, Ronald de Boer, Davids e Daley Blind, e por onde passaram tantos outros craques (Van Basten, Luis Suárez, Van der Sar, Overmars, Van der Vaart, Neeskens, Sneijder, Ibrahimovic), agoniza na temporada 2023/2024.
A anterior (2022/2023) já não tinha sido um primor para os parâmetros do gigante de Amsterdã. A terceira colocação, atrás de Feyenoord, de Roterdã, e PSV Eindhoven, foi a pior deste século, igualando-se às campanhas de 2000/2001 e 2008/2009.
Em todas as outras disputas, o Ajax foi campeão (nove vezes) ou vice (dez).
A posição teve ares de tragédia, já que não deu vaga para a Liga dos Campeões da Europa, a mais incensada competição entre clubes no mundo e que paga altas somas em dinheiro a seus participantes (mais de 2 bilhões de euros no total, com cerca de 80 milhões ao campeão).
Na janela de transferências, jogadores importantes saíram (quase todos para o futebol inglês), como os defensores Timber e Bassey, o volante Álvares, o meia Klaasen, o meia-atacante e capitão Tadic e o meia-atacante Kudus, e, falha administrativa, não houve reposição à altura.
“Não é possível trazer tantos jogadores de segunda categoria e pensar que eles terão um desempenho de nível superior”, declarou Ronald de Boer, um dos ídolos da história do clube fundado em 1900, ao podcast Voetbal International, da Holanda, sem mencionar nomes.
No meio do ano, o Ajax contratou 12 reforços, entre os quais o zagueiro Josip Sutalo (Croácia, ex-Dinamo Zagreb-CRO), o lateral esquerdo Gastón Ávila (Argentina, ex-Antuérpia-BEL) e os atacantes Chuba Akpom (Nigéria, ex-Middlesbrough-ING) e Georges Mikautadze (Geórgia, ex-Metx-FRA). Ninguém badalado.
Ademais, a chegada de um novo treinador, Maurice Steijn, 49, que fizera boa campanha com o Sparta de Roterdã, mostrou-se um fiasco.
O técnico que proclamou que “o futebol ofensivo está na vanguarda do que quero do meu time” (nem precisava, já que jogar para a frente está no DNA do Ajax), esqueceu-se de que nem sempre só atacar resolve.
Em 11 jogos válidos por competição (Campeonato Holandês e Liga Europa), o Ajax mostrou uma defesa esburacada, que levou 22 gols, média de dois por duelo. Resultado: cinco derrotas, quatro empates e só duas vitórias.
Uma série de oito partidas sem triunfo, que culminou com a derrota por 4 a 3 para o Utrecht no dia 22 de outubro, derrubou Steijn.
Nesse período inglório sob o técnico, um jogo teve de ser interrompido porque torcedores do Ajax, revoltados com o que viam na Arena Johan Cruyff (0 a 3 ante o Feyenoord), passaram a atirar sinalizadores no gramado. Os mais raivosos vandalizaram partes do estádio.
Três dias depois, na retomada do embate com portões fechados, os visitantes ainda fizeram mais um para sacramentar a goleada.
Depois da demissão de Steijn, Hedwiges Maduro, 38, ex-jogador do time, assumiu interinamente e sua passagem foi brevíssima, de sete dias, com dois jogos e duas derrotas, uma para o inglês Brighton (2 a 0), outra para o arquirrival PSV (5 a 2).
No começo desta semana, a direção do Ajax anunciou um interino mais experiente, também ex-atleta do clube, John van’t Schip, 59.
Ele assume com a missão de reanimar urgentemente um grupo combalido pelo pior começo de temporada da equipe de que se tem notícia.
E retomar, a partir desta quinta (2), diante do Volendam (dois pontos à frente na tabela), o caminho da vitória, que não é vista há mais de dois meses, desde o dia 24 de agosto, um 4 a 1 como visitante contra o Ludogorets, da Bulgária.