Existem tempestades e furacões na Terra que já registraram ventos de até 320 quilômetros por hora, uma velocidade que pode destruir casas e cidades. Mesmo assim, esses eventos naturais terrestres não chegam perto do que acontece em um ponto específico da superfície de Júpiter: conhecida como a Grande Mancha Vermelha, é uma tempestade gigantesca que já registrou ventos de aproximadamente 640 quilômetros por hora.
De acordo com informações da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (NASA), a tempestade está ativa na superfície de Júpiter há pelo menos 150 anos, mas talvez seja muito mais tempo do que imaginamos. Existem registros de que os antigos astrônomos começaram a observar a tempestade em meados de 1600, contudo, não há como definir se realmente se tratava da Grande Mancha Vermelha.
Ao decorrer dos últimos anos, centenas de cientistas começaram a estudar mais sobre o evento natural em Júpiter, contudo, eles explicam que não é uma jornada fácil. Por ser um planeta mil vezes maior que a Terra e consistir principalmente em gases, os pesquisadores tem encontrado dificuldades para compreender melhor sobre a mancha.
Para tentar explicar um pouco melhor sobre a Grande Mancha Vermelha de Júpiter, o TecMundo reuniu informações de cientistas e especialistas na área. Confira!
O que é Grande Mancha Vermelha de Júpiter?
A Grande Mancha Vermelha é literalmente oposta aos furacões na Terra, já que ela gira no sentido oposto em torno de um centro de alta pressão atmosférica. Como é um planeta com um oceano líquido de hidrogênio em seu núcleo, a atmosfera de Júpiter é repleta de hidrogênio e hélio; essas e outras condições dificultam o trabalho dos cientistas, pois eles precisam estudar o efeito de todo esse clima extremo.
A tempestade anticiclônica gira no sentido anti-horário a cada seis dias e está localizada no hemisfério sul de Júpiter e, até o momento, é considerada a maior em todo o Sistema Solar. Na Terra, é comum que essas tempestades anticlônicas se desenvolvam quando a pressão atmosférica está alta e ‘força’ a mudança do ar frio para altitudes mais baixas, contudo, Júpiter não funciona da mesma forma.
Apesar de as grandes diferenças, a especialista em atmosferas planetárias do Goddard Space Flight Center da NASA, Amy Simon, explica que estudar o clima de Júpiter pode auxiliar em uma melhor compreensão sobre o sistema climático da Terra; afinal, ambos os planetas funcionam sob os mesmos conceitos da física. Um melhor conhecimento sobre o tema também pode avançar os estudos de outras regiões do Sistema Solar.
As nuvens da tempestade (imagem) atrapalham a observação da atmosfera inferior, por isso, os cientistas tem tido dificuldade em estudar a região.Fonte: NASA / JPL / Space Science Institute
“Se você apenas olhar para a luz refletida de um planeta extrassolar, não será capaz de dizer do que ela é feita. Observar o maior número possível de casos diferentes no nosso próprio sistema solar poderia permitir-nos aplicar esse conhecimento a planetas extrasolares”, disse Simon em uma publicação oficial da NASA.
Os cientistas tem alguns palpites, mas não sabem ao certo o motivo dela ser uma tempestade tão duradoura. Uma das possibilidades é de a Grande Mancha Vermelha esteja presa entre correntes de fluxo oposto que a mantém girando; outra hipótese é que as altas e baixas temperaturas dentro da tempestade a forçam a continuar ativa. Os pesquisadores explicam que como Júpiter é um planeta gasoso, a sua longevidade talvez seja explicada pela falta de uma superfície sólida para reduzir a tempestade.
Grande Mancha Vermelha encolhendo
Atualmente, a Grande Mancha Vermelha tem uma largura de 16,3 mil quilômetros de largura, ou seja, é certa de 1,3 vezes a largura do nosso planeta. Mas os cientistas perceberam que ela está encolhendo ao decorrer dos anos; por exemplo, no fim do século 19, os astrônomos estimavam que ela tinha a largura de 48,2 mil quilômetros. Infelizmente, os pesquisadores ainda não sabem o motivo do encolhimento, mas eles perceberam que ela também registrou alguns níveis de crescimento em meados de 1920.
Outras observações sugerem que ela também sofreu alterações de cor, formato, entre outras características. Por isso, os cientistas ainda buscam respostas para todas essas questões, inclusive, eles não sabem quanto tempo a tempestade pode durar até desaparecer em Júpiter.
Atualmente, alguns estudos sugerem que a atmosfera superior do planeta gasoso é composta por nuvens de amônia, hidrossulfeto de amônio e água, mas estes elementos representam apenas uma pequena parte dela. A NASA explica que existem estudos para investigar se os raios cósmicos da região seriam responsáveis por atingir as nuvens de Júpiter e alterar o hidrossulfeto de amônio na atmosfera — isso poderia explicar a cor avermelhada da mancha.
Desde 2014, a Grande Mancha Vermelha de Júpiter parece estar mudando para uma cor laranja avermelhada.Fonte: NASA / SwRI / MSSS / Jason Major
“Estamos falando de algo que constitui apenas uma pequena porção da atmosfera. É isso que torna tão difícil descobrir exatamente o que constitui as cores que vemos. Idealmente, o que você deseja é uma mistura com os componentes certos de tudo o que você vê na atmosfera de Júpiter, na temperatura certa, e depois irradiá-lo nos níveis certos. O que estamos tentando fazer é projetar experimentos de laboratório mais realistas para a atmosfera de Júpiter”, disse Simon.
Além da Grande Mancha Vermelha, os cientistas afirmam que existe uma Pequena Mancha Vermelha, formada no início dos anos 2000 a partir de três tempestades brancas em formato oval. Eles também descobriram que os gases acima da tempestade são mais quentes que qualquer outra região do planeta; talvez por conta das ondas acústicas desenvolvidas pela turbulência da tempestade.
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