As relações interpessoais estão em constante mudança e, há cerca de uma década, nos vemos na era das comunicações via redes sociais. A quantidade de pessoas usando essas plataformas no mundo todo cresce a cada ano que passa, ultrapassando os 5 bilhões de usuários no início de 2024 – de acordo com um relatório da Kepios. Esse número expressivo representa um aumento de 5% ante 2023, ano no qual as ferramentas receberam 266 milhões de novos users – ou seja, uma média de 8,4 entrantes por segundo.
Os bilhões de perfis presentes no universo das redes sociais podem ser vistos como oportunidades de diversos pontos de vista, pois eles são potenciais clientes, amigos, conexões com interesses em comum ou até colegas de trabalho. Entretanto, existe um outro lado da moeda do qual não podemos nos esquecer: esses indivíduos também são possíveis vítimas de golpes cibernéticos – outra métrica que registra altas crescentes, bem como evolução de complexidade, a cada ano que passa.
No Brasil, por exemplo, um dos tipos mais comuns de golpes são os financeiros – principalmente aqueles que prometem lucro rápido e taxas altas de rendimento. Eles afetam muitos cidadãos anualmente e podem ter graves consequências – às vezes até irreversíveis – para a vida das famílias.
Uma prova disso foi o achado de um estudo realizado no ano passado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (ANBIMA), que revelou que quase 50% das pessoas cairiam em golpes cibernéticos dessa natureza.
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Como se a nossa suscetibilidade a ataques cibernéticos não fosse suficientemente alarmante, os golpes estão ficando cada vez mais difíceis de detectar, principalmente se tratando de pessoas vulneráveis que não têm conhecimento sobre o assunto, e ganhando escalabilidade.
Um relatório recente da Sophos, empresa que lidero no Brasil, mostrou que criminosos estão unindo as duas coisas, investimentos – particularmente em criptomoedas – e redes sociais, para implementar os chamados golpes sha zhu pan em um modelo “As-a-Service”, por meio da venda de pacotes de golpes na dark web, expandindo a atuação para novos países – incluindo o Brasil.
Esses kits foram originados do crime organizado chinês e fornecem os componentes técnicos necessários para implementar um esquema específico de ataque chamado ‘poupança DeFi’. Como funciona: os criminosos apresentam “oportunidades” conservadoras de investimento, parecidas com as do mercado financeiro, na maioria das vezes para pessoas que não têm entendimento sobre criptomoedas.
As vítimas só precisam conectar as carteiras de criptoativos a um perfil de corretagem, com a expectativa de que receberão juros significativos em cima do investimento. Na realidade, eles estão adicionando essas carteiras a um pool fraudulento de negociação de criptomoedas, que os golpistas esvaziam logo em seguida.
Tal tipo de golpe é deveras antigo, ao qual a Sophos teve os primeiros registros em 2020, e foi apelidado de “CryptoRom”, pois eles envolviam a conexão com vítimas em potencial via aplicativos de namoro e, em seguida, o convencimento a baixar apps fraudulentos de comércio de criptoativos.
Para os usuários de iOS, inclusive, esses ataques exigiam que as vítimas baixassem um app alternativo bem elaborado que permitia que os criminosos contornassem a segurança dos dispositivos e acessassem as carteiras. A empresa também descobriu que golpistas estavam usando Inteligência Artificial (IA) generativa para ajudar nas interações com os alvos vulneráveis.
Embora seja muito assustador pensar que temos que ficar com um pé atrás com qualquer relacionamento online – em redes de namoro ou não –, a boa notícia para nós, especialistas brasileiros em cibersegurança, é que o nosso país ainda não é tão desenvolvido quando o assunto é investimento em cripto comparado a outros locais. Segundo dados da Receita Federal, fechamos o ano de 2023 com 4 milhões de pessoas negociando ativos digitais como Bitcoin e Etherium – o que representa cerca de 2% da população.
Independentemente do ritmo de adoção das criptos aqui, existem algumas medidas que podem ser tomadas para evitar cair em golpes como esses. As pessoas têm de ser mais céticas em relação a estranhos que entram em contato por meio de redes sociais como o Facebook, especialmente se eles quiserem transferir rapidamente a conversa para um aplicativo de mensagens privadas como o WhatsApp (dica que também se aplica a apps de namoro).
Sempre desconfie de qualquer esquema de ganho rápido de dinheiro ou oportunidade de investimento em criptomoedas que promete grandes retornos em um curto período de tempo, e tente se familiarizar com essas armadilhas e táticas de golpes românticos e de investimentos.
O Brasil realmente fica um pouco de fora desse cenário de golpes de cripto, entretanto, temos nossos próprios tipos de ataques locais que criminosos tentam implementar todos os dias, como os que envolvem PIX, telemarketing, aproximação de cartão de crédito e débito e, mais recentemente, os com foco em investimentos em jogos virtuais de aposta.
Não dê chance para o azar: desconfie de golpes financeiros
O interesse por jogos é cultural no nosso País. Crescemos vendo nossos parentes se divertindo com esse tipo de atividade, independentemente da modalidade. E uma das versões atuais – e problemáticas – que vemos dessa predisposição são os jogos de azar online. O tema é tão amplamente divulgado que até grandes nomes do marketing de influência apoiaram as diversas possibilidades de apostas disponíveis hoje.
Ilegais no Brasil, os prejuízos foram tantos em alguns estados que a polícia iniciou uma investigação para levar os criadores desses jogos a julgamento. Inclusive, no ano passado, foi aprovado na Câmara um projeto de lei que regulamenta a taxação de apostas esportivas online – incluindo os cassinos virtuais. Apesar de ter sido mantida a proibição dos caça-níqueis, essa nova modalidade pode abrir espaço para a legalização de jogos como os bingos virtuais e o Tigrinho.
Ainda é incerto se esses games continuarão populares entre os brasileiros, entretanto, como especialista, meu papel é alertar a população sobre como proteger seu dinheiro. Seja uma indicação de um novo contato das redes sociais ou um jogo, não existe lucro fácil, sem um estudo e tempo de preparo. O segredo é sempre ser cético, checar a veracidade dos fatos e não enviar quantias se não houver 100% de certeza sobre a seriedade da transação.