Autoridades municipais e produtores de café, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, lançaram um projeto para restaurar 1.150 hectares de florestas e plantações de café.
Com o objetivo de reavivar a capacidade de São Salvador de absorver as chuvas, o projeto CityAdapt tem como premissa um fato simples: quando a vegetação é substituída por concreto, o solo perde sua permeabilidade.
Efeito das mudanças climáticas
Em junho de 2020, a tempestade tropical Amanda atingiu a capital de El Salvador, São Salvador. Ventos fortes e chuvas torrenciais provocaram mais de 150 deslizamentos de terra e 20 grandes inundações, destruindo estradas, linhas elétricas e quase 30 mil casas.
O cafeicultor Hector Velasquez, cujas terras ficam nas encostas expostas do Vulcão São Salvador, com vista para a cidade, estava entre os que foram atingidos pela tempestade. Durante três dias, a chuva em sua fazenda, provocando um deslizamento de terra que destruiu uma área de cerca de 3 mil m2.
Quando Velasquez era criança, as chuvas em São Salvador eram, em sua maioria, uma garoa contínua, porém leve, que se estendia por oito meses. O solo tinha tempo para absorver a água. Mas, nos últimos anos, as mudanças climáticas tornaram as tempestades extremas mais comuns em El Salvador.
Elas são especialmente graves em torno da capital, onde a construção desenfreada e a pavimentação de estradas criaram uma barreira de concreto que impede que a chuva seja absorvida pelo solo.
Plantações em risco
Em São Salvador, as enchentes e os deslizamentos de terra estão levando embora a valiosa camada superficial do solo e, com ela, a fertilidade das plantações de café. “O solo, para nós, agricultores, é a riqueza de nossa fazenda”, diz Velasquez. “Se não o tivermos, não produziremos.”
Antes de um declínio na produção nos últimos 10 anos, o café era vital para a economia de El Salvador, empregando cerca de 150 mil pessoas em 2012. Um relatório do International Food Policy Research Institute estima que, até 2050, a mudança climática poderá afetar o setor cafeeiro de El Salvador mais do que qualquer outro país do mundo.
Efeito esponja
No entanto, as árvores e outras formas de vegetação podem ser usadas como esponjas, extraindo enormes quantidades de água da terra, evitando a erosão, limitando as enchentes e recarregando os suprimentos de água subterrânea em épocas de seca.
O termo “cidade esponja” é usado para descrever uma área urbana que está criando espaços verdes para combater as enchentes. Cidades de todo o mundo, de Berlim a Wuhan, estão adotando essa estratégia inovadora. O uso de soluções baseadas na natureza para a adaptação às mudanças climáticas é conhecido como adaptação baseada em ecossistemas.
A chefe da Unidade de Adaptação às Mudanças Climáticas do Pnuma, Jessica Troni, explica que a adaptação baseada em ecossistemas é uma estratégia comprovada tanto em cidades quanto em áreas rurais.
Ela adiciona que a agência da ONU está ajudando governos de todo o mundo a criar resiliência climática com mais de 45 projetos de adaptação baseados em ecossistemas e, no processo, mais de 113 mil hectares de ecossistemas estão sendo restaurados.
O CityAdapt, que é financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente, ajudou cerca de 16 mil pessoas em São Salvador a reduzir o risco de inundações. Até a conclusão do projeto em 2022, esperava-se que esse número aumentasse para 115 mil.
A coordenadora nacional do CityAdapt em El Salvador, Leyla Zelaya, diz que 3.514 árvores frutíferas foram plantadas durante o processo de reflorestamento para fornecer recursos adicionais às comunidades locais. O projeto também está ativo em Xalapa, no México, e em Kingston, na Jamaica.
De volta à fazenda de café de Hector Velasquez, quando lhe perguntaram o que ele diria a alguém que não acredita nas mudanças climáticas, ele ri: “Temos um ditado: Não há pessoa mais cega do que aquela que não quer ver. E não há pessoa mais surda do que aquela que não quer ouvir”.
*Com a reportagem do Pnuma