A presidente do Peru, Dina Boluarte, 61, disse ter devolvido os relógios de luxo a Wilfredo Oscorima, governador e aliado político da mandatária.
Boluarte prestou esclarecimentos na sexta (5) ao Ministério Público acerca do caso “Rolexgate”, escândalo revelado pelo portal La Encerrona. O inquérito investiga suposto enriquecimento ilícito da mandatária com base na posse de relógios de luxo e joias não declarados.
Segundo Boluarte, a coleção de três relógios Rolex não são dela, e foram emprestados por Oscorima, amigo próximo dela.
O depoimento começou às 8h30 da manhã (10h30 de Brasília) e terminou após cinco horas e meia, quando Boluarte deixou a sede do Ministério Público sem falar com a imprensa.
Horas depois, a presidente se pronunciou, admitiu erro no caso dos relógios. “Devo reconhecer que foi um erro aceitar emprestados esses relógios do meu amigo Wilfredo Oscorima”, disse.
“Tudo o que foi dito é falso”, enfatizou em relação às joias Cartier e Van Cleef, atribuídas a ela pelo Ministério Público. Segundo Boluarte, suas joias são da marca Unique.
Os promotores pediram à Boluarte que apresentasse, se os tivesse, os objetos de valor não declarados como parte de seu patrimônio quando assumiu o cargo e que mostrasse os comprovantes de compra ou explicasse sua origem.
A investigação ocorre depois que a polícia revistou sua casa e o escritório presidencial em 30 de março em busca da suposta coleção, composta por pelo menos três relógios de luxo da marca Rolex, que a imprensa atribui a ela por meio de fotografias publicadas nos últimos dias.
Pequenos grupos de apoiadores e opositores de Boluarte se reuniram ao redor do prédio do Ministério Público enquanto ela prestava depoimento.
“Mulheres unidas, jamais serão vencidas!”, “Dina resiste, Dina não está sozinha”, foram os slogans de cerca de cinquenta manifestantes, a maioria mulheres, em apoio à presidente. Mas nem todos os gritos foram amigáveis. “Dina, a prisão te espera!”, clamava em voz alta outro pequeno grupo não muito distante.
O governo espera que o caso seja esclarecido com a versão oferecida por Boluarte e assim encerrar um escândalo que já provocou dois pedidos de impeachment por parte de parlamentares de esquerda que formam oposição à presidente. Ambos os pedidos foram rejeitados na quinta (4) pelo Parlamento, que tem maioria de direita.
O Ministério Público pediu explicações sobre a origem de depósitos bancários de um milhão de sóis peruanos (cerca de R$ 1,35 milhão) em suas contas durante o período em que atuou como ministra entre 2021 e 2022.
O MP também questionou Boluarte sobre “a posse de uma pulseira Cartier de US$ 56 mil (R$ 283 mil) e joias que teria usado em cerimônias que superam os US$ 500 mil (R$ 2,5 milhões)”, como anunciou o procurador-geral Juan Carlos Villena.
As investigações pelos supostos crimes de enriquecimento ilícito e omissão de declaração em documentos começaram em 18 de março, após reportagem publicada pelo site La Encerrona.
O veículo revelou que Boluarte usou vários relógios Rolex em atividades oficiais desde que assumiu como vice-presidente do governo do ex-presidente de esquerda Pedro Castillo e ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social em 2021.
Com Boluarte, são seis os presidentes envolvidos em denúncias de corrupção desde o início do século 21. Desde 2016, o Peru teve seis mandatários.
O Ministério Público pode investigá-la por até oito meses. Se decidir acusá-la, terá que esperar o término de seu mandato em julho de 2026 para levá-la a julgamento, conforme estabelece a Constituição peruana.
Boluarte, que descartou renunciar, denuncia um “ataque e assédio sistemático” com o objetivo de enfraquecer seu governo.
Se ela renunciar, o presidente do Congresso assumirá o cargo e deverá convocar eleições gerais em seis meses.
Boluarte assumiu a Presidência em dezembro de 2022, substituindo o destituído Castillo.
O Ministério Público já a investiga desde 2023 pelos supostos crimes de “genocídio, homicídio qualificado e lesões graves”, pela morte de mais de 50 civis “durante os protestos sociais entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023” que pediam sua renúncia e antecipação das eleições.
O escândalo do Rolexgate estourou em um momento de baixa popularidade da presidente, já que menos de 10% a apoiam.