As preocupações continuam crescendo sobre o impacto de um possível surto de poliomielite em Gaza, em meio a condições sanitárias desastrosas e falta de acesso a cuidados de saúde.
O alerta foi feito nesta terça-feira pela Organização Mundial da Saúde, OMS, que apelou às autoridades israelenses para aumentarem o número de equipes médicas autorizadas a entrar no enclave.
Doenças podem matar mais que ferimentos
Em conversa com jornalistas, o chefe da equipe de emergências de saúde da OMS no Território Palestino Ocupado disse que é preciso garantir que as equipes que coletam amostras estejam protegidas enquanto se movem pela Faixa de Gaza para fazer a investigação epidemiológica.
Ayadil Saparbekov afirmou estar “extremamente preocupado” com a disseminação da pólio e outras doenças transmissíveis, que podem levar mais pessoas a morrer de doenças evitáveis do que de ferimentos relacionados à guerra.
Falando de Jerusalém, o especialista lembrou que a hepatite A já foi confirmada no ano passado na Faixa de Gaza. Segundo ele, com o sistema de saúde paralisado, falta de água e saneamento, além da falta de acesso da população aos serviços de saúde, a disseminação da pólio pode se tornar “uma situação muito ruim”.
Investigação epidemiológica
Até agora, o vírus foi encontrado apenas em amostras de esgoto e ninguém em Gaza foi identificado com paralisia induzida pela poliomielite. Um novo sequenciamento genômico feito pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA indicou que o vírus está ligado a uma cepa que estava circulando no Egito durante o segundo semestre de 2023, disse a OMS.
Saparbekov explicou que as amostras humanas ainda não foram coletadas, pois há falta de equipamentos e de capacidade laboratorial para testá-las. Uma equipe da OMS chegará em Gaza na quinta-feira com até 50 kits de coleta de amostras. Os agentes enviarão as amostras para um laboratório na Jordânia para uma análise mais aprofundada.
O representante da OMS disse que, juntamente com parceiros, a agência está conduzindo uma investigação epidemiológica e avaliação de risco para identificar a fonte do vírus, que está com alta probabilidade de se espalhar dentro de Gaza e internacionalmente.
De acordo com ele, com base nos resultados da avaliação será preparado um conjunto de recomendações, incluindo, potencialmente, “a necessidade de uma campanha de vacinação em massa”.
Entrada de vacinas no enclave
Saparbekov sublinhou que, dada a situação da água, saneamento e higiene em Gaza, será “muito difícil” para a população seguir os conselhos sobre lavar as mãos e beber água potável.
O especialista ressaltou que “infelizmente, a maioria que vive em abrigos com um banheiro para 600 pessoas e talvez 1,52 litro de água por dia, definitivamente não conseguirá seguir as recomendações”.
O representante da agência de saúde da ONU também insistiu que, se uma campanha de vacinação em massa for decidida, será responsabilidade de Israel facilitar a chegada de vacinas ao enclave.
Ele acrescentou que a OMS “até agora recebeu garantias de que isso será feito”.
Equipamentos médicos destruídos
Sobre a devastação do sistema de saúde de Gaza, Saparbekov disse que menos da metade das unidades básicas de saúde estão operacionais e apenas 16 dos 36 hospitais do enclave estão “parcialmente funcionais”.
As unidades ativas fornecem apenas serviços mínimos de saúde, como triagem de feridos. Na segunda-feira, a OMS e parceiros realizaram uma missão ao hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, onde estão reabilitando o departamento ambulatorial, destruído em março de 2024, e convertendo-o em um departamento de emergência.
O representante da OMS disse que, com exceção de uma máquina de raio-x, “todos os equipamentos hospitalares, como máquinas de ventilação, máquinas de anestesia, equipamentos de centro cirúrgico infelizmente foram destruídos e precisam ser substituídos”.