Primeiro, com a temporada 2022/2023 em andamento, foi Cristiano Ronaldo. Depois, de forma inesperada, foram outros –e foram muitos.
Sem clima para continuar no Manchester United, onde se desentendeu com o treinador, o craque português surpreendeu com o anúncio, no fim do ano passado, da transferência para o futebol da Arábia Saudita.
O camisa 7, então com 37 anos (já fez 38), passou a jogar pelo Al Nassr, recebendo um salário superior a R$ 1 bilhão por ano e com contrato até a metade de 2025.
Parecia um fim de carreira, mesmo que megaendinheirado, melancólico para o cinco vezes escolhido melhor jogador do mundo.
Além de ter se afastado da principal vitrine do futebol, a Europa (com os badaladíssimos Campeonato Inglês e Champions League), enfurnou-se em um campeonato periférico, reconhecidamente de nível técnico paupérrimo.
Continuou sendo artilheiro, registrando 16 gols em 20 partidas. Mas quem acompanhou as apresentações do CR7?
Aqui no Brasil, quase ninguém. O Sauditão não passou na TV (aberta ou fechada), apenas no canal DSports (streaming), depois da contratação de Cristiano Ronaldo, com exibição de partidas do Al Nassr.
Encerrada a temporada, o que se viu, contudo, foi uma onda de migração de nomes famosos para a Arábia Saudita. Cristiano Ronaldo influenciou, sem dúvida. Foi dia a dia um tremendo garoto-propaganda, tecendo elogios à liga.
Disse ele em março: “Acho que todos deveriam olhar para a liga [saudita] de uma maneira diferente. Não vou dizer que a liga é uma Premier League [o Campeonato Inglês], isso seria mentira. Mas é um campeonato muito competitivo, muito equilibrado e com boas equipes. Tenho certeza de que nos próximos anos a liga será a quarta, quinta ou sexta mais competitiva do mundo”.
Parecia, naquele momento, uma profecia vazia, infundada, sem nexo. Só que as semanas se passaram e vários jogadores de elevada categoria começaram a deixar suas equipes na Europa e a fechar contratos –de altíssimas cifras, ressalte-se– com equipes sauditas.
Gente da estirpe do francês Benzema, 35 (Al Ittihad), ex-artilheiro do Real Madrid e mais recente ganhador da Bola de Ouro (melhor do mundo), do atacante senegalês Mané, 31 (Al Nassr), ex-Bayern de Munique, do ala-atacante argelino Mahrez, 32 (Al Ahli), campeão europeu neste ano com o Manchester City, e do volante inglês Henderson, 33 (Al Ettifaq), que capitaneava o Liverpool.
Há outros atletas de ótimo padrão futebolístico que migraram para o país do Oriente Médio, como o volante croata Brozovic, 30 (ex-Inter de Milão, no Al Nassr), o meia marfinense Kessié, 26 (ex-Barcelona, no Al Ahli), e o volante francês Kanté, 32 (ex-Chelsea, no Al Ittihad), entre outros.
E tem a turma de brasileiros recém-contratada: o atacante Roberto Firmino, 31 (Al Ahli), o volante Fabinho, 29 (Al Ittihad), ambos egressos do Liverpool, o lateral esquerdo Alex Telles, 30 (ex-Sevilla, no Al Nassr), e o ala-atacante Malcom, 26 (ex-Zenit-RUS, no Al Hilal).
Bom pé de obra é ingrediente necessário para elevar o nível técnico de qualquer jogo e de qualquer competição. Nesse sentido, é de se esperar que o Sauditão ofereça partidas mais interessantes, com lances plásticos e confrontos parelhos entre as cinco ou seis equipes mais fortes.
Percebe-se que parte volumosa dos contratados já passou a faixa dos 30 anos, então o lado físico pode pesar para alguns deles, lembrando que a Arábia Saudita é um país de elevadas temperaturas e considerando o histórico de lesões –Benzema, por exemplo, tem estado com frequência na enfermaria.
O cardápio de atrações serviu ainda para solucionar, parcialmente (pois serão poucos os duelos exibidos, na comparação com campeonatos europeus), a questão do “assistir” aos jogos do Sauditão, já que empresas de comunicação se interessaram em mostrá-lo.
Nesta semana, soube-se que no Brasil o fã de futebol poderá ver algumas partidas da competição por canais da Band, tanto o aberto como o por assinatura. O GOAT (YouTube e outras plataformas) também fará transmissões.
Com essas alternativas, os interessados poderão acompanhar Cristiano Ronaldo e companhia a partir desta sexta-feira (11) e posteriormente fazer comparações em relação aos principais campeonatos do mundo, como o Inglês, o Italiano, o Espanhol, o Brasileiro.
Será que o Sauditão vai se tornar forte, respeitado e desejado por mais figurões do futebol, sejam eles jogadores ou treinadores? Chegou-se a pensar que o Japão ou a China, que também investiram pesado no futebol, cada um a seu tempo, teriam ligas poderosas, porém nem uma nem outra emplacou.
Enquanto essa resposta não puder ser dada, o desafio será fixar o nome dos clubes, saber quem é quem em meio a tantos “Al”. Dos 18 times no campeonato, 16 têm “Al” (artigo definido, “o” ou “a”) no começo do nome.
Ei-los: Al Itthad (atual bicampeão), Al Hilal (maior campeão, com 18 títulos), Al Nassr, Al Ahli, Al Shabab, Al Taawon, Al Fateh, Al Ettifaq, Al Taee, Al Raed, Al Feiha, Al Wehda, Al Khaleej, Al Hazm, Al Akhdoud e Al Riyadh. As exceções são o Damak e o Abha.