Este abril marca o sexto mês após a ofensiva lançada pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro, seguida por operações de resposta do Exército israelense que soma mais de 33 mil mortes.
Na mira da reconstrução, as Nações Unidas e parceiros consideram demasiado cedo para dizer quanto custará o processo, uma vez que a destruição continua. Para já, o Banco Mundial calcula um valor em torno de US$ 18,5 bilhões, mas esse total cobriria os danos ocorridos até ao final de janeiro deste ano.
Atividade econômica
Nesta semana, a instituição estimou que 1 milhão de palestinos estejam sem casa, perto de 90% das instalações de saúde foram afetadas e as escolas foram destruídas ou transformadas em locais para acolher pessoas sem abrigo.
Ainda pairam incertezas do parâmetro de sociedade de uma era pós-conflito, mas agências da ONU já definem estratégias tendo em vista esse cenário.
A economista Aya Jaafar da Organização Internacional do Trabalho, OIT, destaca que a Faixa Gaza vivenciou uma “destruição quase completa da atividade econômica em todos os setores”.
Acima de 200 mil empregos foram perdidos na região, o equivalente a 90% da força de trabalho existente antes do conflito. As perdas de rendimento atingiram US$ 4,1 milhões diários, marcando uma queda de 80% no Produto Interno Bruto.
Os cálculos correspondentes aos valores ganhos com a venda de todos os bens e serviços juntam-se as perdas no rendimento de palestinos que recebiam salários pelo trabalho que faziam em Israel, mas agora vivem desempregados em Gaza.
Agricultura e o sector da manufatura e de serviço
A indústria de construção, tida como uma das mais importantes da região, caiu em cerca de 96% . Quedas acompanharam outras áreas produtivas importantes, incluindo a agricultura e o setor da manufatura e de serviços.
As poucas que empresas ainda estão em funcionamento são geralmente locais de pequena escala, incluindo padarias, empreendimentos relacionados com a alimentação e algumas farmácias.
De acordo com as estimativas da OIT, um quarto das pessoas que perderam a vida em Gaza eram homens em idade produtiva. Geralmente, as mulheres da região não trabalham.
Uma das maiores preocupações atuais é o acesso aos alimentos desde os primeiros dias do conflito. O especialista da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, AbdelHakim El Waer, contou que “muitas pessoas no norte enfrentam uma situação grave de desnutrição, fome, com parte da população classificada como sendo atingida pela fome.”
Terras agrícolas destruídas
Antes do início dos confrontos, Gaza tinha um robusto setor agrícola e pesqueiro, tanto para exportação como para consumo local.
Com autossuficiência parcial na produção de frutas e vegetais, a produção entrou em colapso em grande parte devido aos bombardeios observados em todo o enclave, onde quase metade das terras agrícolas foram destruídas.
Segundo El Waer, a cadeia de abastecimento das importações do setor privado praticamente faliu.
Já o especialista da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, Rami Alazzeh, sublinhou que este momento ainda é prematuro para focar na reconstrução devido a ocorrência de ataques.
Dezenas de bilhões de dólares em investimentos
De acordo com o perito, “ainda serão necessárias décadas e a vontade da comunidade internacional para financiar dezenas de bilhões de dólares em investimentos para reconstruir Gaza”.
A reconstrução de habitações será mais dispendiosa, ao absorver 72% dos custos globais, seguida pela infraestrutura de serviços públicos, como a água, saúde e educação. A estimativa exclui o auxílio humanitário para manter pessoas sobrevivendo durante os próximos anos.
O Serviço de Ação contra as Minas da ONU ressalta que pode levar anos para desativar bombas mortíferas com potencial de explodir, que devem ser eliminadas.
Na hipótese de iniciar a reconstrução logo após o fim dos confrontos, com o levantamento do bloqueio israelense em vigor há 18 anos, e um possível crescimento de 10% nos próximos anos, Gaza demoraria até 2035 para que “voltasse ao ponto em que estava antes do bloqueio de 2006”.