A Rússia anunciou nesta quarta (12) a ampliação de seu treino de ataque nuclear tático contra forças da Otan para a região do mar Báltico, onde a aliança militar liderada pelos Estados Unidos promove um megaexercício militar aeronaval até a semana que vem.
O movimento completa uma sequência de sinalizações e ameaças feitas por Moscou na área nuclear após Washington e seus aliados escalarem o apoio a Kiev contra a invasão de Vladimir Putin, autorizando os ucranianos a empregar armas ocidentais contra alvos em território russo, o que já começou.
“Pessoal da unidade de mísseis do Distrito Militar de Leningrado está praticando treinamento de tarefas de combate”, disse o Ministério da Defesa russo, em nota. A pasta divulgou um vídeo mostrando a movimentação de lançadores de mísseis balísticos com capacidade nuclear Iskander-M, operação em navios e treino em solo.
Para especialistas como o russo Pavel Podvig, do Instituto de Pesquisa em Desarmamento da ONU, em Genebra, chamou a atenção o emprego de forças navais, com o carregamento do míssil antinavio Moskit com “ogivas especiais” —bombas nucleares.
Significativo também é o fato de que o treino ocorre enquanto a Otan realiza o Baltops, sua manobra aeronaval no Báltico, realizada anualmente desde 1971. Neste ano, ela envolve a Suécia como membro da aliança pela primeira, embora Estocolmo já participasse como convidada havia uma década.
São 85 aviões, 50 navios e 9.000 militares. O Distrito Militar de Leningrado, baseado em São Petersburgo, cobre a região do Báltico, onde Moscou está espremida com a adesão de suecos e finlandeses à Otan. Putin tem forças lá e em Kaliningrado, exclave russo ensanduichado entre Polônia e Lituânia.
Com isso, os exercícios anunciados como uma resposta ao Ocidente por Putin chegam à sua terceira etapa, cobrindo toda a frente ocidental de um hipotético conflito com a Otan. Na semana passada, eles envolveram as forças do Distrito Militar Sul, que faz fronteira com a Ucrânia, e na terça (11) mobilizaram forças de Belarus.
A única aliada russa na Europa recebeu, no ano passado, um número incerto de ogivas táticas, que usualmente têm menor potência e são usadas contra objetivos militares limitados.
Além das três etapas do exercício, nos últimos dias houve a intrusão do espaço aéreo finlandês por um avião russo, a primeira desde que Helsinque entrou na Otan, treino com bombardeiros estratégicos com capacidade nuclear T-95 e Tu-22 perto a Noruega e a chegada, nesta quarta, de uma flotilha russa com mísseis hipersônicos (sem ogivas nucleares, em tese) a Cuba.
Para completar, ao dizer pela enésima vez que não via motivo para empregar armas nucleares devido à Guerra da Ucrânia, Putin afirmou na sexta (7) que talvez haja necessidade de mudar a doutrina do uso da bomba por parte da Rússia.
Pela regra atual, de 2020, armas nucleares só podem ser lançadas caso haja um ataque análogo ao território russo ou uma ameaça existencial ao Estado, mesmo por meios convencionais. Há pressão da linha-dura em Moscou para que a barra para a utilização seja baixada, algo comentado no Ocidente também.
Por ora, os EUA dizem não haver nenhum sinal de mudança, mas afirmam estar vigilantes. Washington e Moscou detêm quase 90% do arsenal nuclear do mundo, herança da rivalidade da Guerra Fria entre americanos e soviéticos.
Enquanto isso, armas ocidentais seguem sendo empregadas contra alvos russos. Nesta quarta, Kiev disse que destruiu três sistemas antiaéreos na Crimeia, anexada por Putin em 2014. Não há confirmação independente disso. Na mão contrária, os russos lançaram ataques com mísseis e drones nesta madrugada, sem relato de danos significativos.