A Rússia retirou mais de 76 mil pessoas de áreas da região de Kursk, no sul, próxima à fronteira com a Ucrânia, após avanços das forças ucranianas no território na última semana.
Há relatos de batalhas intensas entre as tropas até 20 km dentro da região de Kursk, no maior ataque de Kiev contra território soberano da Rússia desde o início da guerra no Leste Europeu, em fevereiro de 2022.
Até o início desta ofensiva, a guerra vinha sendo travada quase exclusivamente dentro das fronteiras da Ucrânia.
O Kremlin decretou estado de emergência na região de Kursk na quarta (7). A medida suspende provisoriamente alguns direitos, como o de ir e vir sem checagem, e facilita a movimentação de tropas.
Na sexta (9), o governo de Vladimir Putin anunciou o envio de mais tropas para conter a incursão, além de uma lista de equipamentos militares que incluía lançadores BM-21 Grad e caminhões Ural e Kamaz.
Putin denunciou uma “provocação em grande escala” por parte da Ucrânia.
Logo em seguida, na madrugada de sábado, medidas antiterrorismo foram implementadas em Kursk e em outras duas regiões que fazem fronteira com a Ucrânia: Belgorodo e Briansk.
O Comitê Antiterrorista da Rússia acusou a Ucrânia de uma “tentativa sem precedentes de desestabilizar a situação em várias regiões” do país e afirmou que as tropas de Kiev feriram civis e destruíram prédios residenciais.
Neste sábado (10), o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, reconheceu pela primeira vez que forças ucranianas estão lutando na região de Kursk.
Em uma mensagem de vídeo, ele disse que tinha discutido a operação com o principal comandante militar da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi.
“Hoje eu recebi diversos relatórios do nosso comandante-em-chefe Syrskyi sobre as linhas do front e sobre nossas ações para levar a guerra ao território do agressor”, disse o presidente. “Estou agradecido a cada unidade das forças de defesa por garantirem que a Ucrânia prove que pode restaurar a justiça e aplicar a pressão necessária contra o agressor”.
Zelenski vinha se mantendo em silêncio sobre as operações na Rússia. Ele havia se referido indiretamente à incursão em seu pronunciamento à nação na quinta (8): “A Rússia trouxe a guerra para o nosso país. Agora, deve sentir os seus efeitos”, disse na ocasião.
Talvez se preparando para uma retaliação, Kiev também anunciou a retirada de 20 mil pessoas de 28 diferentes localidades na região de Sumi, do outro lado da fronteira com Kursk.
A ação ucraniana é uma tentativa de Kiev de desviar atenção e recursos dos russos, que ameaçam romper defesas do país na região de Donetsk, no leste do país —1 das 4 que Putin anexou ilegalmente em 2022, depois da invasão do vizinho, cujo controle foi colocado pelo presidente russo como uma das condições para negociar a paz.
O Exército ucraniano informou uma redução no número de “confrontos” dentro da Ucrânia, um sinal de que a incursão na Rússia poderia estar servindo para aliviar a pressão em outros locais da linha da frente.
As batalhas em Kursk preocupam a AIEA, agência nuclear da ONU, uma vez que a região abriga uma usina atômica.
“Gostaria de fazer um apelo a todas as partes para que exerçam moderação máxima e evitem um acidente nuclear com potencial de graves consequências radiológicas”, afirmou o diretor-geral do órgão, Rafael Grossi, em comunicado, acrescentando que estava monitorando a situação pessoalmente junto a autoridades de ambos os países.
A agência nuclear russa, Rosatom, informou que a incursão ucraniana representava uma “ameaça direta” a uma usina localizada a menos de 50 km da zona de combate.