Há 226 anos, nasceu um dos ministros dos negócios estrangeiros mais bem-sucedidos e importantes do Império Russo, a última pessoa a carregar o título de chanceler (a categoria mais alta do serviço civil na época), o príncipe Alexander Mikhailovich Gorchakov. Sua família tem uma história que data de mais de sete séculos, descendentes dos príncipes de Yaroslavl.
O seu pai, major-general Mikhail Alekseevich Gorchakov, mudou-se várias vezes devido ao serviço militar, de modo que o nascimento de seu filho ocorreu em Gapsala (hoje cidade estoniana de Haapsalu). O menino recebeu uma boa educação em casa e, graças a essa preparação, em 1811 conseguiu passar com brilho no vestibular para o recém-inaugurado Liceu Tsarskoye Selo. Junto com ele, os melhores representantes das famílias nobres da Rússia acabaram nesta instituição de ensino de maior prestígio do país.
Durante os seus anos de estudos, Gorchakov demonstrou excepcional sucesso acadêmico, formou-se no Liceu em primeiro lugar na lista e foi imediatamente designado para o serviço diplomático com o posto de conselheiro titular (Classe IX na Tabela de Posições, que correspondia à patente militar de capitão). Um dos mais importantes poetas da Rússia, Alexander Pushkin, foi colega da turma de Gorchakov, e depois eles levaram esta amizade pelas suas vidas inteiras.
A carreira de Gorchakov foi excepcionalmente longa e durou quase 70 anos: ele esteve no serviço público ativo de 1817 até sua morte em 1883. Gorchakov desempenhou diversas funções de apoio às delegações russas em congressos internacionais e atraiu a atenção de Alexandre 1º pela rapidez e clareza na apresentação de documentos diplomáticos. Durante o reinado de Nicolau 1º, Alexander Mikhailovich serviu como diplomata de carreira: foi secretário da embaixada russa em Londres e da missão russa em Roma.
Um lugar importante na sua biografia ocupa o período de serviço como embaixador em Viena. Nesta altura, houve um agravamento das relações internacionais —formou-se uma coligação de Inglaterra e França, hostil à Rússia, à qual se juntou o Império Otomano, e a Prússia e a Áustria pretendiam aderir. Houve uma ameaça de isolamento internacional do Império Russo e, em 1853, a coalizão iniciou uma guerra contra a Rússia.
As tropas inimigas desembarcaram na Crimeia, a frota inglesa entrou no mar Branco, a península de Kamchatka no extremo Oriente da Rússia foi atacada, e esquadrões hostis ameaçaram diretamente a capital, São Petersburgo. Nessas condições, o embaixador russo em Viena precisava reduzir a ameaça existente. Foi então que Gorchakov formulou a sua definição de diplomacia: “A diplomacia é a arte do possível”. Nessas circunstâncias, era possível a neutralização da Áustria-Hungria e da Prússia. O embaixador russo conseguiu garantir que ambos os Estados mantivessem a neutralidade armada e não participassem diretamente nas operações militares.
No final da guerra, foi Gorchakov encarregado de negociar a paz. O mundo revelou-se difícil e as atividades subsequentes de Gorchakov visaram principalmente superar os termos do Tratado de Paris, assinado em 1856. Para isso, porém, foi necessário reformar o próprio serviço diplomático russo, que ficou completamente perturbado durante o reinado de Nicolau 1º, sob a liderança inepta de Karl Nesselrode, a quem Gorchakov substituiu como ministro dos Negócios Estrangeiros. O próprio conde Nesselrode, entregando seus negócios, disse a Gorchakov que estava deixando o serviço diplomático em tal estado que “poderia simplesmente ser considerado desnecessário”.
Alexander Mikhailovich liderou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia por mais de 20 anos, colocando o serviço diplomático russo no nível de alta cultura profissional e organização exemplar.
Ao mesmo tempo, a principal tarefa à qual Gorchakov subordinou o desenvolvimento da diplomacia russa foi a conservação das forças e recursos do país, que havia entrado no período das Grandes Reformas de Alexandre 2º.
Durante a época do ministério de Gorchakov, a Rússia reforçou a sua posição internacional através do diálogo, utilizando a força armada apenas em casos excepcionais. Como, por exemplo, no caso da vitoriosa Guerra Russo-Turca de 1877-1878, que trouxe não só benefícios óbvios de política externa para a Rússia e glória para o armamento russo, mas também independência para os povos eslavos nos Balcãs.
Gorchakov também é conhecido por sua brilhante habilidade de executar manobras políticas e diplomáticas sutis, que ajudaram o Império Russo a manter as posições proeminentes no palco diplomático europeu e mundial da segunda parte do século 19.
Contudo, podemos afirmar que Alexander Gorchakov idealizou e consagrou os princípios mais importantes da diplomacia da Rússia: soberania, resiliência, agilidade. A frase “A Rússia não se amua. A Rússia concentra-se”, dita por ele em 1856, tornou-se um verdadeiro lema da nossa diplomacia, que orientou as atividades da política externa do Império Russo, União Soviética e que continua válido hoje.